Uma vez perguntaram ao presidente de uma das maiores empresas americanas o que ele achava do próprio salário. A resposta foi a seguinte: "ganho mais do que preciso e menos do que mereço." Isso poderia valer para a maioria dos publicitários. Tendo em vista a média dos ordenados nacionais, os publicitários ganham muito, sim senhor. Mas se ficarmos pelo grau de especialização da nossa actividade, pelo tempo médio de carreira, pelo volume de horas de trabalho e de stress acumulado, os salários nem são nada de especial. Já foi diferente. Até há bem pouco tempo, havia um grupo de publicitários muito bem remunerado, seguido de outro grupo remunerado acima da média. Juntos, representavam cerca de 30% do mercado. Poderia afirmar que os restantes profissionais ganhavam razoavelmente para os níveis do país (claro que sempre houve quem ganhasse mal, mas isso não era a regra, era quando muito casos reflexos de má gestão numa ou noutra empresa, azar pessoal de alguns ou meramente incompetência localizada). Aliás, o problema sempre foi o nível salarial do país. Acreditem os publicitários ou não, são poucas as profissões que garantem em Portugal um salário líquido de 1.500 euros. Isso sem sequer exigir um diploma universitário ou que se entre na empresa em horas decentes. Nem mesmo nos clientes isso é verdade. Até onde sei, um ordenado de cerca de 2.500 euros líquidos sempre foi uma coisa já ao nível de alta direcção. Nas agências não era bem por aí. Ainda havia alguma escassez de talentos e as agências ainda eram, pasmem!, remuneradas pelos seus serviços. Depois foi o que se viu. A publicidade tornou-se numa profissão da moda, milhares de novos publicitários foram atirados ao mercado, os clientes descobriram fórmulas de fazer as agências trabalhar para eles de forma quase gratuita, a economia do país entrou em crise, tudo isso e mais algumas coisas, mais ou menos quase ao mesmo tempo. Hoje, se um jovem me pergunta se vale a pena seguir esta profissão, respondo que não. De um ponto de vista frio e calculista (no sentido de saber fazer cálculos) mais vale seguir uma carreira na restauração. Pior é que esta realidade incomoda profundamente quem já está no mercado, a ponto de vivermos numa espécie de realidade virtual. Temos (todos) dificuldades de admitir que o glamour desta actividade foi-se (e que, provavelmente, já não volta). Para atrapalhar mais ainda, quem já estava no mercado criou expectativas que já não se coadunam com a realidade. Hoje paga-se menos do que ontem, mas o que fazer com o crédito habitação entretanto adquirido? O que fazer com o colégio dos filhos? O que fazer com aquela assinatura da Archive ou da Wallpaper? E com as tradicionais férias na neve e o Agosto no Algarve? Entre necessidades concretas e desejos fúteis, o publicitário vai vendo o seu mundinho desmoronar. Cai de pé, fingindo não perceber. Tendo dificuldade de assumir que a coisa vai mal. Este é um negócio de imagem. Vive de publicitar o sonho, inclusive o próprio. Não é à toa que os anunciantes continuam a acreditar que pagam mais do que deviam. Vai chegar o dia em que os anúncios vão ser ainda mais baratos. Feitos pelo senhor da padaria. Ou como diria o meu Tio Olavo: "O dinheiro não traz a felicidade. Mas paga o salário do paquete(boy) que tem de ir buscá-la ao aeroporto."
(os publicitários ganham muito, do edson athayde*, ainda em março de 2006)
*vice-presidente de criação da ogilvy portugal.
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