1. Em um filme de Mazzaropi, aquele comediante paulista que criou um tipo caipira e que há muitos anos fez um grande sucesso no cinema, o velho calhambeque do herói, ele mesmo, perde os freios em uma descida e bate em um carro novinho em folha, que estava estacionado.
Antes que o dono deste veículo se refizesse do susto, Mazzaropi, naquele jeito esquisito de andar, desce do calhambeque e dá uma tremenda bronca. Aí, olha para câmera, cara cheia de malícia, e diz: Tem de gritar primeiro. Quem grita primeiro tem sempre razão.
2. Dia 29 de setembro do ano passado um avião da Gol colidiu com o jato Legacy, no maior acidente aéreo da história,onde dezenas de pessoas morreram. Apesar da repercussão e do tamanho da tragédia, a imagem da empresa permaneceu irretocável.
Em dezembro, um apagão aéreo provocou o caos nos aeroportos do país. O presidente da República, esse que nunca sabe de nada, ficou finalmente sabendo depois de alguns dias da confusão instalada, e decretou: a culpa é da Tam.
Como bom aprendiz do Mazzaropi, gritou primeiro.
O jornalista Vitório Medioli, em brilhante artigo publicado dia 26 dezembro no jornal O Tempo, de Belo Horizonte, observou, a propósito:
Lula preferiu tratar o caso como “problema dos outros” e caiu em erro ao jogar pedras na primeira brecha que se abriu nas companhias aéreas. Não percebeu que o problema das companhias é decorrente da inépcia do governo.Mas se tem uma coisa que esse presidente sabe, é gritar primeiro para botar a culpa nos outros.
3. E quem eram os outros? A Tam.
Por que? Excesso de overbooking praticado pela empresa, acusou o presidente.
Dia 30, a Anac – Agência Nacional de Aviação Civil, contradisse o presidente:não foi o overbooking, reconheceu.
Ok, mas e agora? A imagem da empresa já está em cacos.
4. A pergunta seguinte que não quer se calar é: porque a Gol saiu ilesa, e a Tam, não?
Claro que existem várias razões, mas uma delas salta aos olhos: comunicação. Enquanto a Gol se preocupou em manter informados os parentes dos acidentados e a própria opinião pública, emitindo, inclusive, vários comunicados por dia, a Tam se calou. E quando se manifestou fê-lo timidamente, com uma intensidade desproporcional à avalanche de acusações dos passageiros e do governo.
Nos dia 31 de dezembro,o Edson Zenóbio nos deu uma pista, no jornal Estado de Minas, ao informar que a Tam extinguiu em setembro sua diretoria de marketing. Não deve ter sido por contenção de despesas. Só que agora, nesse apagão aéreo, o setor está fazendo uma falta danada.
No dia 14 deste janeiro, o jornal O Estado de S. Paulo informou que a Tam contratou pesquisa para avaliar o tamanho do estrago. Se for só para apurar isso, não precisa – ele foi enorme. A Tam demorou demais para acordar.
5. Fica a lição para as empresas – todas as empresas – que não têm se preocupado com o problema da comunicação. As que fazem assim estão cometendo um erro terrível, porque nenhuma delas – independente do ramo de atividade e do sistema de segurança – está livre de um desvio de rota. Não hoje, na era da internet, da velocidade da comunicação.
Esse quantia que empresas “economizam” desculpando-se da comunicação, pode se transformar em um enorme rombo, em alguns casos irrecuperável.
acidentes aéreos, do eloy simões.
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