Participante do Bar Virtual (um grupo de publicitários cariocas apreciadores de uma boa convivência etílico-social) e pó-de-arroz doente, o diretor de marketing do McDonald's, Mauro Multedo, escreveu, no final de 2006, uma interessante mensagem no grupo que o Virtual mantém no Yahoo Groups, em meio a um debate sobre o porquê de as agências de propaganda perderem seus clientes. Na análise do publicitário, o mercado brasileiro está vivendo uma situação parecida com a do nosso futebol. "E se o Fluminense fosse uma agência?", pergunta ele.Como acredito que o texto seja de interesse também de quem não freqüenta o Bar Virtual, pedi a autorização do Mauro para trazer as suas opiniões para os leitores da Janela. Como ele topou, aí vai. Divirtam-se. (Marcio Ehrlich)
Agências ganham e perdem clientes do mesmo jeito há muitas décadas. Não mudou muito. E não vou me meter a falar do mercado americano onde se ganha muito dinheiro, e onde se produz boa, muito boa, e medíocre propaganda. No entanto, há uma tendência perversa à marginalização no mercado brasileiro.
Pegando o exemplo do Fluminense este ano, que mudou de técnico seis vezes, tinha um elenco de merda, sem compromisso com o resultado e desmotivado, e uma diretoria incompetente, que perdeu três campeonatos ao longo do ano (Carioca, Sul Americana e Brasileiro) sem nenhum brilho: E se o Fluminense fosse uma Agência, quantos Clientes teria perdido ao longo de três anos, para fechar um período razoável?
Provavelmente mais que três!
Se o Fluminense dependesse da renda no estádio, tomaria providências de médio prazo para evitar crises e manter a torcida motivada. Mas o Fluminense ganha direitos por participar dos campeonatos da TV, tem um patrocinador estável, e vende passes de jogadores formados na base a cada furo de caixa.
Se fosse uma Agência, eu diria que não está vivendo das campanhas apresentadas: vive de BV em BV, fees por headcount dedicado à conta e como estes fees são negociados em contrato, quanto mais baratos os salários (ou melhor dizendo, a graninha dos recibos de micro empresa, sem direitos, sem valor trabalhista), mais grana todo mês para o dono da Agência, que não parece lá muito comprometido a manter o negócio por muito tempo.
E o elenco muda todo ano, seis vezes por ano o supervisor da conta, e a diretoria se esconde atrás de campanhas para prospects. O Fluminense muda quase todo o elenco praticamente todo ano. Jogadores são emprestados, contratos de seis meses. Ou seja, se o time vai pra segunda divisão, para eles tudo bem! E o amor à camisa, respeito à torcida, trabalho com auto-respeito e dignidade também desaparecem.
Se o Fluminense fosse uma Agência, eu diria que os profissionais da conta estariam descomprometidos com os resultados da Agência e da Conta, procurando outro clube para jogar na próxima temporada ou, quem sabe, virarem empresários, donos de seu próprio passe, abrindo mais uma micro-agência, com um faturamentozinho igual ao seu salariozinho, com um futuro tão duvidoso quanto sua possibilidade de crescer dentro da sua atual agência.
Como a torcida do Fluminense vai se acostumando com isso, puxa!, dá um alívio quando o time não vai pra segunda divisão, que é quase como ganhar o campeonato.
Se a torcida do Fluminense fosse um Cliente, seria como o mercado está hoje: Clientes felizes por terem conseguido gastar seu orçamento de marketing sem nenhum brilho, sem nenhum compromisso que não fosse manter seus empregos, pondo campanhas para proteger as suas vendas, e comemorando que a empresa não fechou suas portas, e faturando os dividendos de uma expansãozinha da economia do país, sem perceber que os jogos do seu time são cada vez mais tristes e sem motivação alguma. Que bom que a empresa não foi este ano para a segunda divisão.
Aí acontece o seguinte: o teu filho começa a torcer para o Barcelona, ou o Milan, ou o Real Madrid ou Chelsea, ou o Inter de Milão, ou o Liverpool, ou o Lyon.....porque estes clubes não trabalham com a agência do Fluminense, os jogadores não estão jogando pensando nos próximos seis meses, porque os salários são pagos em dia, porque as instalações não são de fundos, sem número, porque as relações são profissionais, porque a torcida cobra e se faz respeitar.
Grandes contas e grandes agências não trocam de técnico todo ano, constróem relações por décadas (é só ver!), e ganham e perdem contas como o Rivelino, o Zico, o Falcão, o Raí, o Ronaldinho Gaúcho, o Romário, o Ronaldo, o Paulo César, o Robinho mas depois de terem trabalhado, construído uma imagem e uma carreira, e não porque a diretoria das contas ou das agências fosse incompetente. Escolhas, apenas novas oportunidades, crescimento.
Numa estrutura de mercado marginal tudo ocorre. Mas a estrutura não é apenas o mercado marginal.
As grandes agências podem ter anos melhores ou piores, os Clientes também. Mas a Coca-Cola, a Ambev, o Itaú , a Sony, a Nike, a Volkswagen, o McDonald's, a Unilever, e muitas outras camisas que respeitam torcida, mercado e marca estão com agências há décadas, ganhando e perdendo campeonatos, mas formando sempre grandes times e jogando para ganhar.
Senão vira Fluminense, time, diretoria e torcida.
Agora, publicitários do Virtual, flamenguistas, corintianos, vascaínos, tricolores de todas as regiões, palmeirenses, santistas, botafoguenses, cruzeirenses, atleticanos do norte, do sul e de Minas, quando quiserem olhar para o futuro do mercado basta dar uma olhada no playstation dos seus filhos (ou netos, em alguns casos) e vejam com que time eles estão jogando no Fifa ou no eleven não sei o quê... Duvido que seja com algum dos nossos times brasileiros.
Os times que estão produzindo esta propaganda de merda no Brasil de hoje a longo prazo torcem apenas para não ir para a segunda divisão!
(e se o Fluminense fosse uma agência, do mauro multedo, para o janela publicitária)
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