quarta-feira, agosto 09, 2006

recife de todos nós. nós quem? cara-pálida

campanhas de enaltecimento de cidades visando reforçar ou recuperar o sentimento de auto-estima da população tendem não só a ser politicamente incorretas, como desonestas em seus princípios de visão, atuação e veiculação.

a não tão tênue linha entre alegoria e realidade costuma ser usada para costurar a boca dos profissionais que nela se envolvem, uma vez que é de se imaginar não inocentemente, tamanha história da carochinha, capitaneada por escada global(lívia falcão).

que sensibilidade de marketing ou visão estratégica ou tática tal, urdiria uma campanha(chôcha) falando das benesses de viver no recife, no momento em que tubarões comem gente nas praias cartão postal; que gente é morta em penca também no bairro cartão postal da cidade, sem falar no cenário trash(seria isto uma face da pernambucaneidade?) da prostituição feminina, masculina, homosseuxual, travesti, e infantil, que começa a compor o cenários dos pontos, a partir das 17 horas, como se ainda não bastasse o que acontece no centro da cidade que hoje de tão periférico, copia suas cenas de roubo, assasinato, gangsterismo e outros verbetes da literatura policial? cuja campanha, renegou as imagens dos programas diários do meio-dia e começo da noite, onde o sangue escorre à rodo. que miserabilidade é esta que já agora esconde o corte apesar de tanto sangue?

recife hoje nem precisa de pcc. disputamos em trinca, pau a pau, o campeonato de cidade mais violenta do brasil. cidade onde além dos esgotos correrem a céu aberto das avenidas as ruelas, onde o lixo não pode ser mais varrido para debaixo dos tapetes, pontes e viadutos. só falta mesmo a queima dos ônibus, já que a eliminação de policiais já ocorre, como também ocorre a morte de civis pelas mãos de policiais, e onde os presídios e prisões exibem o mesmo três por quatro dos presídios paulistas apesar de até agora só terem chegado a tona a ponta do pavio.

exaltar o recife é preciso, dirão os acacianos de plantão. mas a exaltação tem de ser feita com o acinte, com o achincalhe, com a violência à inteligência e sensibilidade comum, que percebem que esta cidade exaltada nos termos veiculados simplesmente não existe. sequer é utópica, tampouco existirá enquanto quem nos governa permite a produção de propaganda assim. não seria melhor exaltá-lo na prática de atos que limpassem a imagem diária que uma campanha pífia e acima de tudo em nada escorreita não consegue sequer arranhar, neste caso encobrir ou sequer remendar?

recife de todo nós? assim-assim publicitário, cara-pálida?
tivessem a mínima decência e o conceito de cidadania assim não tão côto, e campanha outra teríamos. mas com as gangues, os tubarões, os travestis, a prostituição, o esgoto, que habita e corre a céu aberto nas agências e assim temos o que temos.

dá gosto morar no recife. diz a campanha. gosto de quê: de sangue, lágrima, pólvora, merda? ou gosto de mentira e só?
como recifense, sinto-me mais do que duplamente lesado: sinto-me violentado pelos que se dizem meus iguais. iguais em quê cara-pálidas? minha tribo sou eu.

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