terça-feira, setembro 02, 2008

não tem pra ninguém, ninguém merece, sobra pro zé ninguém ou ninguém é de ninguém?


“bom o suficiente é bom o suficiente se os seus padrões são altos o suficiente” steve frykholm.

a crise de redatores anda braba(a de caráter ainda mais). copy então, só no livro acima e os do mohhalen. ainda assim, depois de uma década de “gritos visuais”, volta-se a discutir a importância do texto ou da falta dele para a propaganda (comunicação off e on line).

a julgar pelo conteúdo de alguns textos, que sequer podem ser classificados de sofríveis, tamanho o uso de passagens por lugares comuns, chavões, ideias feitas, analogias descascadas, estereótipos chinfrins e por aí vai. enfim: tudo aquilo que não se espera no texto de um copy produzido por profissionais. fica difícil escolher um mau exemplo tamanha a profusão deles. mas vamos a este que se segue, pela dita importância dos envolvidos e pela imagem que ambos cultivam ou aparentam ter, apesar da bota não bater com a perdigota quando se aperta o crivo.

“os pernambucanos não tiram os olhos da globo.

a globo nordeste é líder no coração dos pernambucanos. essa liderança foi conquistada com a qualidade da sua programação e o respeito pelo telespectador. sempre procurando oferecer o melhor e investindo na programação local, na globo nordeste você encontra o melhor do jornalismo, entretenimento, esporte e cultura, tudo com o olhar de quem é daqui.

é por isso que podemos dizer que a globo nordeste é líder em gênero, numero e grau.

não tem pra ninguém. liderança você vê por aqui.
globo nordeste. pernambuco no coração."

o texto com assinatura da decana ítalo bianchi já não espanta, tamanha decadência frente aos padrões de qualidade que já impôs ao mercado. marca de referencia reconhecida nacionalmente no passado, para alguns ainda o é. mas com um texto destes(e não só) duvida-se que uma agência mesmo em operação-padrão, permita que algo assim vá à rua. afinal, não tem pra ninguém é arremate de texto que, por maior que seja o cochilo de uma direção de criação que assine isto, nos faz duvidar, com otimismo, que não hajam talentos capazes de produzir um texto com algo mais do que conseguiria o estagiário do jurídico e ou secretariado. então porque raio não produzem? a começar da própria direção?

algo leva a crer que cada vez mais aposta-se no desvio que se implantou no mercado: aquele tipo de agência com a mentalidade que produz trabalhos de encomenda para refletores(os famigerados prêmios) e os de segunda linha para o dia a dia(vê-se isso por exemplo no que o grupo nove, outra decana, faz para o shopping boa vista, outro mal exemplo de tudo, principalmente no impresso e eletrônico). se isso é feito propositadamente, porque tais clientes não valem a pena do ponto de vista criativo ou financeiro, ou por desleixo, não é o busílis. por quê em qualquer dos casos o resultado é a eleição da mediocridade como princípio de troca ao soldo barato o que descaracteriza por completo o compromisso de uma agência para com os clientes e acima de tudo com o seu trabalho: que é oferecer diferenciação criativa qualificada não importa o preço pago.

cabe repetir: não que se duvide da capacidade de ambas em produzirem peças de qualidade(raríssimas cada vez mais). o que se duvida – mas não tanto, já que é assinado – é que tais “griffes” da propaganda botem na rua algo que nem como rough se admitiria em agencias que prezassem um patamar mínimo de qualidade, de acordo com os princípios do “ resist the usual”, “change the rules” ou o muito citado e nada empregado disruption. como diria o bardo, eu, se escrevesse textos iguais ao deles seria apedrejado. como não, pedra na moleira por outros toques.

aliás, a crise do texto é tão grande, que até blogs com o padrão de qualidade infobox são saudados como muito bons por ensinarem como é feito(o mal feito) que é adulado como perfeito por especimens desavisados ou gozadores de outras glosas bajulativas.

enfim, como forma e conteúdo estão intimamente ligados(não estou me referindo ao leiautes horrorosos - conheces o diretor de arte pelo que faz no all type) onde fica o tal respeito ao consumidor? e a preocupação em oferecer o melhor? como anuncia a globo, no momento em que comenta-se (e foi publicado) que sentindo sua liderança ameaçada por transmissões do futebol de "terceira linha"( no caso jogos do santa cruz) impediu via pagamento ou propostas aos mandantes de campo para que negassem a transmissão dos mesmos pela tv universitária - que vinha obtendo bons índices - caracterizando um desrespeito tão ou mais grave do que produz na sua própria programação ao impedir a livre expressão de outra. combatendo-a com grana e não talento. o que significa dizer que na na hora do rush vale a prática da contra-mão incluindo o guide-line que lustra os profissionais do ano.

ora, se até o "nada substitui o talento" foi substituído por outros expedientes para evitar que pernambucanos dispostos a tirar os olhos da globo o façam, desde que tenham opção,
como exigir isso das agências?(se bem que isto é auto-exigência) se o próprio cliente o substitui por outros conteúdos que ditam uma programação cada vez mais medíocre. neste caso, a sua comunicação deve também substituir o talento? até que ponto? e se o talento deva ser substituído? a deontologia invariavelmente cai por tal contexto também?
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Now playing: Cafe Tacuba - El outsider
via FoxyTunes

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