bjarke rink, ex-diretor de criação da extinta propeg-pe nos anos 80, certa vez sentenciou: “publicitário tem mania de querer dar jeito no mundo”. referia-se, entre outras interpretações, ao arrivismo inserido no bojo das pieguices incrustadas em anúncios “pró-bono”. ou seja: aqueles anúncios feitos para causas sociais, com o fito mal disfarçado de atrair holofotes sobre a agencia, dupla, trinca, produtora que os fez.
agora toma forma um movimento para a criação de um leão humanitário, ou seja, um prêmio em cannes para causas aparentemente sem causa própria, a não ser a humanidade. demasiadamente humano, diria o bardo. há que se duvidar que não passe de mais um pulhice do mercado, artifício que não é de hoje empregado. aliás, já há nota plantada em coluna social local, assinalando o grupo nove como única agência do nordeste engajada no movimento. o que demonstra a “esperteza” do tal sentimento humanitário acrescido de sotaque. entre a coisa e a causa, decididamente há gente que quer ganhar leão fazendo do espírito - que não se consubstancia em palanque, muito menos em busca de prêmio - meio de vida. incapaz que é, de ganhar um leão com trabalho à vera. e isto justamente num momento em que contraditoriamente até se discute se cannes é assim tão importante no frigir dos ovos, apesar do próprio mercado fazer do mercado dos prêmios ovos de ouro.
o que se passa, curto e grosso, é que o artifício de fazer anúncios(fantasmas na sua maioria) para criancinhas africanas, cachorros abandonados, mulheres agredidas, chineses perseguidos, instituições e ongs de araque ou não, já não dá mais camisa a ninguém. ou seja: não se desentoca leão com esta vara. jurados – muitos deles premiados com leões fantasmas conseguidos desta forma – já não caem mais nesta. significa que atualmente pró-bono não cola mais, nem pra short-list. procedimento que enseja, menos uma moralização e mais uma salvaguarda para não ressuscitar fantasmas do passado. daí o movimento da sua formalização “noutros termos”. é bom lembrar que até já se cogitou uma categoria de cannes para fantasma.
resumindo e concluindo: se há um leão humanitário em você, faça-o rugir no seu trabalho; em suas açoês no dia-à-dia, na luta contra a irresponsabilidade social que grassa em toda sociedade, evitando que a publicidade não reflita e amplie isto, pelo menos da maneira deslavada como este episódios onde a retórica humanitária se vaza escudada em prêmios.
pode parecer incongruente, contraditório e até impossível. mas dá para ser um publicitário decente em meio a tudo isto que vemos, sabemos que existe, mas não comentamos, para além da conversa jogada fora em mesa de bar, o que é de um anti-humanitarismo a toda prova.
decência não dá, nem deve, prêmio a ninguém. até porque se fosse criado um leão “decentuário” o que ia haver de fantasmas não ia caber no paladiun.
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