Já que é Sete de Setembro, vamos celebrar. Vamos celebrar a estupidez humana, a estupidez de todas as nações. O meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões.
Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e televisão. Vamos celebrar nosso governo e nosso Estado que não é Nação. Celebrar a juventude sem escolas, as crianças mortas. Celebrar nossa desunião.
Vamos celebrar Eros e Tanatos, Persephone e Hades. Vamos celebrar nossa tristeza. Vamos celebrar nossa vaidade.
Vamos comemorar como idiotas, a cada fevereiro e feriado, todos os mortos nas estradas. Os mortos por falta de hospitais.
Vamos celebrar nossa Justiça, a ganância e a difamação. Vamos celebrar os preconceitos, o voto dos analfabetos. Comemorar a água podre e todos os impostos, queimadas, mentiras e seqüestros.
Nosso castelo de cartas marcadas; o trabalho escravo; nosso pequeno universo. Toda a hipocrisia e toda a afetação. Todo roubo e toda indiferença. Vamos celebrar epidemias. É a festa da torcida campeã.
Vamos celebrar a fome. Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar. Vamos alimentar o que é maldade. Vamos machucar o coração.
Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos. Tudo que é gratuito e feio. Tudo o que é normal. Vamos cantar juntos o hino nacional (a lágrima é verdadeira). Vamos celebrar nossa saudade, comemorar a nossa solidão.
Vamos festejar a inveja, a intolerância, a incompreensão. Vamos festejar a violência e esquecer a “nossa gente”, que trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada.
Vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom senso. Nosso descaso por educação. Vamos celebrar o horror de tudo isto com festa, velório e caixão. Tá tudo morto e enterrado agora, já que também podemos celebrar a estupidez de quem cantou essa canção.
(com exceção da primeira frase, o texto é de Renato Russo (* 1960 / + 1996), e foi escrito em 1993. a publicação, muito apropriada, foi do gonzalo pereira, no acontecendo aqui, do dia 05 de setembro, sob o título é sete de setembro, vamos celebrar)
nesta segunda : somos todos derrotados ou na veia : o soro da morte de raul ou seria o sono mortal do cochilo?
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