terça-feira, setembro 30, 2008

do asterix para os sacis-pererês

Bom, já faz quase três meses que estou trabalhando aqui na McCann Bruxelas.

Das várias coisas diferentes, duas me chamaram bastante a atenção: a formação dos diretores de arte / redatores e o processo de trabalho na criação.

Primeiro, a formação.

Quando falei que no Brasil muitos diretores de arte fizeram faculdade de Comunicação, o pessoal daqui não entendeu direito: "Como assim, os DC não estudaram artes plásticas? Então provavelmente eles devem ter tido uma experiência anterior como desenhistas, pintores, grafiteiros".

Eu respondi que talvez, já que não poderia responder por todos, mas que o padrão, nos ùltimos 5, 10 anos, tem sido formação em Comunicação.

Aqui em Bruxelas, essa formação (Comunicação & Marketing) é mais para o pessoal que trabalha no atendimento de agências ou no marketing de empresas. Eles realmente acharam estranho e eu fiquei pensando nas nossas lacunas.

Talvez eu seja apenas mais um brasileiro deslumbrado com a Europa, mas para mim parece lógico. Uma formação menos abrangente e mais focada na propaganda tem a ver com receitas, tem a ver com caminhos já percorridos.

Uma formação mais abrangente, como por exemplo artes plasticas, teria a ver com a criação de novos conceitos, de novos caminhos.

Agora, o processo da criação. Por aqui, faz-se muito, mas muito mesmo, raf. E a apresentação para o cliente é feita, na maioria das vezes, em layouts manchados.

É fácil de entender as vantagens. Por exemplo, numa campanha com prazo de 5 dias, são 4 dias e meio de criação e meio dia para a execução!

A apresentação é focada na idéia e só depois de aprovada a idéia com o cliente discute-se o design da criação. Nesse ponto, é o diretor de arte e um designer que trabalham juntos (seria o equivalente aos nossos assistentes, mas com formação e papel dentro da agência completamente diferentes).

É lógico que não é sempre assim, algumas idéias realmente precisam de layouts fotográficos, mas, na maioria das vezes, funciona assim.

Fiquei pensando no nosso processo de trabalho, nos nossos lindos layouts, nos nossos assistentes e diretores de arte com habilidades incríveis no photoshop e no tempo que tudo isso toma.

Por alguns motivo, a nossa indústria se configurou assim, o nosso processo de criação e a urgência de vender as idéias para o cliente se misturaram com a necessidade de mostrar essa idéia da forma mais bem acabada possível, acreditando que isso convença o cliente de que a idéia é boa.

E o pior é que, no fim, acabamos educando nosso clientes a avaliar as idéias dentro desses mesmos parâmetros.

Olha, sou um diretor de arte que tem muito prazer em layoutar, em deixar o layout lindo e coerente, mas, sinceramente, será que realmente precisamos de tantas horas/homem trabalhando pra vender uma boa idéia?

Muitos criativos aqui do Clube têm bem mais experiência do que eu para emitir opinião sobre os caminhos de nossa indústria. Mas acho que poderíamos pensar um pouco mais na nossa formação profissional e nos nossos processos.

É isso. Joguem pedras à vontade.
Um abraço aos amigos.
(do alê silveira, da mccann bruxelas para o passaporte do ccsp)

enquanto isso por aqui agências procuram diretores de arte sênior, com um mínino(sic) de um ano de experiência, exigindo domínios de programas de edição de imagem. waal! isto é que é poção mágica

se considerarmos que estes "diretores de arte" são formados em faculdades com um curriculo mais cu impossível - zero de informação conceitual-histórico-estético- ministrado por "profissionais" com um histórico onde só se salva o empedernido(sequer são schollars), não consigo imaginar maior avacalhação com a profissão, que por isso mesmo está como está: mais em baixa do que raiz de obá.

um mercado que confunde photoshopeiro, ou seja: o sujeito com habilidades de fazer sopa com diretor de arte, só pode ter mesmo clientes ou pau-mandados que julgam idéias por estes parâmetros. já que todos eles tem em casa ou no vizinho, filho, primo ou sobrinha do jardinheiro, que se diz diretor de arte com base nestes predicados: " a marca da minha empresa foi o primo da minha tia que fez - o outdoor também - e o resultado sabemos qual é.

estes diretores de arte - praga gafanhota no mercado - resultantes da normatização dos cursos de publicidade que standartizou linguagens(escusado dizer que estes diretores de arte não pensam, portanto não conceituam: apenas dominam truques) o que é a pior coisa que poderia acontecer à profissão, uma vez que a standartização gera uma levada de diretores de arte que só podem oferecer o truque, recebendo por igual justiça salários trucados que quando transformados em numerários resultam em alguns trocados que não dão para comprar sequer uma livro básico de história da arte, vital para quem quer ser diretor de arte.

diretor de arte não é artista. mas se não tem conhecimento das linguagens utilizadas o que se aprende estudando história da arte, não passará de um papagaio(sequer aprenderá a copiar) produzindo piadinhas de gosto duvidoso, as tais sacadinhas criativas que vemos por ai. é por isso que o sujeito faz faculdade e depois faz miami ad school e o que mais vier e não consegue fazer melhor do que diretores de arte que tiveram uma formação que incluia começar na profissão aprendendo a lavar pincel(sim, um diretor de arte dificilmente alcança a senioridade antes dos oito anos de labuta).

mas este ciclo não interessa as faculdades - é muito fácil(e lucrativo) montar um curso com o nível dos professores e do ensino(absolutamente equivocado) que temos por aqui - o que por sua vez é muito cômodo para as agências que tem mão de obra barata para usar como carne pra canhão. uma vez instalado o círculo vicioso cristaliza-se já que que o mercado perdeu o passo e o falo, e agora deu a dizer que agora temos propaganda de resultados e não mais propaganda em sua fase romântica.

bom o resultado, é esta merda toda que vemos por ai. até em anuário tá difícil de ver peças que anteriormente víamos em jornais, revistas, televisão aos bons bocados.

hegarty dizia que a idéia e não a técnica que realmente importavam. mas não em nosso mercado. e tome no cachimbo do pererê.

Now playing: Bulletproof Messenger - Crucial Line via FoxyTunes

2 comentários:

Anônimo disse...

Apesar de um pouco, e em alguns casos muito, agressivo, congratulo de tuas opiniões há algum tempo.
Já tinha lido este texto antes, e pensei não igual a você, mas dentro do raciocínio. Infelizmente, a publicidade se tornou uma área onde questionar faz mal. Aceitamos como o bom o que é fácil. Falta critério não porque as pessoas são mal educadas, mas porque, também, falta mercado.

celso muniz disse...

meu caro ou cara leitura xxx:

quem escreve pela escola conflitante sempre soa agressivo. ainda mais quando o assunto é publicidade.

os publicitários, não é o meu caso - mesmo quando destilam veneno - são muito melífluos e falsamente delicados, para além de extremamente "éticos", e pateticamente sensíveis.

o estilo da escrita faz jus ao nome do blog, que algumas vezes ferve: não poderia ser diferente, como anuncia sua auto-sinopse.

de resto procuramos manter o respeito a verdade, aos fatos e as pessoas, mesmo quando elas não merecem, inclusive falcutando o acesso ao comentário sem censura.

isto posto, nós somos o mercado. ele reflete o que é o pensamento e a obra da maioria que se diz profissional, no trabalho e no "senso comum" das opiniões manifestadas. a grande questão é que banalizou-se de tal forma a profissão que o convívio empobreceu, e junto com ele o salário, para não falar da qualidade do trabalho.

falta formação, porque a universidade da maneira como funciona hoje, não passa de um equívoco manipulado de forma a fornecer um ensino acrítico, e nisto muito bem formulado. eu não tenho dúvidas de que o mercado era melhor sem as faculdades, uma vez que tinhamos formação plural, e por isto mesmo muito mais rica e desvirtuadora do lugar-comum.

como se pode dar o título de bacharel em publicidade a alguém que vai ser diretor de arte e sequer estudou tipografia básica, assim como gestalt e semiótica? e de redator a quem não lê, pelo menos os clássicos?(quem não lê nunca vai escrever o que preste).

não quero puxar a farinha pro angú da minha geração, mas enquanto se confundir deformação com formação, estamos num beco sem saída.

não se fala tanto em keep simple? no caso é dominar os fundamentos da profissão que certamente não frequentam os cursos de publicidade. ser curioso, estudar, praticar, aprender com quem realmente faz melhor - cacete! a internet está ai mesmo para se pesquisar, os anuários antigos também.e, claro, com muita coisa nova que não vem da argentina, não senhor, mas por exemplo da europa de leste, asia e áfrica.

o grande barato desta profissão é que tudo o que você aprende pode ser usado nela. mas deve-se evitar, decididamente, o que não presta.