sábado, julho 22, 2006

a voz do morto vivo

Eu, redator, confesso: morro de inveja de quem vai ao 1º Encontro de Latino-americano de Redação Publicitária de Parati. Não tanto pela programação, que não é lá uma Brastemp (www.alaprio.com.br). Tem coquetel, exposição de anúncios (espero que com textos), lançamento de livro em que o autor ou autores não são citados, palestras com debate sem citar os palestrantes, homenagens e entrega de prêmios. Tudo bem. Um passeio por Parati compensa. E com folga.
Brincadeiras (de redator) à parte, a iniciativa da ALAP e dos Clubes de Criação do Rio e São Paulo é mais do que oportuna. É, no mínimo, curiosa. Acreditem, o redator publicitário já foi dado como morto e enterrado numa campanha do Festival Mundial de Publicidade de Gramado - de 2001, se já não me falha o hd. O referido vt comparava o redator a coisas obsoletas como o papel carbono.
Confesso também que o comercial me deixou chocado não só por descobrir que eu havia fenecido, mas porque a afirmação vinha de uma instituição mundialmente reconhecida. Apesar da respeitabilidade do anunciante, não dava pra concordar com a própria morte anunciada, a não ser que ela fosse redigida por um Gabriel Garcia Marquez. Soava mais como uma ameaça. Ou um atentado.
O comercial em questão gerou até uma certa polêmica, um pequeno bate-boca em que o veredito foi reforçado: no mundo da imagem e da direção de arte, o homem das palavras estaria com os seus dias contados. Poucos dias. Minutos, segundos, talvez. Só tem uma coisa: pelo texto do comercial, todo ele muito bem produzido, ficava evidente a participação de um redator. E bom. Traidor.
É por essas e outras que eu, redator, continuo aqui me confessando: tenho curiosidade de saber o que os colegas-defuntos vão falar e ouvir durante os dois dias desse encontro histórico. Vítimas do mundo esmagador das imagens, qual será o texto desses homens de palavras?
Com tantas certezas pairando no ar poluído e imediatamente sumindo sem nem deixar rastro, a supremacia da imagem na comunicação é uma das que continua por aí . O momento é mais do que oportuno para atirar palavras sobre o assunto. Estou fazendo a minha parte.
Outra coisa que sou forçado a confessar é que sinto falta de presenças, digamos, mais significativas no evento. Redatores famosos e outros nem tanto, mas igualmente ótimos poderiam estar entre os palestrantes. E escritores, também. Muito embora redação publicitária não seja literatura, um escritor talvez emprestasse um olhar novo, de fora, um olhar de primo rico. Luiz Fernando Verissimo, que já foi redator publicitário, e que certa feita escreveu que textos publicitários quando tentam ser literários viram, no máximo, má literatura. Mas como ele não é de falar, quem sabe o João Ubaldo Ribeiro. Ele é bom de palavra escrita, falada e debochada. E já pensaram em Saramago tergiversando à lusitana sobre a redação de reclames? Imperdível. Quem sabe até o Amyr Klink, que mora nas redondezas e é um mestre em ousadia, planejamento e criatividade aplicada a aventuras marítimas.
O pessoal que organizou o evento também poderia ter pensado em um slogan, afinal, o encontro é de fazedores de slogans. Tenho uma sugestão: Uma imagem vale por mil palavras; diga isso sem elas. O ponto e vírgula é pra dar um ar obsoleto à frase do (genial) Millôr, que provoca: diga que uma imagem vale por mil palavras usando apenas imagens.
É por isso que eu, redator, confesso: gostaria de estar lá para testemunhar o texto do encontro sendo redigido. Numa máquina de escrever e com papel carbono. Com tanta gente de palavra junto e Parati ao fundo, o clima não está para velório.

papel carbono, do andré martins

bom, eu não concordo com o andré sobre ir a tal encontro, como já postado aqui. compre bons livros e leia. leia poetas, eles é que sabem de poiésis(criação de linguagem) leia sobre o básico sobre semiótica e semântica. o dinheiro que você economiza não indo a tal encontro dá de sobra, e ainda para ler os tais livros num bom café. por outro lado, concordo plenamente com o andré sobre o mito plantado já nos anos 90 sobre a obsolescência do redator. como também já postado aqui(tô ficando repetitivo) imagem não vende nada. o que vende é estatisticamente desprezível(está lá no copy criativo do roberto menna barreto, suspeito porque ele é redator?. propaganda sem texto, principalmente quando o head-line é conceitual, é o que se vê. sacadinhas amorais de imagem - tem gente que ainda confunde operador de máquina com diretor de arte. e diretor de arte com criativo. e criativo com diretor de arte - gelatinosas e fracas como galinhas de granja.
e por falar em copy criativo no meio da semana vamos falar de escola de redatores e colocar o pescoço na guilhotina. afiem as lâminas.

Um comentário:

André Amaral disse...

Celso, eu e um colega montamos um blog para cobrir o Encontro de Redação. Está no endereço: redatores.blogspot.com. A idéia é transmitir vídeos, fotos e postar textos sobre os assuntos que estão sendo discutidos. Espero que goste.

Grande abraço,
André Amaral