" o humor é uma característica excelsa. ainda mais no futebol e na publicidade. o drible é um exercício do humor sobre a violência. oxigênio para mentes extenuadas, no tenso jogo do tempo que vivemos "
no futebol como na publicidade não existem campeões morais. joga-se conforme regras pré-determinadas. vence quem tem talento. e usa e ousa, mas não abusa, da criativade. ninguém joga para perder.
as derrotas existem, porém. são parte da essência do futebol. da sua mística. do esplendor e do calvário das pequenas ou grandes equipas. em qualquer continente, só se tornam desmoralizantes quando tentam explicar os falhanços com falhanços ainda maiores, principalmente ao nível da comunicação. a dignidade é uma senhora respeitável. não faz comunicação apregoando a integridade dos seus valores sobre o que destoou da sua imagem. tão pouco lança mão de vitupérios quando é pegada no contra-pé. tem a sabedoria de absorver o impacto sem perder a compostura. sabe que o mundo é uma bola.
o humor é uma característica excelsa. ainda mais no futebol e na publicidade. o drible é um exercício do humor sobre a violência. osigênio para mentes extenuadas, no tenso jogo do tempo que vivemos. faz a (arqui)bancada delirar com seu feitio irreverente. desequilibra jogos de vida ou morte. quase nos convence de que, também nós, podemos driblar o inevitável no lance final de nossas vidas. bergson, em " o riso", filosofa e decifra o sistema do poder desconstrutivo-construtivo do riso. na publicidade é igual. milhões de de anúncios estão em campo. poucos emocionam como um golo. e o golo(gol), definiu, roberto dinamite, ex-atacante do vasco da gama(o time dos portugueses no rio de janeiro) é como um orgasmo. como é um golo, o anúncio que dribla a mediocridade apesar " da consciência da desimportância da publicidade na vida das pessoas".
expulsamos de campo um jogador que consegue arrasar a defesa adversária, deixando estatelada no chão, por sua habilidade? o drible é tão-somente a humilhação do adversário? ou meio de chegada à meta, que é o golo? enxovalhamos, com impropérios e estultícies, quem aproveito a oportunidade, criada pelo próprio adversário, ao escancarar sua defesa? ilibados profissionais, passa-se a usar métodos rasteiros ? ou esta é simplesmente mais uma afirmação infeliz, que baixou o nível à perspectiva de quem ficou de rastos com o drible que levou ?
no futebol, na publicidade, os velhos do restelo costumam apelar com ranzizices e golpes baixos. tentativa malsã de arrebentar com os joelhos dos craques. é típico. o pior, é que nem pareciam falar de um assunto onde as claques(torcidas)se espicaçavam até se fartar, com saídas sublimes. saídas que nem o melhor publicitário do mundo conseguiria criar. o que, convenhamos, é totalmente mais saudável, e revigorante, do que andar à porrada. seja na bancada ou nos debates da tv.
pedro batalha(torpedro) e joão matado(zangado) são a dupla da área no momento. publicitários do porto, sim senhor. dominam a diferença entre o que é paródia e o que é parolo. fazem uma tabelinha com habilidade e intimidade tal, como só os meninos simples e abençoados têm com o futebol. assim fizemos uma campanha, privilegiando o rádio, este craque tão injustiçado. simplesmente um spot. nada mais do que isso. mais foi um golo que valeu por sete. sem qualquer impedimento legal, ético ou moral. foi lícito e legítimo. acima de tudo, profissional.
bilhetes vendidos. a torcida agradece e pede bis. pedro batalha, joão matado e eu, continuamos na área. prontos a aproveitar outra oportunidade.
porque, como já dizia nenen prancha(o tio olavo do relvado*) no futebol - e na publicidade - quem não faz, leva. e nos apetece fazer bem mais do que fazemos.
(* relvado, gramado. tio olavo é um personagem criado pelo publicitário edson athayde que sábia e peraltamente destila suas máximas).
o texto acima foi publicado em 24 de dezembro de 1999, no semanário especializado sobre publicidade portuguesa meios&publicidade, enquanto diretor criativo da opal publicidade. deveu-se ao fato do spot que criamos para o futebol clube do porto(do bom e velho jardel e deco, entre outros) para a venda de bilhetes antecipados para a copa européia dos campeões.
com uma veiculação de apenas dois dias numa rádio, e pelo serviço de auto-falantes do estádio, não só cumpriu as metas de venda, como foi notícia por vários dias, em todos os jornais de portugal( e não só os de esportes) rádios e programas de debastes, pela irreverência e criatividade ao glosarmos em forma de paródia a declaração do então capitão joão pinto, do benfica, que leu um comunicado à torcida, após seu time perder de 7x0 para o celta de vigo, o que foi um desastre e de um constrangimento, pela ação em sí e pelos termos usados.
e, já agora, puxando brasa para minha sardinha, a experiência de ganhar um leão, de criar uma campanha cujo clain(bordão) vai para a boca do povo, talvez não se compare a experiência de se "parar um país", principalmente de um país que não é nosso, despertando ainda em outros, pedidos de veiculação daquilo que você criou, debaixo de enorme pressão para fazer o feijão com arroz, no caso "pataniscas de bacalhau". esta, eu já tive pelo menos por umas três vezes. as outras, quem sabe há tempos?
p.s: não conseguindo arrebentar meus joelhos, o mercado nordestino em boa parte é refratário ao meu trabalho. mas só porque meia dúzia de pernas de pau levaram uns dribles daqueles? e, principalmente, pelo fato de eu nunca ter apelado às convulsões? não justificaria tal. afinal, o que se espera de um atacante: não é fazer gols? ora pois, pois, é o que faço, onde jogo. que campeonato é este que só tem time jogando para o empate ou para cumprir tabela, repleto de artilheiros do gol contra para camisaria dos resultados combinados?
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