quarta-feira, junho 20, 2007

uma estupidez sem tamanho: prólogo.

Há pouco mais de uma semana, passando os olhos sobre algumas chamadas no Blue Bus, me deparei com uma que me atraiu, tanto quanto me afastou da leitura. Algo sobre uma polêmica criada em torno do novo posicionamento do Guaraná Antártica: É O Que É!
Mas antes de nos debruçar sobre esse assunto, já que citei gratuitamente o Blue Bus, aproveito para celebrar esse site por manter em sua equipe de colaboradores o grande Paulo Peres. Grande cultura, grande conhecimento cinematográfico, grande papo. Aliás, meu caro Julio Hungria, seja lá o que você esteja pagando para o Paulo, garanto-lhe que é pouco.
Mas voltemos ao assunto que mobiliza nossas atenções: a campanha de reposicionamento do mais tradicional refrigerante do Brasil.

Tudo começou numa noite qualquer, quando, depois de assistir à segunda parte da Sessão de Descarrego, entra o break comercial e o primeiro filme veiculado é, justamente, o da nova safra do guaraná Antártica. Mas só agora eu sei que era, pois no momento em que se iniciou, juro que pensei que se tratasse de mais uma peça da campanha do Terra Qual É A Sua?
E por que achei isso?
Por duas razões bastante óbvias.
A primeira é a trilha, em minha opinião, extremamente similar, na intenção, a do Terra. A segunda, a sequência clipada de cenas, também bastante parecida com a do portal espanhol. O filtro verde que cobre as imagens, logra distanciar-se das ações do Terra e garante uma unidade entre esse filme e as campanhas anteriores produzidas pela Duda.
Tecnicamente falando, o comercial em si, é a sobreposição de pirotecnias e truques bonitos, mas que não contam uma história.
Pelo menos, no caso desse comercial.
Não quero parecer saudosista, mas o filme pontual do Guaraná Antártica para a Copa, refiro-me ao já quase antológico comercial do Maradona, da mesma agência, dá de camisa 10 nesse que lança o novo conceito.
Num passado remoto, o Guaraná Antártica colocou no ar campanhas que ajudaram a compor a história de nossa cultura popular. Quem tem mais de quarenta, irá lembrar dos maravilhosos filmes do Boko Moko, com o singular personagem Teobaldo. Mais recentemente, Pipoca com Guaraná, Pizza com Guaraná, filmes que marcaram fortemente um período.
Por que, então, dar um passo atrás no que já se havia conquistado, criando uma peça tão facilmente confundível com qualquer outra baseada em musiquinha e dinâmica de vídeo clip?
Porque quando o cliente nos coloca contra a parede, quando o freguês inventa pesquisas e pré-testes, para alguns criativos só lhes resta recorrer à uma escola muito mais próspera do que a ESPM, do que a Miami Ad School, do que algum curso extra-departamental na ECA, na Estácio de Sá, na UFRJ, na SMP&B..... não, essa não é uma escola.
Pensando bem, sim é, mas que ensinava outras disciplinas.
Estou falando da Escola Baiana De Se Fazer Comerciais.
Aquela que pode ser vista nos filmes da Vale do Rio Doce, nas velhas campanhas de Maluf, Pitta e Lula e, nos últimos anos, nos comerciais do Terra,
a melhor expressão desse padrão de se fazer propaganda.
Mas o que é, então, esse padrão Terra / Escola Baiana de se fazer comerciais?
Respondo: uma ligeira sequência de cenas clipadas, montadas pelo estagiário da ilha de edição, acompanhadas por uma trilha tão pegajosa quanto horripilante e animadas por um apresentador meio rapper, meio DJ/VJ, com vitiligo.
Quem não sabe o que é vitiligo, sugiro assistir à Mesa Redonda da Gazeta, aos domingos, e observar as mãos do infame Chico Lang.
Ou sejam, se alguns clientes se julgam muito espertos, tentando nos dar nós com seus malditos pré-testes, nossa memória musical e visual possui mais recursos do que a desses desagradáveis espécimes que nos obrigam a parecer imbecis diante de suas piadinhas à nível de churrasco.
Para que nenhum palhaço venha me dizer que estou sendo preconceituosa, lhes informo que, numa das primeiras vezes em que estive em Cannes, lembro de haver lido um jornalzinho do Festival que publicava uma matéria sobre a escola de se criar títulos de Minneapolis. Títulos que começavam com a palavra Unfortunately. Para os jovens que acreditam que o maior jogador de futebol de todos os tempos é Ronaldinho Gaúcho, os mesmos que vêem genialidade em Silvio Matos e Roberto Justus, recordo-lhes que nos anos 80, a agência que encantava o mundo da propaganda chamava Fallon Mcelligott, sediada no gélido Estado de Minnesota, a meio caminho do Canadá. Criada por Tom Mcelligott, um dos maiores redatores de todos os tempos, ao lado de Bob Levenson, Ed Mccabe e Washington Olivetto, a Fallon Mcelligott surgiu naturalmente depois que o projeto de frilas de Tom e Ron Anderson, a Lunch Hour (Hora do Almoço), começou a adquirir uma dimensão que não mais podia ser administrada só das 12 às 14. No princípio, a agência se chamou Fallon Mcelligott Rice, de Nancy Rice, uma brilhante diretora de arte da cidade que, mais tarde se desligaria da empresa, fundando a sua própria, a Rice & Rice, com seu esposo e uma trajetória efêmera. Nessa época, à partir de 83, Minneapolis começou a revelar um número surpreendente de agências e profissionais excepcionalmente criativos: a Campbell Mithun, a Carmichael Lynch, a Martin Williams, o escritório local da Bozell, Rod Kilpatrick, Luke Sullivan, Bob Barrie, Pat Burnham, Bob Brihn, Tom Lichtenheld, Mike Fazende e tantos outros que levaram seus talentos e experiências para os cinqüenta estados restantes e, até para a Inglaterra, caso de Mike Lescarbeau que, durante um tempo, atuou como redator sênior na Leagas Delaney.
Essas empresas, diretores de arte e redatores, ajudaram a formar uma escola de propaganda, representada pela incrível originalidade e durabilidade de seu trabalho reconhecido até hoje como tão relevante para a propaganda, como a revolução criativa liderada pela DDB, de Bill Bernbach, na passagem da década de 50 para a de 60. Como disse anteriormente, uma das particularidades dessa escola, era o fato de que, num determinado momento, várias dessas agências criaram títulos iniciados pela palavra Infelizmente.
Fartamente aprovada durante o decorrer dos anos 80, pelo menos em Minneapolis, certamente, uma palavra que causaria horror às nossas gordas moderadoras de pesquisa e diretores de marketing que, com certeza, diriam que Infelizmente é uma expressão carregada de muito negativismo.
Conheço uma meia dúzia de diretores de criação, planejamento e atendimento, que baniriam a palavra de seu dicionário prático.
Assim como a de Minneapolis, a baiana é uma escola.
Se não, vejamos: quem apresentou ao Brasil o genro de Chico Buarque de Holanda?
E Daniela Mercury?
Ivete Sangalo?
A axé music nos comerciais de cerveja?
A timbalada?
Quem substituiu o conceito e introduziu esse arremedo de samba praticado naqueles féretros que seguem o trio elétrico conduzido por figurantes de trem fantasma como Araketu, por exemplo?
A vóvis nada entende de MPB, mas sabe que uma das grandes críticas dos sambistas cariocas aos seus simulacros de Salvador, é que, ao contrário destes, a música executada nos carnavais do Rio, além de ser natural do país, é tocada com instrumentos acústicos, milhares deles, por acaso.
Pessoalmente, considero uma afronta pessoal testemunhar a redução, tanto física, como conceitualmente, do instrumento que um dia foi tocado por imortais como Jimi Hendrix, Steve Ray Vaughn, Mick Ronson, pelas mãos fraudulentas de Armandinho e seu chorinho elétrico.
Prefiro assistir, um milhão de vezes, ao comercial de Pepeu Gomes para o HairSink, do que ser ultrajado pela utilização charlatanesca do nobre instrumento.
Se a idéia era popularizar uma manifestação musical tão regional como o axé, melhor teria sido para os ouvidos e a educação das pessoas que fizessem o mesmo com as modas de viola de artistas como Helena Meirelles.
Mas o crime contra a humanidade já foi cometido.
A micareta é uma infeliz realidade em muitas cidades do país, animadas por delinqüentes culturais como essa franquia de esfihas, Jammil e Uma Noites.
E o Carna Facul? Uma pavorosa invenção de universitários mauricinhos paulistanos que, preconceituosamente, não querem se misturar com o populacho. Na opinião da véiota, tendo em vista tamanha barbárie, os preceitos defendidos com unhas e dentes pelo Conar, estão mais do que desatualizados. Axé music e comerciais com mais do que três pessoas, exceto no caso de shoppings e externas, deveriam ser proibidos e, no caso, de violação da legislação, punidos com o rigor da Lei de Segurança Nacional. Celebridades cantando em comerciais, ou dando depoimento sobre assuntos que não lhes correspondem, como recomendação de remédios, ou pastas de dente, deveriam ser submetidas aos justos quinze segundos de nazismo. Os anunciantes que obrigarem as agências a escrever roteiros com essas características, seriam enviados ao degredo eterno em Itabuna. O mesmo tratamento implacável vale para dentistas e médicos que digam algo na linha de Esse É Creme Dental Que Eu Uso, ou, Nesse Eu Confio! Idiotas pagos para dizer Esse É o Creme Dental Que O Meu Dentista Usa, ou frases similares, seriam castigados com a pena mais dura de todas: 30 anos de entrevista com João Dória, sob supervisão de Sergio Waib.
Não irei perder meu tempo para afirmar o que é evidente: uma marca de refrigerante como o Guaraná Antártica, não poderia jamais reutilizar o slogan clássico da Coca Cola: Isso É Que É!
Não me alongarei nesse ponto.
Prefiro falar de como se comportam nossos anunciantes e os meios jornalísticos que cobrem a propaganda, a quem prefiro chamar de as maiores empresas de assessoria de empresa da nação.
Se a Escola Baiana De Se Fazer Comerciais segue firme e forte é porque a mesma grita geral que se ouve toda vez que um político comete um deslize, não se reproduz quando um publicitário importante é pego num ato criminoso.
Sim, Duda Mendonça foi preso, tendo passado uma madrugada em cana, depois de sua detenção numa rinha de galos no Rio, ao lado de um asqueroso vereador do PT local, com sobrenome de combo do Habib´s.
Honestamente, pouco me importam os acontecimentos que culminaram em sua ida e de sua sócia, Gilmar Fernandes, à CPI.
Aparentemente, conviver com a corrupção e licitações arranjadas está em nosso DNA.
O que não dá para engolir é um sujeito que, anos atrás, concede uma entrevista à Veja e reconhece que é um entusiasta e defensor da briga de galo, colecionando cerca de 400 deles.
Já não estaria na hora de adotarmos a tourada?
Se não bastasse ter admitido a prática do ilícito, Duda foi flagrado no ato.
Poucas frases são tão verdadeiras quanto dizer que todo criminoso sempre volta à cena do crime.
Briga de galo quer dizer tortura de animais.
Em qualquer país minimamente decente, Duda teria pedido as contas e perdido as contas.
Pelo menos, as mais evidentes como Guaraná Antártica e Petrobrás.
Por muito menos do que isso, o todo poderoso Paul Wolfowitz, ex-Presidente do Banco Mundial, foi obrigado a renunciar.
Mas não no Brasil.
O clamor que se escuta quando o Presidente do Senado é suspeito de receber contribuições de amigos, não se ouve quando Duda pede para o então Ministro da Justiça que livre sua cara do flagrante.
Não lembro de ter lido uma linha sequer, nos meios que cobrem nossa feliz atividade, manifestando sua repulsa.
Contudo, o que mais impressiona, é a desfaçatez dos anunciantes em preservarem o boa gente que passa as tardes em Itapuã, comendo caranguejo e ouvindo Aquarela de Toquinho.
Perdoem-me o exagero, mas o silêncio desses anunciantes atendidos pela Duda, é tão ensurdecedor quanto aquele que cerca pequenos empresários, comerciantes e prefeitos de cidades do interior onde se comprovou abuso de menores e prostituição infantil com patrocínio municipal.
Os anunciantes, isto é, os mantenedores dessas contas, jamais se pronunciaram sobre o processo contra o infrator.
Se o que aconteceu tivesse ocorrido numa França governada por uma hipotética Presidenta Brigitte Bardot, conhecida por sua militância em favor dos animais, e por ser uma conservacionista de direita, a guilhotina perderia a ferrugem rapidinho.
Numa Inglaterra cujo Primeiro Ministro fosse Morrissey, que um dia afirmou que Meat Is Murder, Strangeways Here I Come, seria a melô de nosso marqueteiro titular.
Revolta também o fato de que seu chegado, aquele que sempre defendeu sua contratação, o Presidente da República, nunca ter se manifestado a respeito da prisão, nem para mostrar indignação, ou, no mínimo, para marcar solidariedade, ou concordância com essa que é uma das mais efetivas expressões de civilidade, que é o respeito aos animais.
Mas o que dizer de um presidente desclassificado que convida Zeca Pagodinho para assistir a um DVD pirata de Zezé de Camargo e Luciano, no Planalto?
Digo isso sem compaixão, pois sou eleitora histórica do PT e como minha crítica é à esquerda, afirmo que o Presidente é um preguiçoso incurável quando se exige dele tomar decisões e assumir posições.
Sugiro, inclusive, ao biógrafo oficial das celebridades históricas, Fernando Morais, que se estiver pensando em escrever a do casal presidencial, já tenho o título:
A Primeira Dama E O Vagabundo.
Quanto a pessoa de Duda como patrão, não tenho por ela nenhuma queixa.
Aliás, nada tenho a reclamar, pois em sua agência ganhei montes de dinheiro.
E lá também, conheci uma criatura tão encantadora, quanto ótimo diretor de arte: Marcelinho Kertesz.
A ironia que fica é que a agência do mesmo homem que trata miseravelmente as pobres aves, continua cuidando de um produto cuja logomarca era um simpático par de pingüins.

é o que é. o pior é que é mesmo. da vó danada ou como dizem as más línguas, o zoca moraes.

2 comentários:

tucabalieiro@hotmail.com disse...

Eu realmente acredito em doentes e não em duendes.Acho muito bacana o que escreveu , mas superou sua cota .As pessoas cansam, tente dar uma enxugada .
Me desculpe falar assim , um abraço , Tuca Moraes

celso muniz disse...

meu caro tuca: obrigado por sua leitura e pelo comentário aqui postado .

no entanto, há que se assinalar o seguinte: o post não é de minha autoria, felizmente ou infelizmente, como está devidamente assinalado ao final, retirado do blog da vovó danada, blog que não existe mais, certamente por conta das pressões que o autor, que por muito tempo ficou anônimo, sofreu.
concordo que é um calhamaço. mas o cemgraus é assim, ora calhamaços, ora arrotos, ora peidos ou pura merda - segundo alguns anônimos, para ser eufemista - e assim segue o princípio de complicar o que parece simples e simplificar o que parece complicado, o que nem sempre consegue, of course, tendo a deontologia como substrato.


tenho certeza - teórica e prática - que um dos problemas fundamentais do marketing e da propaganda atuais, é que as pessoas cansam muito facilmente, o que espero não seja o seu caso.



assim, não há o que se desculpar e tão-somente agradecer.

um abraço

celso