sexta-feira, junho 22, 2007

hemorragia não se estanca com band-aid ou a corrida dos(tolos)desesperados


Todo mundo lembra de um momento na nossa história de “leis que não pegaram” sobre a famigerada norma que exigia que todo carro deveria ter uma bolsinha com meia dúzia de artigos para pequenos ferimentos. O Brasil inteiro comprou o estojo, o fornecedor ficou milionário e alguns meses depois alguém conseguiu na Justiça provar que essa coisa não servia para nada, muito menos para socorrer alguém em um acidente automobilístico. Pois bem, lembrei-me dessa caixinha para fazer uma analogia com outra famigerada obrigação nacional: a necessidade do MBA para qualquer um que queira entrar ou se manter no mercado de trabalho.

Meu MBA é melhor do que o seu
Antes que alguém fale que sou contra o aperfeiçoamento profissional, digo que absolutamente não sou. Acho perfeito que qualquer profissional procure se informar sempre, seja onde for, preferencialmente nas ruas, teatros, livros, cinemas, etc. O que vou discutir aqui é a obrigatoriedade de um diploma que até as próprias instituições que o vende colocam em xeque. Li, por exemplo, uma afirmação interessante do Sr. Luca Borroni-Biancastelli, secretário-executivo da Associação Nacional de MBA, abordando o excesso de cursos no País, que, literalmente, diz o seguinte: “A idéia é separar o joio do trigo dentro do mundo absolutamente prostituído do MBA no Brasil”. Ora, amigos, se esse cara que conhece tudo desse negócio milionário diz com todas as palavras que se trata de um mercado dominado pelos picaretas, porque eu duvidaria disso? Eu, que não sou nenhum emebeísta, duvido até da própria FGV. Sabe por quê? Porque visitei o site da instituição e descobri que eles oferecem todo e qualquer tipo de curso para todo e qualquer tipo de profissional com financiamento do Bradesco ou pagamento no cartão de crédito em 3 x sem juros. Você pode até fazer à distância, freqüentando seu computador em média 5 horas por semana e visitando a escola mais próxima da sua casa apenas no exame final. Não tem um cheirinho parecido com o grill do Foremam ou das facas Ginso?

Quem ganha com o MBA: o profissional ou a empresa?
Nenhum dos dois. No final da famosa “corrida do ouro na Califórnia”, alguém proferiu uma frase absolutamente verdadeira: só quem lucrou foi o fornecedor de pás e picaretas. Ou seja: quem se dá bem, aliás muito bem, com essa fábrica de MBA são os fabricantes. Dados de 2003 mostravam que havia 843 instituições oferecendo cursos de MBA e quase 350 mil alunos cursando. Dados de junho de 2004 colocavam a FGV como a maior escola de negócios do País com 22 mil alunos fazendo MBA em 70 cidades espalhadas pelo Brasil. Como não encontrei dados atualizados, vamos fazer uma pequena projeção: considerando que de lá para cá o negócio só cresceu, vamos imaginar que os números dobraram desde 2003 e temos hoje algo em torno de 700 mil emebeístas pagantes. Nas minhas fuçadas pela internet, fiquei sabendo que os MBAs mais em conta custam algo em torno de 4 mil reais por um curso de 2 meses. Os completos ficam em torno de 35 mil reais e duram de 2 a 3 anos. Se pegarmos uma média bem razoável de 10 mil reais e multiplicarmos pelo número de alunos, teremos algo em torno de 70 milhões em faturamento. Nada mal, hein?

Sua carreira não deslancha? Esqueça um pouco o que você aprendeu e pense diferente
Na minha carreira, encontrei centenas de profissionais que passaram por cursos de atualização ou de extensão. Isso até mesmo antes do MBA invadir o Brasil. Confesso que não encontrei nenhum que ficou melhor depois de perder um ou mais anos de finais de semana em salas de aulas. Mas, por outro lado, constatei a sensível piora desses profissionais. O que antes era decidido pelo feeling, experiência em campo e vontade de inovar foi substituído por regras, medo de errar e pensamentos padronizados incutidos por um grupo de acadêmicos que, na maioria das vezes, jamais teve o poder de decidir alguma coisa. Se você também está sendo obrigado a conseguir esse certificado, faça como a nossa ministra preconizou: relaxe e goze. Mas, depois, analise com calma todas aquelas regrinhas e use seu bom senso para ser o profissional que você sempre sonhou e que todo mundo irá respeitar e admirar.

o mba ou o estojinho de primeiros socorros, do wander levy.

Nenhum comentário: