segunda-feira, junho 11, 2007

eu sobrevivi a um pé na bunda


o titulo emplastado numa camiseta de autoria do planeta diário(hoje casseta e planeta) fez muito sucesso nos fins dos anos oitenta e aplica-se bem a nossa atividade, hoje cada vez mais

ser despedido em propaganda tem diversos significados. estranhamente fica-se só por um. mais estranhamente ainda quem o confesse ter sido. môsca branca. a maioria das pessoas que conheci na situação saiam-se com o “eu despedi a agência”. e se o posto tem mais ou algum destaque aí é que ninguém assume mesmo.

recentemente dois casos chamaram a atenção. de um lado, um profissional mal assumido na presidência de criação de uma agência e cheio de idéias, ainda que requentadas como o mesão. subitamente foi retirado do cenário. sabe-se agora por questões de mal amado pela presidência mais afeita a outras tribos que não tupinambás.

tempo inverso, quase dezoito anos de dedicação a uma só agência, um dos profissionais mais reconhecido por sua regularidade – há a regularidade, outra coisa tão difícil nos talentosos(não nos medíocres, excetuando-se os medíocres cadastrados na categoria enganadores) – foi demitido por contenção de custos de uma agência, que já esbanjou muita grana para sustentar as derivações artísticas dos diretores que lhes dão o nome. nada contra, muito pelo contrário. mas convenhamos que, apesar do direito, esbanjar no whisky e economizar o cafezinho( não é coisa que se espere de quem escreve cartas a jovens publicitários diletando ética aos tomos e borbotões).

numa época em que uma atividade criadora do passaralho(demissão grupal por perda de conta(s)) perdeu o respeito por sí própria, na exarcebação da utilização de estagiários e mão de obra completamente desqualificada que já entram demitidos pro-forma, o turn-over(pra ficar mais chique) já faz scratch faz tempo. já há problemas de extinção da espécie, inclusive do próprio passaralho, pois se a publicidade nunca foi uma profissão “segura” agora é quem ninguém segura mais mesmo o lugar do que quer e de quem quer que seja.

se demitido ou se demitiu a agência sempre se aprende algo a mais do que aquilo que ter-se-à que fazer para sobreviver, inclusive fora da publicidade, cada vez mais. o que importa não é a versão. mas sim o fato que pode ser determinante para fortalecer o seu caráter ou não, a sua visão profissional, inclusive ética, ou não.

alguém já disse que só morre feliz quem vive tentando. eu, por exemplo, me considero um sujeito muito feliz, apesar da fama pesadona de não esquentar cadeiras, tão grave quanto a tal da regularidade, quando a coisa aperta. estar numa agência é tal e qual estar num relacionamento. nem sempre você ou a agência são aquilo que aparentam – ou que comentam – ser , e muito menos feitos um para outro. aliás, na esmagadora maioria é assim. a agência ideal não existe. mas é certo que existem agências muito melhores do que todas as outras. em tudo, inclusive na decência, na postura, no caráter do talento das pessoas que a dirigem, e que, mais tarde – as vezes tarde demais – se manifesta no trabalho que faz.

sobrevivi a muitos pés na bunda – e até, acredite quem quiser(risos) as agências que eu demiti. nada a reclamar. faz parte do jogo. mas, não por mim, mas por tudo aquilo que se faz quando se acredita e se luta por algo mais que o salário, é decepcionante ver ao ponto acachapante que chegamos. a publicidade tornou-se uma atividade em que o preço – e só o preço – tornou-se a moeda a pagar para continuar nela.

há quem pague e, principalmente, receba o inimaginável para que assim seja se assim não fosse.


in tempo: um dos demitidos – se você não tem informação bastante para saber quem é, é porque não vale pena citar o nome mesmo - parte para abrir uma nova agência, onde uma das novidades é uma espécie de conselho dos notáveis, onde sociológos, antropólogos, dariam au complet o suporte de uma nova visão da comunicação publicitária. que tristes tempos estes em que se tem de chamar scholars para dar credibilidade a profissão. isto é o que difere a geração de agora, com sua formação em, ecas, espms, ad schools e congenêres que levam ao grassar de mbas até em chulé. antigamente, um antigamente bem recentemente, para não cairmos no saudosismo,quem fazia publicidade eram os próprios: pois a formação das equipes das agências continha sociólogos, antropológos, engenheiros, arquitetos, matemáticos, astrônomos, biólogos e um sem números de profissões(nem pense majoritariamente só de humanas) que por isso mesmo fazia da publicidade a escolha acertada de quem fazia o que fazia por um processo de identificação que necessariamente passava pelo pé na bunda noutra profissão.

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