terça-feira, outubro 23, 2007

parte 02 - da série, leitura para a semana inteira, do brasil que inventou o "caixa-dois" das idéias

Guilherme Azevedo – Gostaria que você contasse um pouco da sua trajetória. Onde nasceu? Onde estudou?

Jarbas Agnelli – Nasci em São Paulo. Fiz publicidade na ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP (Universidade de São Paulo), mas não me formei.

Guilherme Azevedo – Em que ano você parou?

Jarbas Agnelli – No terceiro. Meu problema é ter pai publicitário. Meu pai é o Laerte Agnelli, não sei se você conhece [Laerte Agnelli é um dos grandes diretores de arte do Brasil; foi um dos participantes ativos da virada criativa na propaganda brasileira, a partir dos anos sessenta; é também ilustrador e pintor]. Meu pai sempre deu aula de publicidade para mim. Eu cresci com aula de publicidade, dentro das agências. Então, a gente já tinha meio tudo aquilo na cabeça, e a USP foi meio decepcionante para mim. Acadêmica demais. Meu pai também sempre estimulou: “Sai dessa faculdade, vamos lá fazer estágio”. Aí, na primeira chance que tive, saí, fui fazer estágio e, a partir daí, não parei mais.

Guilherme Azevedo – Estágio na área de propaganda, mesmo?

Jarbas Agnelli – Fiz estágio na MPM, que ele [o pai, Laerte] estava lá, na época. Mas eu já tinha sido meio que treinado para ser um diretor de arte à anos setenta, oitenta. Que é um cara que desenha. Minha carreira começou como ilustrador, ecoline, bico de pena... Nos anos oitenta, 1984, quando comecei...

Guilherme Azevedo – Já era a virada da informática, não é?

Jarbas Agnelli – Mas ainda tinha isso [técnicas mais manuais de ilustração e direção de arte]. Comecei na MPM com ecoline e tal. Depois passei para a DPZ como assistente de arte e passei a ser diretor de arte lá. Daí começou aquela transição: ninguém mais mexia em tinta. Começou com xérox, xérox para cá, xérox para lá. E, lá para noventa e poucos, entrou o computador. E eu fui sempre um cara com paixão pela tecnologia. De todos os tipos. Quando eu tinha 12 anos, ficava gravando em cassete, rolo, fazendo mixagem para festa, pensando no que eu ia projetar com slide. Então, quando surgiu o computador, foi muito natural, foi o caminho.

Guilherme Azevedo – E como era trabalhar no mesmo lugar que seu pai, ter a mesma profissão dele?

Jarbas Agnelli – Era tranqüilo. Meu pai era super-respeitado na MPM. É respeitado até hoje. Era um cara que já tinha trabalhado em todas as agências. Meu trabalhou na Thompson [JW Thompson], Almap, quando ela era Alcântara Machado, na Salles, diversas vezes. Então ele conhecia todo o mundo no mercado. Mas foi bom que eu tenha começado como ilustrador, mesmo. Se tivesse começado como assistente de arte ou como assistente de diretor de arte, alguma coisa mais próxima da criação, talvez fosse mais chato, mais complicado. Então, eu não estava muito perto dele.

Guilherme Azevedo – Você trabalhava dentro do estúdio?

Jarbas Agnelli – Dentro do estúdio, com a moçada lá dentro. Aí acabei indo para uma dupla que era de merchandising. Comecei meio que a brincar de criar lá dentro, mas só ilustrando. Foi um começo meio técnico. E foi bom, porque andei com as próprias pernas, fiz a minha pasta e acabei chegando à DPZ sem nenhum tipo de ajuda dele.

Guilherme Azevedo – Você foi para a DPZ em que ano?

Jarbas Agnelli – Em 1985. O começo, eu devo todo ao meu pai porque ele me ensinou tudo: “Não, tira isso aqui da pasta, põe aquilo...”. Eu não me senti assim: “Ah, tenho um pistolão”. Foi legal, ele deu uma ajuda: “Entra aqui; mas, a partir daí, é com você”. Foi bacana.

Guilherme Azevedo – E de infância? Seu pai ensinava você a desenhar? Como deu o estalo de seguir a carreira?

Jarbas Agnelli – Minha adolescência foi uma aula de publicidade, como disse. Era o tempo inteiro. Meu pai deixava bilhetes na geladeira: “Desenhe mãos”. Tinha exercícios, blocos de exercícios: “Pegue este anúncio, deixe o título e mude a imagem”. O tempo inteiro era isso. Uma programação mesmo para a gente ir para a publicidade. Não tinha nenhuma chance de tentar ser outra coisa. Mas eu sempre gostei, foi tranqüilo. Só quando comecei a ensaiar, a querer ser músico, que eu deixei o “velho” preocupado. Estava na DPZ e deixei-o de cabelo em pé.

Guilherme Azevedo – Que banda?

Jarbas Agnelli – Chamava-se Avenida Paulista. De rock. Que era, inclusive, com o Waldo [Waldo Denuzzo, sócio de Jarbas no AD Studio]. Eu o conheço desde 1980. Era um rockinho assim... Chegou até a tocar na rádio.

Guilherme Azevedo – Você compunha?

Jarbas Agnelli – A gente compunha. Eu era tecladista. Era uma banda pop, bateria, baixo, guitarra. Existia um hit: Londres não é tão longe. Tocou no rádio. Era 1989. Eu não tinha muita esperança de virar músico ou de abandonar a publicidade. Ao mesmo tempo, nunca pensei em desistir da música. Só vinte anos depois, iria achar um jeito, que é o AD do jeito que ele é, de juntar as duas coisas. A música sempre esteve meio na paralela na minha vida. Sempre dei muita importância à música e ao papel da música na publicidade. A gente tem a banda [a banda AD, de música eletrônica, com Waldo Denuzzo]. Em 2000, a gente lançou disco. A música como música é superimportante para a gente. Mas a música, na minha vida, está mais na publicidade, mesmo.

(continua amanhã, entrevista publicada no jornalirismo)

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