sexta-feira, outubro 19, 2007

depois desta nem me atrevo a mudar o título

1. Nos meus tempos de Almap eu gostava de ver aquele povo trabalhar. Éramos quatorze duplas que formava o melhor time de criativos da propaganda brasileira. Ao todo, vinte e sete feras, respeitadíssimas no país, criando a produzindo publicidade de altíssimo nível e de extraordinária eficácia. Vinte e sete, porque eu não fazia parte daquela floresta de craques. Estava ali, sim, mas sempre entendendo que era um aprendiz. E isso não me aborrecia, pelo contrário. Humildemente ia de sala em sala para ver, principalmente, os redatores esculpirem o texto. Ou, como gostava de dizer o Neil Ferreira, fazerem o trabalho de carpintaria. O texto saia, mas só ficava pronto depois de ser refeito cinco, seis, até mais vezes.

O resultado, bem, este você mesmo pode ver consultando anuários antigos.

Sempre tive ânsia de aprender e não podia perder aquela oportunidade. Lia e relia o trabalho deles e sempre tirava uma lição.

2. Essa mesma vontade de saber mais me alimenta até hoje. Por isso leio com ansiedade cada anúncio, cada outdoor, cada volante, cada folheto – cada peça impressa, enfim. E ouço, procurando não perder uma palavra, o texto, sua interpretação no comercial, no fonograma.

Só que ao contrário dos tempos de Almap não consigo aprender. Apenas me frustro.

3. O que vejo são títulos medíocres e anúncios sem texto. E quando, por exceção, eles aparecem, o diretor de arte se encarrega de desvaloriza-los. O que vejo não revela, nos impressos, a menor preocupação com a escolha e o tamanho do tipo. O que ouço, raramente tem um bom locutor, narrador ou intérprete. Parece que as coisas são feitas nas cochas.

Sou um leitor contumaz: leio quatro jornais por dia, duas - às vezes três - revistas semanais, duas quinzenais. E não encontro nada.

4. É a tragédia ecológica da comunicação de marketing no Brasil: o redator está morrendo.

Não quero discutir as causas, apenas constatar que escrever, escrever bem, é uma atividade que está desaparecendo.

E como toda tragédia, quebrou-se a corrente profissional: o nível da criação foi para o espaço, a comunicação de marketing perdeu sua efetividade, a confiança dos anunciantes está abalada, o faturamento caiu, as agências, pra se manterem vivas, enxugam todo dia o corpo funcional, o diretor de arte, lá na ponta, esse que poderia dar mais atenção ao texto e não dá, vai pra rua. Sozinho, porque o redator já foi há muito tempo.

É triste. Muito triste.

(tragédia ecológica na publicidade, do eloy simões) depois que o copy virou redator na propaganda brasileira o resutado é este. até o eugênio e o ruy não são mais aqueles

Um comentário:

Anônimo disse...

Vem ser diretor de criação na Almap, ô redator fodão!