sexta-feira, maio 18, 2007

fim de linha


O brasileiro sempre achou o seu país maravilhoso, abençoado por Deus e pela natureza. Em resumo, o melhor lugar do mundo para se viver. Acontece que nos últimos tempos ele tem andado um tanto desconfiado desse paraíso tropical. A violência, a corrupção, o desemprego, o apagão dos aeroportos, as trapaças do judiciário parecem apenas reafirmar que este é o país do futuro, ou seja, um lugar onde talvez os sonhos nunca se realizem. Depois que a nação se empolgou com a eleição de Lula quando a esperança venceu o medo, o novo mandato se inicia de uma forma burocrática, onde parece que a esperança venceu o medo de sonhar. Não deve ser por acaso que numa recente pesquisa feita para revelar quais são os brasileiros mais admirados do século, dois dos mais votados são justamente políticos: Getúlio Vargas e Jucelino Kubitscheck.

Acredito que, além de governar, de fazer o dia-a-dia bem-feito (o que, por sinal, não acontece), está faltando ao senhor presidente da República, como líder maior do País, ser o canalizador de sonhos, de esperanças e projetos que tragam o futuro mais para perto dos brasileiros. E quando digo isso não estou falando de planos imediatistas, como o PAC, ou do marketing político barato das frases feitas a que estamos acostumados, o marketing de ocasião e de balcão.

No momento em que a destruição da natureza é reconhecida internacionalmente como uma ameaça à sobrevivência do homem no planeta, é surpreendente que um país como o nosso não tenha acordado para isso. Uma nação que possui 28% das florestas nativas do mundo, o maior manancial subterrâneo de água doce, a quinta maior extensão territorial, uma diversidade fabulosa como a Amazônia, o Pantanal e os 7.000 km de litoral, deveria ser o primeiro a reconhecer, preservar e cuidar do seu potencial.

Há muito tempo deveríamos ter assumido essa vocação natural, o Brasil Verde, explorando racionalmente nossas riquezas naturais, seja em madeiras, em turismo, em pesquisas, na fabricação de medicamentos, cosméticos, etc.

Além disso, surge agora a oportunidade de liderar o mercado mundial de etanol, uma vez que temos a melhor tecnologia e a maior produtividade, uma agroindústria capaz de transformar regiões inteiras nos próximos anos e de resgatar os neo-escravos desta cultura.

Outra coisa que não consigo entender é por que um povo como o nosso é considerado uma despesa, e não um patrimônio pelos Governos. Quando vejo entrevistas dos pobres que moram em favelas, mocambos ou cortiços, sempre me surpreende encontrar tanta gente com valores, garra e que dão para o País muito mais do que foi oferecido a elas.

É comovente vermos pais criando filhos de forma tão decente em morros ou periferias infestados por traficantes apenas porque eles ainda acreditam na honestidade, no trabalho. Isso no mesmo país onde temos um senador da República que quer dividir seu Estado natal em dois porque uma metade do povo não o apóia.

Numa nação onde tantos roubam, sejam deputados, policiais ou juízes, é sempre notícia de jornal quando faxineiros, taxistas ou lixeiros candidamente devolvem carteiras recheadas de dinheiro encontradas em lugares públicos. Ao mesmo tempo, vemos atletas de esportes populares ganharem provas internacionais correndo descalços, músicos que nunca freqüentaram uma escola fazendo sucesso no exterior e um ex-catador de lenha se transformar no dono da empresa aérea que mais cresce neste país.

Num mundo onde a tecnologia é criada, transformada e substituída cada vez mais rapidamente, é chocante a classe dirigente tratar o povo como se fosse uma imensa senzala. E quando sabemos que o Estado arrecada quase 40% do PIB em impostos, temos de reconhecer que a nossa pobreza não é material, mas de idéias e ideais. E, de certa forma, essa falta de ideologia, de capacidade e vontade de sonhar está contaminando toda a vida brasileira, os negócios, a arte, até mesmo a propaganda.

Curiosamente, na mesma pesquisa sobre os brasileiros mais influentes do século, um dos mais votados foi o arquiteto Oscar Niemeyer. Acho que deveríamos nos preocupar quando vemos que um dos mais jovens, revolucionários, visionários e idealistas brasileiros da atualidade tem 99 anos de idade.

(brasil. um país que desaprendeu a sonhar , do ruy lindenberg é vice-presidente de criação da leo burnett.

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