Se uma agência de propaganda conquistasse a “conta” de uma dessas associações criminosas, por mais criativos que fossem os profissionais da agência, estariam inevitavelmente criando mentiras para acobertar o crime, que cedo ou tarde seriam desmascaradas. E o ônus recairia também sobre a agência. Num grau menor, quando uma agência faz de tudo para tentar melhorar a imagem de uma empresa que notoriamente engana ou esfola os seus clientes, ela também está sendo cúmplice de uma farsa, o que mancha a imagem da própria agência. O pressuposto para fazer marketing e comunicação eficientes, para o cliente e para a agência, é ter um bom produto. E se há um produto que não merece, definitivamente, este qualificativo, é o produto “políticos”, com raríssimas e gloriosas exceções. Mestres na arte de anunciar uma coisa e depois fazer exatamente o contrário, eles sujam assim a sua reputação e, com ela, a dos marqueteiros e criativos que se esmeram em encontrar pontos positivos em suas plataformas, para apregoá-los na comunicação. No final, saem todos perdendo, inclusive e principalmente o consumidor que, no caso, é o eleitor enganado.
                               
                              O envolvimento ostensivo de marqueteiros e                                publicitários em campanhas políticas no Brasil  tem                                feito muito mal ao marketing e à publicidade                                sérios. Isto porque, pelo caráter massacrante                                desta propaganda “gratuita” obrigatória e pela                                 grande repercussão na imprensa quando as mentiras                                 são reveladas e eventualmente os escândalos                                explodem, a “conta” moral tende a ser jogada nas                                 costas dos marqueteiros. “Era só marketing”, “era                                 puro marketing”, se diz dos políticos apanhados                                 “no flagra” aumentando os impostos quando nas                                campanhas falavam em reduzi-los, cortando as                                verbas da educação quando enchiam a boca ao falar                                 esta palavra, apoiando ou anistiando corruptos                                 quando diziam que a ética tinha que estar em                                primeiro lugar... E como fica então a imagem do                                 marketing e dos marqueteiros, estes que fazem de                                 tudo para melhorar a imagem dos clientes?
                              Fica                                mais suja que a dos clientes sujos... Ao vender  o                                mau produto, o primeiro prejudicado é o próprio                                 vendedor. 
Por essas e outras razões é que algumas agências se recusam a fazer marketing político. E outras vão mais longe: não aceitam contas públicas. Mas a verdade dura e crua é que as agências precisam de clientes e é muito raro rejeitarem um deles, por pior que seja a sua reputação. Se, entretanto, a visão da agência for um pouco além do curtíssimo prazo, o melhor a fazer é pular fora dessa.
                                                                                             A bem da verdade, o Brasil                                extrapolou em matéria de marketing político. Não                                 conheço nenhum outro país (democrático) no mundo                                 em que se use e abuse do marketing político como                                 aqui entre nós, e não só nas eleições. Não há                                governo no Brasil, federal, estadual ou municipal                                 que, para fazer simplesmente o óbvio, aquilo que  é                                de sua obrigação mais primária, não crie e nomeie                                 um “programa”, como Bolsa Família, Bom Prato,                                Primeiro Emprego, Brasil em Ação, Fome Zero, PAC,                                 e assim por diante.
                             
                              Gente, o que é isso? Precisa inventar organismos                                 especiais, criar marcas, para simplesmente cuidar                                 das tarefas básicas da administração? Esta febre                                 de criar “programas” veio em parte como resposta  a                                uma interdição que houve, ha alguns anos, dos                                governantes colocarem  seus nomes e slogans  nas                                placas de suas obras, para que suas ações normais                                 de governo não se transformassem em propaganda                                 ostensiva deles mesmos. Para driblar esta                                proibição, aliás muito saudável (pena que                                transgredida por alguns, como este “Brasil, um                                 país de todos” que nos martela por toda parte...)                                 inventaram essa moda de dar nomes, como se fossem                                 marcas, às coisas mais óbvias que eles devem                                fazer, como se estivessem reinventando a roda a                                 cada novo governo que se instala.
                                                                                             
                              Tivesse eu o poder de legislar e correndo o risco                                 de ser cassado pelos meus pares, proporia a                                interdição total do marketing político. Nenhum                                 nome novo poderia ser dado a qualquer ação de                                governo. Tudo teria que se encaixar nas agendas                                 normais dos ministérios, secretarias, etc,                                exatamente com o nome que as coisas sempre tiveram                                 e pelos quais os eleitores as nomeiam: escolas,                                 estradas, hospitais, transportes, alimentos, etc.                                 E todas as ações de governo teriam que ser medidas                                 e avaliadas por índices internacionais, já que  os                                locais podem ser manipulados pelos governantes  de                                turno. Quanto à propaganda eleitoral, eu acabaria                                 com o famigerado horário “gratuito”, excrescência                                 que só existe no Brasil, e proibiria a propaganda                                 eleitoral na TV, rádio, revistas, jornais e                                outdoors (fica feliz, Kassab?). Os candidatos                                seriam submetidos a sabatinas e a debates                                obrigatórios na TV, por jornalistas isentos:                                aquele que não aparecesse teria a candidatura                                impugnada.
                             
                              Com as minhas regras, todos teriam a ganhar: os                                 marqueteiros ficariam livres destes incômodos e                                 perigosos clientes (que freqüentemente ainda dão                                 calote...) e as rádios e TVs ficariam livres deste                                 confisco. Mas a mãe de todas as vantagens é que  os                                políticos ficariam sob estreita vigilância e                                impedidos de se esconder atrás de mágicas                                publicitárias. De modo que o eleitor teria                                elementos objetivos para julgar e votar, sem                                enganações. Quem vota em mim para propor essa                                agenda em Brasília?...
                               
silvio lefèvre, pelo fim do marketing político, no seu derrapadas de marketing
 
 
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