sábado, junho 24, 2006

café(colonial) são braz

um certo publicitário, hoje mais luso que brasileiro, dizia que publicidade é capitalismo. assim sendo, ou você tá dentro, do capitalismo, ou tá fora. ou seja, não dá para ficar na atividade publicitária protestando contra o capitalismo como se estivesse num dce.
certíssimo. mas ainda assim, isso não impede que estando você na atividade publicitária não possa contribuir para a melhoria de certos aspectos, principalmente não estimulando certos preconceitos por preguiça ou burrice. afinal, se há algo pior que o capitalismo, é o capitalismo burro, que é o praticado no brasil. e dentro das agências, mais ainda, que deram de ser tornar mestras na exploração – burríssima – da mais valia neste novo século.

era esta, pelo menos no começo, a visão da minha geração. geração que começou lá pelos anos 70, com uma visão em nada romântica, como alguns querem rotular, do negócio da propaganda. sem maiores preocupações com prêmios, bom humor na veia, mais interessados, como diria o toninho lima, em comer as estagiárias do que aparecer em anuário do ccsp. acima de tudo, desmistificando o glamour, num botequim de quinta, no fim das sessões de varejo, a grande escola, que hoje apresenta-se cheia de varizes. assim foi, inclusive em boa parte dos anos 80, quando a propaganda brasileira atingiu a maioridade e ficou besta de dar dó.

e porque este preâmbulo? pois bem. temos no ar, comercial do café são braz, estrelado pelo gianechini. a ausência de idéia publicitária demonstra o caráter dos arcos que dispararam a flecha. em 2006 volver a configuração “ casa grande & senzala”, reintroduzindo a figura da doméstica, fardadinha, e tendo como gag final o artifício miserável de “ paulista imitando o sotaque nordestino”, é muito menos do que se poderia esperar de uma agência que já nos acostumou a servir propaganda fria. e não deixa de ser também significativo, que sendo a são braz uma empresa sediada em campina grande, aprove tal fantochada, que tal como novela, continua a caracterizar nordestinos apenas como serviçais expoentes do “sotaque paraíba”. mas, pensando bem, quem conhece a família são braz, não se espantaria de tal. são mestres em reproduzir em atos e práticas comerciais e não comerciais a mesma ideologia que, como nordestinos, deveriam combater. principalmente num tempo onde o nordeste quer se afirmar cada vez mais com outro tipo de exponenciais, inclusive para além das manifestações culturais neo-periféricas. a própria cultura do café é rica em nuances para exploração publicitária, sem falar na cultura nordestina: não só a tradicional, bem como “ a cultura do porto digital”, só para dar um exemplo. mas não: que venha o efeito fácil do estereótipo, que a moçada tem mais o que fazer para os napastas da vida e os young creative ao que parece.

não sei como não tiveram a idéia de patrocinar sinhá moça: o barão de araruna ia adorar, até liberaria o merchandising, o personagem brindaria em uníssono com os feitores e capitões do mato que entre agências e gerencias e direção de marketing se revezam em nossa atividade.
(continua na próxima: vitamilho e extensão de linha super pop; água sanitária dragão(versão bebeinho) pra completar o desejum. intoxicação na certa ?

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