segunda-feira, dezembro 08, 2008

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1. Serginho ria o tempo todo.

Tinha notícia boa?

Serginho ria.

A notícia era ruim?

Serginho gargalhava.

Serginho ria tanto que ganhou o apelido de Bobo Alegre.

O apelido nasceu quando alguém passou a Serginho a informação de que a mãe dele havia falecido. Serginho adorava a mãe.

Serginho não parava de rir, reflexo, certamente, de uma crise nervosa – coisa que nós, garotos, não compreendíamos.

Fim do ano passado estive em Cachoeira Paulista, minha terra natal. Vi Serginho no banco da praça. Estava acabado, nada a ver com o de outros tempos. Eu o reconheci porque ele ria a gargalhada de sempre. Tentei falar com ele, mas ele só ria. Desconfio que não me reconheceu.

2. Ano passado, em uma discussão entre os Comgurus e alunos de pós da Estácio, um deles perguntou: por que a imprensa especializada não discute temas sérios, ao invés de ficar reproduzindo os releases das agências?

Gerou uma bela discussão, onde os participantes lhe deram razão. Agora mesmo, fazendo o balanço dos acontecimentos do ano passado, a imprensa se esqueceu de um fato importantíssimo para o setor: a decisão da ABAP de realizar, trinta anos depois, Congresso Brasileiro de Publicidade. Esqueceu-se, inclusive, da questão, quando fez uma previsão do que poderá ocorrer neste 2008. É como não valesse uma rosca.

3. Quando eu voltava de férias, uma formanda em Publicidade e Propaganda pela Unisul me interpelou na praia:

“Estudei quatro anos, estou me formando e não arranjo emprego. Na melhor das hipóteses um estágio, onde botam a gente de recepcionista a secretária – tudo, menos na atividade profissional... e não pagam nada. Alguns ainda oferecem, quando muito, uma ajudinha de custo. Um absurdo!”.

4. Recebi, há dias, e-mail de um amigo, outrora um dos melhores diretores de arte do mercado, hoje dono de pequena agência em S. Paulo. Queixava-se:

“Está cada vez mais difícil. Onde a gente solicita uma conta, nem que seja a da padaria da esquina, eles estão lá, oferecendo para trabalhar por qualquer coisa, ainda que em troca de um pedaço de pão.”

Não converso com esse meu amigo há vários anos. Não sei se ele ri dessa situação. Acho que não, porque ele nunca foi de rir. Mas, pelo menos no e-mail, não há uma só referência à reação dele a essa situação. É como se risse.

5. Impossível deixar de dar razão aos que criticam e reclamam.

A questão, porém, é: o que estão fazendo para mudar isso?

Quantas cartas, quantos e-mails eles já escreveram para as editorias reclamando desse estado de coisas e sugerindo assuntos que podem levar a uma discussão mais séria? Sim, porque, reclamar é fácil, e dizer que a culpa é dos outros, mais fácil ainda.

O estudante, por exemplo, que reclamou certissimo: quando a gente abre uma publicação do setor, só encontra notícias de festa, de oba-oba de agências e de profissionais – aliás, os mesmos.

Todos riem, como se as más noticias para o setor – e portanto para os profissionais - não parassem de chegar.

6. Quantas vezes os estudantes – para falar deles novamente - se reuniram para exigir mudanças – nas Faculdades, no mercado, na legislação?

Nenhum, deles têm tempo, alegam, afinal estão estudando. Só para baladas.

A coisa está feia pra eles, mas todos continuamos rindo.

7. A triste realidade é que somos autênticos serginhos. O mundo está caindo na nossa cabeça, e nós rimos.

Tomara que daqui a alguns anos, quando a idade tomar conta da gente e perdermos a oportunidade de reagir, encontremos força de fazer algo mais do que gargalhar. Pobres Bobo Alegre.

(os bobo alegre, do nada alegre eloy simões)


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