sexta-feira, dezembro 05, 2008

bananas for you all

1. Estava com muita raiva, quando o amigo o atendeu ao telefone:

“Filho da puta! Você me enganou!”

Tinha razão. Dias antes havia encontrado o amigo em uma festa. O papo começou como sempre acontece quando duas pessoas que se dão bem se encontram:

“Você está bem?”

“Otimamente bem”

(O amigo gostava de acrescentar o mente no que dizia).
“Agora, estou melhor ainda. Estou felizmente.”
“Mas você não se separou?”
“Separei-me, aproveitei e conscientemente a empregada na rua.”

“Está vivendo sozinho?”

“Completamente.”

“Sozinho?”

“Bom, somente eu, não, atualmente arranjei um macaco”.

“Um macaco!”.

“Perfeitamente. O macaco atua genialmente: lava, cozinha, arruma a casa, passa minha roupa. Tudo decentemente. E como não fala, não mente. Pra essas coisas não preciso mais de nenhuma vivente.”

Ficou espantado com as proezas do macaco. Também ele estava separado, e a mulher tinha levado com ela, além do filho e de dinheiro, a empregada – para quem ainda não conseguira arranjar substituta. E desde então, sua casa tinha virado no avesso Era uma confusão só. Aí, teve uma idéia.

“Quero comprar seu macaco.”

“De jeito nenhum, quero que ele sirva a mim, somente.”

“Te pago 200 reais.”

“Negativamente.”

“Quatrocentos.”

“Não seja impertinente.”

“Mil!

“Assim, sou obrigado a lhe vender, evidentemente.”

Comprou o macaco e já no outro dia, bem cedinho, levou-o pra casa, foi trabalhar.

À noite, quando chegou, viu o tamanho da tragédia: o macaco tinha rasgado o sofá, o colchão, o lençol, o cobertor – tudo. Tinha quebrado lâmpadas e abajures. Tinha virado a cozinha de perna pro ar: geladeira, liquidificador, fogão, talheres já eram. Tinha entupido o vaso do banheiro com todo o papel higiênico que ele tinha em casa.

Por isso, telefonou.

“Que é isso, amigo. Sinto que sua voz está nervosamente.”

“O macaco, aquele monstro que você me vendeu. É o oposto do que você me falou. Vou matar ele. Depois mato você.”

“Não seja tão inclemente. Ao invés de matar, fale bem dele pra outro, que inocentemente vai comprar de você. Ao invés de falar a verdade, mente.”.

2. Outro dia, conversando com um amigo vice-presidente de marketing de uma grande organização, ouvi dele sérias críticas do comercial da sua empresa que estava sendo veiculado.

“O pior”, disse, “é que ele foi aprovado por mim.”

“Mas como você foi aprovar aquilo?”

“É que fiquei encantado quando a agência me apresentou”.

“Mas como foi possível? O comercial não tem uma história, não tem uma idéia, não tem nada. Só tem efeitos”...

“... que custaram uma grana,” interrompeu-me, desolado.

“Então por que você caiu nessa?”

“Porque a apresentação foi deslumbrante. Um story board, ou melhor, vídeo board encantador. Agora não sei se me demito ou demito a agência.”

3. Enquanto a conversa proseguia, e eu ouvia as lamúrias do meu desencantado amigo, lembrei-me dos tempos em que a idéia era a coisa mais importante em um comercial.

Por causa dela, aposentamos o story-board. Apresentávamos uma sinopse e pronto. O cliente gostava ou não gostava, mas jamais exigia detalhes técnicos. Era simples assim.

4. Claro, havia o risco de uma história mal contada. Ou de a agência se defrontar com um cliente incapaz de pensar. Há, até, um causo, que corria de boca em boca na época:

Diz que um diretor de marketing não aprovava nenhuma idéia apresentada pela agência. Nem com erva de bode.

Um dia, o contado chegou pra ela e disse:

“Veja se você gosta desta história: dois jovens se amam, mas as famílias se detestam. A jovem, pressionada pelos pais e irmãos, se suicida.”

“Isso é novela da pior categoria”, disse o Cliente.

“É Shakespeare”, emendou o contato, “Romeu e Julieta.”

A partir daí as coisas ficaram mais fáceis para a agência.

5. Conversando, hoje, com meus botões, sobre a volta do story board, ele me disse, com a objetividade de sempre:

“Bem feito para o Cliente que aceita esse macaco. Compra uma porcaria, paga caro, depois da merda pronta entra em desespero, e tem de fazer das tripas coração para se justificar junto à Diretoria e à própria consciência.”

(a volta do story-board, do eloy simões)

p.s. por exemplo, o comercial do cachorro-peixe da almap para o space fox é o maior macaco. mas como nele " cabe tudo que você sonhar", fica um bando de gente, comprada e vendida como o macaco, principalmente diretores de marketing, colunistas, "criativos" sonhando que aquilo é moderno, antenado, genial. bananas for you all.
in tempo: quando até a almap vai caindo na esparrela de substituir a idéia pela técnica - nem hegarty cantando a bola? - vê-se que chegamos mesmo ao estado terminal de um mercado que substitui a ideia pela pantomima que se quer como pastiche, paródia?


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