DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA
Depois de mais de uma década ao serviço dos grandes grupos publicitários deste mundo, Omnicom e WPP, chegou a altura de proclamar a minha independência.
Proclamo independência das estruturas de tonelagem superior ao sustentável, do trabalho em comité e das realidades pseudo-modernas onde até se sistematiza o uso do chinelo. Proclamo independência de processos inventados, e bem, por grandes homens como Bill Bernbach, que eram óptimos quando ainda nem se vislumbrava a possibilidade de existir tecnologia que nos liga a tudo e todos deste mundo. Proclamo independência de duplas e triplas e de reuniões placebo com equipas e 76.754 pontos de situação que não deixam a situação evoluir. Proclamo independência de pessoas que trabalham nesta área, mas não têm o talento indispensável para o fazer. Proclamo independência dos misteriosos senhores das folhas de Excel que decidem os nossos destinos de uma forma muito estranha e sempre irrefutável. Proclamo independência do servilismo que é insistentemente confundido com serviço ao cliente. Proclamo independência dos fees e dos overheads, das margens e das comissões de agência e de cobrar tudo menos o verdadeiro produto do nosso trabalho, que são as ideias. Proclamo independência de todos os negócios parasitas que se arrastam atrás destas imutáveis e imanobráveis comitivas. Proclamo independência da mediocridade, da falta de personalidade, dos posicionamentos todos iguais, do constante mais-do-mesmo e da dificuldade para fazer diferente. Proclamo independência da publicidade que não funciona, que apenas serve para encher o espaço inútil que o cliente pré-negociou para o ano inteiro. Proclamo independência da bullshit, das apresentações vazias e dos tão reais 360 graus, pelos quais tudo fica exactamente como estava. Proclamo independência de todos os que insistem em encarar esta actividade, que tem tudo para ser nobre, como um supermercado de clichés e de todas as cópias de loja do chinês que por aí vão aparecendo. Acima de tudo, proclamo independência de todas as complicações inventadas para cobrar o incobrável e para disfarçar a incrível falta de talento que tanto abunda neste nosso mundinho, que tem tudo para ser o melhor mundinho do mundo.
Adoro a minha actividade profissional e em todas as agências por onde passei fiz centenas de amigos para a vida, aprendi muito e passei momentos tão bons que não os trocaria por nada. Mas todos os que privaram comigo também sabem que, no meu entender, esta maravilhosa indústria tem vindo a cair num vórtice de inseguranças que não acompanham a saudável mudança que está a ocorrer no nosso mundo e na sociedade. Essas inseguranças e alguma gente com poder e sem talento – que, infelizmente, também existe na nossa actividade – têm vindo aos poucos a envenenar, temo que de modo irreversível, as grandes agências, heranças de pessoas geniais que decerto não gostariam nada de presenciar algumas situações que acontecem em empresas que ostentam os seus nomes.
Não proclamo independência de todas as pessoas e coisas boas que existem na indústria da publicidade. Só proclamo independência do mau para fazer crescer o bom e vou arriscar tudo e tentar fazer essa agência de publicidade onde sempre sonhei trabalhar e que só se podia chamar Lalaland.
Como gesto simbólico desta proclamação de independência, começo por leiloar o meu último cartão de visita da JWT em http://cgi.ebay.com/ws/eBayISAPI.dll?ViewItem&item=160499458245 e convido-vos para serem cidadãos honorários desta terra sem fronteiras e com poucas regras em www.facebook.com/lalalandpage e em breve em www.lalaland.pt
(enquanto isto no nordeste - e claro no centro-sul) a covardia sempre acoplada a mediocridade grassa como dengue. não é a toa que o publicitário do ano, "por exemplo", em pernambuco, é prócer de agência que se autodenomina como ampla mas faz," por exemplo", no varejo um trabalho mais restringido ao faturamento, e tão só, impossível. isso, só "por exemplo", é o pior exemplo ao que nos reduz a covardia que eleva a mediocridade a referência, que por sua vez nos que leva a falta de independência, que por sua vez mata, e marca, de forma indelével, a morte das idéias, e das imensas possibilidades de uma atividade que, por mais contraditória que seja, traz em sí o melhor dos mundos e o pior dos mundinhos).
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