sexta-feira, abril 24, 2009

lá, como cá, os palhacinhos do intervalo abundam

(já que portugal está moda por cá, vejamos o que também anda(desanda) igual do lado de lá)

O director criativo da Excentric diz que há medo e preguiça na publicidade.«Os clientes vêem os publicitários como o palhacinho do intervalo»"

Jorge Teixeira, director criativo da Excentric explicou ao briefing porque razão as agências de publicidade tradicionais estão a perder importância junto dos clientes, entre vários outros temas do dia-a-dia do mercado português de publicidade

Nos últimos seis a oito anos as agências de publicidade começaram a perder influência e poder de decisão junto dos clientes, um ciclo vicioso que está a tirar a talentos e dinheiro das agências. Esta é uma das principais ideias de uma entrevista com Jorge Teixeira, actual director criativo da Excentric, que o briefing publica amanhã na edição em papel.

O ex-DDB, Euro RSCG, BBDO e Y&R não poupou críticas às agências de publicidade tradicionais e disse há um misto de «preguiça e medo de arriscar» no mercado português, «quer de quem cria quer de quem aprova». «Acho que as agências têm preguiça porque querem jogar pelo seguro, ir pelo caminho já percorrido. Há tantas campanhas de testemunhos... o que é que é isso? É isso que dá segurança, ver um actor dizer «Eu uso isto»?

Teixeira afirmou ainda que as agências deixaram de ter voz junto dos clientes. «Os publicitários já foram importantes no país, no tempo do Edson [Athayde], mas as agências foram-se descapitalizando dessa importância política. E não ganham tanto dinheiro como antigamente», explicou.

Segundo Teixeira este não é um defeito de uma só agência, acontece com todas. «Nos últimos seis, sete ou oito anos notei que os publicitário são vistos, junto dos clientes, como o artista e o palhacinho do intervalo. O momento alto na relação cliente-agência é quando vem também o director criativo. Apresentávamos a ideia, eles gostavam, mas depois iam decidir. Ou seja, não nos chamavam para a parte da decisão. Nós devíamos ser os consultores de comunicação deles, mas não, somos uns palhacinhos que vamos vender uma ideia».

O profissional também é bastante crítico para os accounts. «Nas agências, o processo de nos ouvirem acabou. E acabou, em primeiro lugar, porque a competência das pessoas que atendem os clientes na agência, os accounts, é muito fraca. Entrou-se neste ciclo vicioso em que os clientes não querem ouvir as agências, e em vez de contratarem pessoas de qualidade, contratam carregadores de maquetes», referiu.

Numa entrevista em que se considerou um «estagiário» no marketing digital e admitiu que «se tivesse tanta certeza [que tomei uma boa decisão ao vir para a Excentric] já a tinha tomado antes», Teixeira elogiou as agências digitais portugueses, como a View, Fullsix e Seara, e disse que as agências digitais conseguem fazer com que os marketeers ouçam os seus projectos.
«[No digital] somos muito mais consultores e os clientes pagam-nos para os aconselharmos. Eles não sabem do nosso metier, enquanto que não há um cliente no país que não saiba como se faz um filme».

E continuou: «[Os clientes] querem-nos do lado deles quando pretendem saber como funcionam as redes sociais, ou um viral, ou como podem melhorar a usabilidade do site ou vender mais 30% só mudando dois ou três clicks». Jorge Teixeira referiu também que o digital «tem algo a ganhar com a crise» e está a ser beneficiado com a mudança dos hábitos de consumo da população.
«Vemos na projecção dos nossos clientes para 2009 que, com a crise, muitos estão a tirar 10% do budget de televisão para investirem 20% em internet. Isto é possível porque os valores são diferentes», resumiu.
Sobre a Excentric, explicou que não é sócio da agência e que recebe parte do «salário-satisfação» pelas «coisas novas e desafios que nunca passei».

O mercado português de marketing digital, a sua saída da DDB, a criatividade portuguesa e a razão pela qual os criativos da sua geração não o acompanharam na migração para o digital são outros dos temas abordados na entrevista ao briefing.

p.s. como diria o compositor, o brasil tornou-se mesmo um imenso portugal.

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