terça-feira, outubro 28, 2008

antes da falta de talento, a falta de ética e caráter. depois não querem que o negócio entre em crise

A reticência do consumidor em relação à propaganda vista nos dias de hoje já era sinalizada no final da década de 1980 através do livro “Consumidor versus Propaganda", de Gino Giacomini Filho, que ganha sua quinta edição revista e atualizada esse mês pela Summus Editorial.

No livro, o professor de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) aborda a influência da propaganda no contexto brasileiro, examinando aquilo que chama de "consumerismo", movimento social que defende os interesses dos consumidores. Em sua opinião, a publicidade está mais desacreditada perante o público por conta de consecutivas peças abusivas, enganosas ou irrelevantes.

Isso explicaria, em parte, o sucesso de leis como "Cidade Limpa", em São Paulo, que proibiu a publicidade em espaços públicos, ou a queda no investimento em publicidade. "No final dos anos 80, a publicidade representava 65% da verba de comunicação de uma empresa. Hoje, está próximo dos 40%", conta. Em entrevista ao Mundo do Marketing, Giacomini explica este fato e recomenda que as agências e anunciantes revertam esse cenário criando campanhas com foco no consumidor.

É verdade que o consumidor não acredita mais na propaganda?
Não, não é verdade. O consumidor está reticente em relação à propaganda. A pesquisa que fizemos proporciona uma nota de 6,5 da propaganda. Foi aprovada, mais é uma nota relativamente baixa. O que teve maior impacto foram os itens estéticos e a qualidade da propaganda, que teve uma nota melhor. O que deixou a desejar foi a parte ética porque o consumidor acha que a propaganda é evasiva e que muitas vezes é abusiva e enganosa.

A pesquisa foi feita especificamente para o livro?
Sim. Foi feita em São Paulo com consumidores e preenche a necessidade de obter indicadores mais objetivos para entender qual a percepção que as pessoas tinham com relação ao trabalho ético e de responsabilidade social da propaganda.

Quais as alternativas que a propaganda deve buscar?
Seria necessário que os agentes publicitários se empenhassem em veicular anúncios que não contivessem conteúdo abusivo ou enganoso. Claro que o dispositivo vem sendo trabalhado pelo CONAR e é anunciado no Código de Defesa do Consumidor, mas isso ainda acontece. Isso faz com que o consumidor tenha uma resistência em relação à propaganda.

O que configuraria uma propaganda enganosa ou abusiva?
Enganosa é aquela que mente, induzindo o consumidor ao erro. Por exemplo, quando uma marca diz que determinado leite tem uma certa vitamina.

Isso ainda acontece nos dias de hoje, com a atuação de órgãos reguladores e com a existência de um consumidor mais informado?
Sim. O que o ocorre é que a forma de enganar se sofisticou, está mais sutil. Vemos anúncios que sugerem determinadas propriedades que o produto não tem. Ou quando omitem informações, como juros e outros tipos de prestação.

O consumidor consegue discernir uma propaganda enganosa ou não?
Existem aspectos que podem ser observados na propaganda, que o consumidor pode se defender. Por exemplo, quando a propaganda omite que determinado produto tem ingredientes transgênicos, o consumidor não tem meios para testar, se defender dessa informação.

Se você pega um contingente mais popular da população com menor instrução, o nível de observação é ainda menor. O mesmo pode-se falar em relação às crianças.
Há consumidores com universos cognitivos diferentes, portanto, dizer que todo o consumidor é consciente em relação à propaganda não é algo razoável. Por isso, é importante avaliar o impacto de anúncios não apenas com o público-alvo, mas com outros que possam ser atingidos pela peça também.

O modelo de branded content pode enganar o consumidor?
Esse modelo surgiu em parte pelo fracasso da propaganda tradicional em atrair atenção ou gerar audiência. O que temos visto é uma padronização negativa, onde tudo está tendo uma qualidade insatisfatória, gerando depreciação na audiência dos comerciais.

Então a publicidade precisou encontrar outros espaços, o que inclui o merchandising, os infomerciais e esses programas de branded content. Mas isso às vezes acontece de forma enganosa, com informações que não são relevantes para o consumidor ou se perde no consumismo. Ela só pensa em vender, sem prestar serviço ao consumidor. Isso faz com que o consumidor rejeite também esses novos formatos de publicidade.

Tirando a propaganda, você vê outras formas de Marketing abusivas?
Uma delas é o telemarketing, que muitas vezes desconsidera o estilo de vida do consumidor ou mesmo o momento pelo qual ele está passando. O mesmo acontece em relação aos e-mails. A própria mídia, como as telenovelas, também, com uma programação que tenta vender, persuadir as pessoas. Quando o próprio setor de jornalismo tenta persuadir o leitor é preocupante, gerando uma perda de credibilidade como veículo de comunicação.

O que pode acontecer nos próximos anos em relação a esse cenário?
Há dois direcionamentos. É preciso questionar por que a publicidade é vista como invasão em diversos meios. A propaganda só vai ser aceita totalmente se ela prestar serviços éticos a sociedade. Quando a sociedade perceber isso, ela aceitará a propaganda. Ao contrário, será vista como invasora e será expulsa como aconteceu com o Cidade Limpa. O que aconteceu em São Paulo é uma sinalização do que pode acontecer em outras regiões e com outros formatos de publicidade.

O outro lado dessa questão é o negócio publicitário. Quando escrevi esse livro, em sua primeira edição, lá no final dos anos 80, a propaganda tinha uma participação de 65% dos investimentos promocionais. Hoje, está próximo de 40%. O que levanto nessa edição atualizada do livro é que um dos responsáveis por esse decréscimo é o concorrente ético. Na primeira edição, eu já dizia que a propaganda abusiva ou antiética criará resistências adicionais no consumidor, eliminando sua eficácia. As agências focam muito no lado do cliente e dão as costas ao consumidor.

O investimento em outros canais, como o varejo, e surgimento de novas formas de comunicação, como o Marketing Digital, também é um fator a se considerar, não?
Sem dúvida. A fragmentação da mídia e da audiência é outra razão. Não sabemos o peso do fator ético na descrença da propaganda, mas é sem dúvida um dos ingredientes que leva a isso.

No último Congresso de Publicidade houve uma postura muito defensiva por parte da propaganda, dizendo-se censurada. Algumas acusações são levianas ou aumentadas, mas o setor precisa sim se empenhar na questão ética por uma questão de competitividade.

Como as agências podem trabalhar para o cliente, sem trair o consumidor?
A propaganda deve ser análoga ao Marketing, tendo foco no cliente. No trabalho com o anunciante, isso pode funcionar de uma forma limitada, mas todos os agentes publicitários, principalmente o cliente, devem ter essa consciência. Se não, corre-se o risco de comprometer as vendas e, conseqüentemente, o negócio do cliente. O que se vê na publicidade, por exemplo, é o uso de humor sem aderência com a eficácia da propaganda ou com o uso de conteúdo que valoriza o anunciante, mas não prestam serviço ao consumidor, que acaba filtrando essas informações até um ponto em que fica insensível à persuasão publicitária.

A propaganda precisa ser encarada como prestadora de serviço, tendo foco no consumidor, que é justamente atendê-lo bem. A publicidade será melhor aceita se ela mostrar ao consumidor que agregou algo ao seu estilo de vida.

(Publicidade precisa focar no consumidor para recuperar credibilidade, do guilherme neto, com reportagem do bruno mello, para o mundo do marketing)


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quinta-feira, outubro 23, 2008

passe bem, você também

Temos na publicidade lugares-comuns tão clássicos que parece que viraram regras. Do ponto de vista de alguém paranóico e obsessivo por gostar das coisas como elas efetivamente são, isso soa o equivalente a um conformismo e uma falta de criatividade medonhos. Transmite a sensação de que a regra é essa e não pode ser diferente. Senão vejamos:

Margarina no café da manhã - Nunca chove, nunca ninguém acorda chutando o balde e/ou o cachorro, marido e esposa estão em irritante estado de harmonia, as crianças indo para a aula em êxtase de contentamento (nada mais falso), mesa posta como se fosse em um hotel e não tem empregada; nenhuma cara de sono, nenhum sinal de mau humor, a cozinha está limpa e sem bagunça alguma. Como se todos os lares fossem, ou devessem ser assim.

Lançamento de carro - O carro passa por uma rodovia perfeita, sem nenhum buraco ou remendo, acostamento impecável, em meio a um bosque em dia de sol e no detalhe da tomada junto ao solo, ele levanta aquela nuvem de folhas secas. Quantos VT´s de lançamentos de carro v. viu com esta clássica cena? E quando a cena é urbana nunca tem flanelinha.

Boazuda da cerveja - Cerveja emagrece, combate a celulite e deixa as mulheres muito mais gostosas. Verdadeiro? Falso? Para a publicidade, coluna um na cabeça. Nunca veremos gente gorda bebendo cerveja nos comerciais, tudo sempre será associado a corpos lisinhos e sarados e - outra vez - num clima de bom humor inaceitável. É aquele bom humor, forçado, bobalhão, beirando o ridículo. Significa dizer que ninguém nunca entrou num bar e pediu uma cerveja porque estava de baixo astral - justamente por causa disso.

Dinheiro para quem não precisa - Vamos experimentar agora as propagandas de bancos, os caras chegando nas mesas dos gerentes para pedir empréstimos estourando de alegria, como se estivessem ali para buscar um prêmio e não um empréstimo que vai ferrar o comprometimento de renda deles nos próximos meses ou anos. Os tomadores de empréstimos, quando vão aos bancos, é porque estão argolados. Argolado ri e festeja? Não, argolado tem cara de estressado em todo mundo. Menos nos comerciais dos bancos.

Shampoo com cabelos lisos - Essa aqui é tão antiga quanto clássica. "Vocês lembram da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos, quanta diferença!!!" Este é o bordão da famosa propaganda da Colorama, que tem um dos maiores índices de lembrança da publicidade brasileira. Pois bem, propaganda de shampoo tem aqueles cabelos lisos que a modelo joga de um lado para outro, que só que tem aquele tipo de cabelo consegue fazer. E olhe lá. Estou esperando um comercial de shampoo com cabelos pixaim e com gente feia, quer dizer, ´normal´. Espero sentado.

Gente feia na publicidade - Não existe, ou melhor, só existe em temasligados à agricultura. Reparem comerciais de tratores, defensivos
agrícolas, colheitadeiras. Daí escalam pessoas ´normais´, com rugas, cabelos desarrumados, roupas comuns. Quer dizer que quem trabalha na agricultura tem a aparência maltratada pela lida no campo em seu dia-a-dia.

Idosos na propaganda - Para efeitos de cosméticos, perfumes, relógios, carros, bebidas, calçados eles simplesmente não existem. Só valem para conservante de dentadura, spas, hotel-fazenda, produtos que disfarcem cabelos brancos, remédios para memória e fundos de aposentadoria.

Filme americano - Esse lugar-comum não é publicitário, mas tem um encaixe obrigatório em filmes que mostrem pessoas passando por aeroportos. Puxe pela memória e tente lembrar quantos e quantos filmes apresentaram aquela famosa cena do avião pousando com o detalhe da filmagem (take) nas rodas largando a nuvenzinha de fumaça emborrachada e com o clássico barulhinho? Foram às centenas. Nunca consegui encontrar uma explicação plausível para isso.

PS: TESE DO "PASSE BEM" - Lembram que num dos artigos anteriores eu comentei uma interpretação diferenciada do "passe bem"? Minha tese é de que quando concluímos algo com esta expressão, seu significado nada mais é do que um ´vá à m....!!´. Só que, por interferência direta do politicamente correto, dizemos "passe bem".

A colunista Juliana Wosgraus nos dá um exemplo, mais um. Em um dos posts no seu blog no www.diario.com.br ela manda recado para uma chata ou chato que tenta publicar comentários em seu blog protegido pelo anonimato e se intitula Boldo Quaresmim. Vejam só o final do texto dela:

"A gente não pode escolher os leitores que tem, mas dona Bolda, sugiro que não leia mais este blog e muito menos perca seu tempo mandando seus comentários xulos pra cá. Não leio mais o que você escreve, ao ver seu nome eu deleto em seguida, portanto, não perca seu tempo e nem o meu. Apenas passe bem".

(lugares comuns, do marcos heisse)


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quarta-feira, outubro 22, 2008

para ser um fracassado de sucesso há que ter sucessos neste fracasso

Olhando nas livrarias, nas prateleiras de livros de negócios e de publicidade, descobri um incrível nicho de mercado. Um tema pouco explorado. O que é uma raridade. Já que no mundo dos negócios não existe quem não seja explorado. Mas eu o descobri. Ali, abandonado. Sem uma publicação sequer.
E não é só isso. Nessa minha pesquisa informal notei que esse mesmo tema é totalmente ignorado em palestras, debates ou qualquer conferência de negócios que se preze.

Agora pensem comigo: um assunto que nenhum palestrante jamais palestrou, que nunca virou livro de nenhum homem de negócio e jamais foi motivo sequer de um artigo ou entrevista. É ou não é um nicho de mercado fabuloso?! Uma mina de ouro! Um candidato ao Nobel.

A essa altura se você não abandonou o texto, deve estar se perguntando:
“Mas que raio de tema é esse?!” Calma, mantenha a compostura.
Pois bem, prepare-se. O tema é: o fracasso.
Sim, ele mesmo: o fracasso é um tema muito desprezado.

Não sei quanto a você, mas eu nunca vi um bem sucedido profissional falar de seus fracassos. Assim, de peito aberto dedicar um livro apresentando suas frustradas táticas de marketing, exemplos de ações mal-sucedidas e prejuízos brilhantes.
“Meus Fracassos, por Fulano de tal”, pode esperar sentado que você nunca vai encontrar esse livro. Como também nunca vi um palestrante contando em detalhes seus mais incríveis erros, burradas, pisadas na bola, enfim, aquelas cagadas que parecem acontecer apenas na vida de gente comum, como eu e você. Vai ver ninguém fracassa, e o fracasso não passe de uma lenda, uma palavra criada sem sentido algum. Claro que não.

Bom, já que ninguém trata do tema, vou ser o primeiro, o pioneiro. Um visionário do fracasso. Para começar, não tenho sequer um grande prêmio internacional na minha prateleira. Nunca ganhei um leão do Festival de Cannes, nem sequer fui finalista.
Também não tenho um anúncio na revista Archive, no anuário do CCSP ou no One Show. Nenhum. Pode ir lá conferir.
Quer mais? Volta e meia o meu diretor de criação reprova idéias minhas. Sim, e não é só ele. Os clientes, vez ou outra, também reprovam. Foda, não?
Mais? Já trabalhei em 11 (onze) agências, e fui demitido de três delas.
De-mi-ti-do. Isso mesmo, me deram um pé na bunda.
E os fracassos não param por aí: no começo da carreira criei peças que hoje não desejaria para a empresa do meu pior inimigo.

Erros, fracassos, enganos, falhas, derrotas, burradas. Se não existissem, de onde teriam surgido essas palavras? O problema é que o mundo dos negócios e da propaganda está mais para um tipo de Olimpo, onde deuses, super-homens e gurus, que aparentemente nunca erram, jamais se enganam e nunca perderam clientes ou dinheiro, estão prontos para nos exibir sua perfeição em palestras, livros e entrevistas.

E o fracasso? Bom meu amigo, isso é coisa nossa, dos simples mortais.

Queria um dia ver um círculo de palestras, com os maiores nomes da publicidade e dos negócios, mas com uma única ressalva: “Você vai subir no palco, pegar aquele microfone e falar sobre as burradas que já fez na vida. Só isso, ok? Vai lá e arrebenta!”
Será que alguém toparia?

Não que eu prefira o fracasso ao sucesso ou que comemore as minhas derrotas.
Nada disso. Mas ainda penso que deixar de aprender com os erros é um erro maior ainda.

(enfim, uma novidade!, do fernando cabral, redator da OneWG, no acontecendo aqui)

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terça-feira, outubro 21, 2008

a crise da propaganda ruim,safada,opaca, ainda assim em altas rodas

Está virando mania falar da crise. E manias sao fenômenos retroalimentados - quanto mais a gente coça, mais coça. Quanto mais a gente come crise, mais ela nos come. Mas é irresistível e útil. Raramente uma crise foi tão fácil de explicar. As justificativas são irritantemente as mesmas e simples - excesso de liberalismo, crença na cura espontânea dos excessos, falta de transparência. E todo mundo tem culpa no cartório. Pois falemos um pouco da nossa crise - na propaganda.

A internet é a plataforma do liberalismo absoluto, beirando a libertinagem. É algo geneticamente constituído para contornar e oferecer soluções rápidas e simples para subverter as estruturas de poder. E, ainda que organismos arcaicos (certos governos, instituições e empresas) tentem desesperadamente construir ferramentas de controle, elas são sempre humilhadas pela criatividade ou sucumbem às virtudes incontornáveis que a internet tem também.

Mas a internet não é nem boba, nem nada. Ela crê piamente na cura espontânea. Isso significa que a liberdade absoluta de expressão e ação, no limite, separa o joio do trigo, descarta o que não presta pelo sufrágio popular e conserva o que a unanimidade elege. Sua doutrina, “Se o povo quer, Deus quer”, é inequívoca. O laxismo corrige o achismo.

Poderíamos pensar, no entanto, que, por detrás das intricadas teias da web, potencializadas por nossa infinita sede de aparecer e apoderar-se, somos todos os agentes trapaceiros e malandros que habitam esse templo obscuro. Mas a internet vai na contramão desse vício sedutor. Ao contrário, ela é a mais transparente das nossas criaçoes. O anonimato sucumbe e denúncias ganham proporções de avalanche num piscar de olhos.

A propaganda é, e sempre foi, uma espécie de ponte que conecta os dois lados do nosso sistema. De um lado, empresas que fazem coisas; de outro, pessoas que precisam dessas mesmas coisas. Para diferenciar umas coisas e outras e todas elas, criamos marcas que sao uma espécie de representação das próprias. Essas marcas são os atores da propaganda.

Se as marcas simbolizam os produtos, elas também tentam sensibilizar as pessoas, valendo-se da exploração de suas aspirações, sonhos, esperanças, complexos, frustrações. É aí que a marca seduz e estimula a mágica química do sistema - faz-nos escolher e comprar. Essa é a alma do negócio que ela é.

Mas na ponte que conecta consumidores e empresas, existe um pedágio, pago pelos primeiros aos segundos, e esse pedágio se chama “marca”.

Essa taxação será tão mais importante e significativa quanto melhor for precisamente a propaganda que a veicular. Para ser melhor, a propaganda se utiliza de muitos recursos e, embora o debate aqui seja extenso, convenciona-se, quase unanimemente, que a boa propaganda é aquela capaz de suscitar-lhe emoções genuínas. Propaganda boa é aquela que diverte ao invés de aborrecer, que questiona ao invés de amortecer. Propaganda boa é aquela que diz a que veio, com clareza.

Quando a propaganda é boa, portanto, é como se o consumidor estivesse pagando um extra pela capacidade que ela teve de emocioná-lo.

A propaganda torna-se assim um 'plus à gagner' (mais a ganhar) do produto e do consumidor.

Se a boa propaganda é um 'plus à gagner' de mão dupla, no entanto, quando a propaganda é ruim, é como se o consumidor estivesse sendo potencial e inconscientemente extorquido. O que seria uma propaganda ruim, portanto, nessa análise? Propaganda ruim é aquela que espertamente mascara o 'plus'.

As formas mais clássicas são o entorpecimento e a insistência. Outras sao requentar fórmulas. Ou ainda apelar para reputaçoes alheias para referendar escolhas. Propaganda ruim pode ser simplesmente também aquela que apela para recursos pretensamente técnicos e demonstrativos para enaltecer vantagens racionais (precisamente funçao de outros recursos de comunicaçao como a própria internet).

A propaganda ruim cobra o pedágio mas não garante a viagem. A internet, como vimos, é a mais poderosa das armas para escancarar opiniões, potencializá-las. Está também se tornando a ferramenta por excelência de escolha por produtos. A internet é a plataforma decisória da pré-compra. E é lá também que o extorquido inconsciente abre os olhos ou pode abri-los.

É como se o pedágio fosse se tornando mais claro, mais transparente. Esta crise é nossa. A crise da propaganda ruim, safada, opaca.
(fernand alphen, para o ônibus azul, fazendo valer o pagamento da passagem)

Now playing: Steely Dan - Glamour Profession via FoxyTunes

segunda-feira, outubro 20, 2008

nizam x fábio: todos contra todos e ninguém a favor do negócio que não seja o seu

1. Um amigo nosso, comandante da VASP, conta-me a estranha mensagem recebida por um piloto americano durante uma aterrissagem.

O avião da companhia norte-americana sobrevoava a Bahia, a caminho do Rio, quando um defeito no motor obrigou o piloto a providenciar uma aterrissagem no aeroporto mais próximo possível.

Na Bahia, justamente na pequena cidade de Barreiras, existe uma pista de emergência (se é que se pode chamar aquilo de pista) para os aviões das linhas internacionais. Raramente é usada, mas era a mais próxima da rota do avião. Assim, o piloto não teve dúvidas. A situação dele estava muito mais pra urubu do que pra colibri. O negócio era mesmo se mandar para Barreiras.

Pediu pouso durante certo tempo, dirigindo-se à Rádio local em inglês. A resposta demorou um pouco, mas acabou vindo. Alguém, com forte sotaque nordestino, falando um inglês arrevesado e misturado com palavras em português, respondia que estava ouvindo e aconselhava o comandante a procurar outro local para aterrissagem.

Há dias estava chovendo em Barreiras e a pista se achava em péssimo estado.

O piloto, sem outra alternativa, insistiu em pousar assim mesmo, e tornou a pedir instruções, ouvindo-se lá a dizer que estava bem, mas que não se responsabilizava pelo que desse e viesse.

Acontece porém que isso foi dito com outras palavras, ainda num misto de português e inglês. Assim:

— Ok. You land. But se der bode, I’il take my body out. (de Stanilw Ponte Preta, ou Sérgio Porto, para os menos íntimos. O texto consta do livro 10 em Humor, da Editora Expressão e Cultura)

2. Infelizmente não me foi possível assistir ao MaxiMídia. Fico, assim, com o relato feito por este Acontecendoaqui sobre a lamentável, mas esclarecedora discussão entre Nizan Guanaes e Fábio Fernandes (íntegra aqui). Transcrevo o que foi noticiado pelo portal:
“A discussão teve início logo após um discurso que Nizan Guanaes trouxe preparado sobre sua interpretação para a atual crise, na qual traçou um cenário bastante pessimista e sobre como as empresas do grupo ABC estão tomando precauções. Fernandes pediu a palavra para criticar o discurso de Nizan, afirmando que o painel deveria ser um debate sobre o momento e não um espaço para discursos. O presidente da F\Nazca S&S também criticou a visão pessimista de Nizan e seu modelo de atuação no mercado publicitário. “Você é responsável em grande parte pelo que está acontecendo”, acusou, atiçando os ânimos do painel.

2. Não, Nizan não é o único culpado. Fábio Fernandes, também é. Aliás, toda a geração de publicitários que se projetou na década de oitenta é culpadíssima.

3. Nizan, Fábio Fernandes, Washington Olivetto, Cláudio Carillo, Eduardo Fischer, Luís Grotera, Silvio Matos, Dorian Taterka, Roberto Justus, Celso Loduca, Marcelo Serpa, Alexandre Gama, só para citar alguns. Uma geração com raro talento e um faro especial para os negócios. Craques em ganhar dinheiro. Donos de trabalhos invejáveis. No entanto, incapazes de preservar as conquistas das gerações que as precedeu, porque nada deu de volta à profissão que lhe permitiu fazer isso.

Nada, absolutamente nada.

Desse mato não saiu um só coelho disposto a contribuir com o amadurecimento do setor. Um dia, quando algum pesquisador descrever a história recente da publicidade, eles serão registrados como grandes fazedores de negócio pessoal, que se aproveitaram da publicidade para satisfazer sua vaidade pessoal e fazer sua fortuna, sem oferecer nada de volta.

4. Narcisos da publicidade, passaram o tempo olhando seus reflexos no espelho das vaidades, desfilando na passarela de Cannes, exibindo seus leões no Brasil.

Distraídos, não perceberam – ou se perceberam acharam nada importantes diante do seu fascínio pessoal – que no entorno do trono onde se sentam, as coisas azedavam. Dividiam o tempo entre o espelho, o próprio umbigo e o puxa saquismo dos bobos da corte.
E os anunciantes se rebelaram. A sociedade pressionava. No Congresso e nos governos. os políticos deitaram e rolaram. Mas eles não ouviam. As águas do lado, onde eles, quando não estavam na frente do espelho, iam admirar a própria beleza, já estavam turvas, mas a vaidade já os havia cegado.

5. Foram necessários trinta anos para que percebessem que era preciso reunir a categoria. Mesmo assim, essa percepção não partiu deles. De nenhum deles.

Agora, com a água poluída lhes batendo na bunda, se acusam. Já é alguma coisa. Quem sabe, o Fábio Fernandes tenha dado o primeiro grito capaz de acordá-los e fazer com que eles aterrisem no mundo real. Tomara que não seja tarde demais.

But, se der bode, I’il take my body out.

(somos todos culpados, do eloy simões, no acontecendoaqui.com.br)
Now playing: Zakk Wilde - black label society - Lords Of Destruction via FoxyTunes

domingo, outubro 19, 2008

troféu lavínia vlassak: campanha urna sem alça

"O futuro da sua cidade é o seu futuro" é o fecho dos anúncios do TSE para a atual eleição. Acredito que para a maioria da audiência esta frase passa batido, parecendo apenas um desses chavões "bem comportados"para mostrar o quando eleição é coisa séria, que é preciso votar com consciência e outras obviedades.

Dizer que "o futuro da sua cidade é o seu futuro" talvez fosse até desnecessário, pois parece uma coisa óbvia, certo? Errado. Porque não apenas não é óbvio, como é uma grande bobagem.

Sim, porque o futuro de uma pessoa depende de mil e uma coisas que não tem necessariamente a ver com o futuro da cidade em que ela mora. Em primeiro lugar porque uma pessoa pode morar hoje numa cidade e amanhã em outra. Com a globalização as migrações entre cidades, entre estados e entre países são cada vez mais comuns. E o futuro de alguém que neste momento mora em São Paulo pode vir a acontecer no Rio de Janeiro, em Belém do Pará, em New York ou em Pequim. De tal forma que, para esta pessoa, se for eleito Kassab ou Marta, não fará a mínima diferença...

Em segundo lugar é bom lembrar de outras coisas que, estas sim, são bastante óbvias mas esta propaganda pretensamente "cívica" ignorou. O futuro de uma pessoa pode estar ligado, sem dúvida, à qualidade da educação que ela recebe. Só que a educação não depende apenas da administração da cidade, ainda que a pessoa esteja numa escola municipal e não numa estadual, federal ou privada. Aliás, se a pessoa já é um eleitor, ela certamente não tem mais idade para estar numa escola municipal, seja ela de lata ou não. De modo que, do ponto de vista educação, o futuro dela certamente não depende mais nada do município.

Em terceiro lugar e em quarto, quinto, etc... nada indica que se um prefeito for realizador, cuidar bem do transporte público, tapar os buracos das ruas, construir viadutos e outras funções óbvias (estas sim) para que a cidade funcione bem ou pelo menos melhor do que estava antes, nada indica que essas coisas possam influir diretamente no futuro dos cidadãos. Pois este depende de outras variáveis muito mais gerais, como o comportamento da economia, as oportunidades de emprego, o ambiente social e cultural de sua família, as habilidades pessoais de cada um e, por que não dizer, da sorte de cada um na vida, no amor e, de repente, até na loteria!

E tem mais. Quem é que diz que o eleitor está preocupado com o futuro da cidade? Todas as pesquisas indicam, ao contrário, que a decisão de voto se faz em torno de critérios bastante imediatistas, como por exemplo a promessa de não aumentar a tarifa dos ônibus logo após a posse... de não criar novos impostos ou taxas, de anistiar as multas... de construir uma escola ou um hospital que deve ficar pronto em três meses, e por aí vai.

A visão do eleitor municipal é de curto prazo e certamente nada tem a ver com o "futuro" da cidade, a não ser que se entenda futuro como o que vai acontecer no início do ano seguinte à eleição.

Uma pequena parcela do eleitorado, com certeza, vota com motivações mais políticas, a favor ou contra um partido, uma visão de mundo, etc. Porém mesmo o futuro desses eleitores mais conscientes não está ligado ao futuro da cidade e apenas, talvez, às conseqüências políticas mais amplas da vitória ou derrota de um partido ou um candidato para o futuro do país.

Em resumo, este slogan do TSE é uma bobagem total, uma dessas frases feitas que passa pela cabeça de algum criativo apressado, em fim de expediente, que não pára para pensar -- e que é aprovada por muitos outros que também não fazem uso da sua inteligência, se é que a têm.

A propaganda em nosso país, principalmente a de governos, órgãos públicos e estatais, está repleta de platitudes como esta que, se analisadas por um instante apenas, já se revelam destituídas de qualquer sentido ou então totalmente equivocadas.

Afinal, se até o governo federal adotou o slogan "Brasil, um país de todos", de que outras bobagens não serão capazes todos os demais? Sim, isto é uma bobagem porque se o Brasil já é um "país de todos", nada mais resta a fazer em defesa dos menos favorecidos: eles já devem ter tudo o que precisam...

E se, por acaso, o criativo que bolou este slogan pensou no futuro, como o TSE, e não no presente, e quis dizer que o Brasil ainda não é, mas vai ser, um país de todos, graças ao tão esclarecido e magnânimo governo federal, então este criativo se esqueceu que, mesmo para o menos radical dos esquerdistas, o favorecimento aos pobres sempre implica tirar alguma coisa dos ricos...

De tal forma que, por melhor que fique o país graças a tão sábios e probos governantes, a situação pode até ficar boa para uma maioria, mas nunca para "todos", mesmo porque todos têm o direito de ter opiniões divergentes sobre o que é bom ou não para eles e para o país. A começar pela oposição ao governo, a não ser que esta seja abolida por decreto, à moda Chavez.

Esta mania de inventar slogans nonsense é uma verdadeira praga em nosso país e que já vem de longe. Afinal, o que passou pela cabeça daquele criativo de outros tempos que bolou este "ordem e progresso" da nossa bandeira? Sim, pois será que alguém pode ser contra o progresso e contra a ordem? Só os anarquistas, talvez, graças a Deus. Ora, se esta frase sim, é uma obviedade, não precisava e nem devia estar na nossa bandeira.

Na maioria esmagadora de países do mundo a bandeira usa apenas recursos visuais. Só o mau layout precisa de legenda explicativa. E até que o visual da nossa bandeira faz boa figura: não precisava desta faixa branca com uma mensagem publicitária inútil e poluidora. Se o Kassab estivesse lá, na época, tinha mandado recolher a bandeira na hora por infração à sua "cidade limpa".

(mais uma derrapada em marketing do sílvio lefèvre)


Now playing: The National - Mr. November via FoxyTunes

segunda-feira, outubro 13, 2008

antes fossem macacos, os publicitários


a experiência dolorosa vitima uma vez mais os macacos. desta vez, da espécie rhesus.

confinados sem comida, um grupo de macacos torturados individualmente tem uma corda que quando acionada lhes fornece uma porção ao custo de uma descarga elétrica noutro macaco que está na outra ponta da corda.

após os primeiros choques eles aprendem que ao comer desta forma torturam ainda mais os da espécie. 87% dos macacos não puxaram mais a cordinha. mesmo após até três semanas sem comer, ainda que o espécime que levaria o choque não pertencesse ao grupo e fosse completamente desconhecido. depreende-se que o índice não é maior pois um percentual de puxadas foi necessário para o aprendizado da trama escrôta perpetrada e abalisada cientificamente por nomes e publicação de igual teor.

se os macacos fossem publicitários, provavelmente o índice dos que não puxam o saco, não puxam o tapete dos outros, seria baixíssimo ou, para ser mais direto: o índice dos que puxariam a cordinha para se dar bem fudendo os outros chegaria ao teto, que é o que faz a moçadinha de agora, dando bananas, a quem lhes conflitua, como símbolo da “auto-preservação”.

o mercado hoje é retro-alimentado de maneira mais acirrada por uma espécie de publicitário que para garantir uma boquinha não dá a mínima para quem leva o choque na outra ponta da corda. e são estes pulhas que enchem as bochechas das vogais e consoantes referentes a responsabilidade social. se é a lei da selva, é a dos homens e não a dos macacos.

seu sentido de preservação grupal é autoesterelizante. preocupam-se em organizar listas, clubes de criação, festas à caráter, e tudo que maquie (e não macaqueie, por favor) a sua idiotia. mas nenhum movimento, por mínimo que seja, para marcar posição contra o sistema estúpido e cada vez mais destrutivo de trabalho escravo e exploração do trabalho infantil, que é o que acontece com a contratação em massa de estagiários e ditos profissionais – mesmo os da criação – que ganham menos que o vigilante(e olhe que o vigilante não está nada satisfeito, e está coberto de razão).

tem alguém ganhando 600? há dezenas e dezenas prontos para puxar a cordinha. detonem-se os próximos e que se exploda a consciência de classe. é o que fazem ao se prontificar em fazer pela metade. aliás agora tem gente que não só faz de graça como até paga para fazer e se acha o tal por isso. não passam de carne para canhão para agências que publicam página inteira falando de prêmios mas que estão ou estiveram sob auditoria por outros expedientes além das notas frias de funcionários-empresas para pagamento de coisas parecidas com salários. ainda assim - agências e publicitários - comportam-se como madonas. agem como se não fosse com eles, que seriam de uma outra espécie, ainda assim comportamento que não teria a aprovação dos macacos.

ao puxar a corda da maneira como fazem, ainda que alegando que o ato justifica tirar a sua do pescoço, mostram exatamente o que são: geração sem caráter, sem ética, sem princípios, sem respeito a profissão que mais e mais estão a desgraçar. é a geração banner – não passa disso - e que tenta se fazer reconhecer como geração i-pod,i-phone –.

a tal puxada não tira a corda. pelo contrário: aperta ainda mais o seu e o pescoço de todo mundo que vai ser moído no jogo de uma relação de comiseração que fatalmente vai empobrecer ainda mais uma profissão da qual ninguém mais pode ser orgulhar, e consequentemente respeitar.

resta pensar que algum de nós segue sem roer a corda(everybody´s got something to hide except me and my monkey) e mantém uma postura onde a única corda que puxamos é a da descarga. ainda que não tenhamos a ilusão de limpar o mercado só com isto. afinal, esta turma bóia que é uma beleza.

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domingo, outubro 12, 2008

como melhorar o leiaute(o seu e o que você faz?)


A estética é um assunto que me fascina. Por que algumas coisas nos encantam e outras não? O que é a beleza? A revista Mente & Cérebro desse mês nos dá algumas pistas com o artigo “A neurologia da estética”, escrito pelos neuro-cientistas americanos Vilayanur e Diane Ramachandran.

Esses estudiosos defendem que existem leis universais da estética que podem transcender não apenas culturas, mas também espécies. Parece absurdo à primeira vista, mas pense bem: a gente acha borboletas lindas, mas elas não se enfeitam assim para a gente; os bichos têm aqueles desenhos sensacionais nas asas para atrair outras da própria espécie. Levante a mão aí quem conhece alguma cultura que não admire a beleza das borboletas. Dá para pensar nas flores, nos pavões, no Brad Pitt, na Angelina Jolie e em tudo aquilo que a esmagadora maioria das pessoas considera unanimidades visuais. O que será que essas coisas, bichos e pessoas têm em comum?

Eles procuraram características comuns e acharam essas. As duas primeiras são velhas conhecidas da Gestalt, mas as outras também fazem sentido, olha só.

Agrupamento: Acontece quando a gente vê uma imagem fragmentada, como um cachorro dálmata em frente à uma parede branca de bolinhas pretas. O nosso cérebro tem que se esforçar para reunir os pedaços e montar uma figura de cachorro, pois tudo parece misturado. Quando as peças se ajeitam e a gente consegue ver a figura, dá uma sensação gratificante. Aparentemente essa tarefa envia mensagens de prazer ao nosso sistema límbico e ele interpreta isso como algo em que vale a pena prestar atenção. Os Ramachandran acreditam que essa capacidade foi desenvolvida durante a nossa evolução para contornar a esperteza da camuflagem. Nosso sistema desconfia que as partes todas não são parecidas por coincidência e tenta prestar atenção na figura para montá-la. Isso faz com que coisas assim pareçam interessantes para nós, contribuindo para a harmonia estética.

Simetria: Aqui os pesquisadores também apontam a influência da evolução na nossa capacidade de sentir uma atração irresistível por coisas simétricas. É que se a gente observar, as coisas mais interessantes na natureza (presas, predadores, parceiros) são simétricos, fato que mais do que justifica a nossa atenção para essa característica. A natureza associa assimetria com genes defeituosos ou parasitas. Predadores saudáveis são mais simétricos, portanto, mais perigosos, e parceiros simétricos também têm saúde melhor para reproduzir nossos genes. Mesmo depois de tanto tempo, a gente continua achando as coisas simétricas mais dignas da nossa atenção do que aquelas meio tortas.

Estímulos hipernormais: Essa é a mais misteriosa das capacidades, pois tenta explicar como nossos neurônios visuais codificam uma informação sensorial. Aparentemente, o nosso sistema límbico provoca um choque de satisfação quando somos submetidos a alguns padrões estranhos. É alguma coisa na gramática perceptual primitiva do cérebro que ainda não se conhece bem, mas justifica porque as pessoas podem se apaixonar perdidamente por algumas formas esquisitas e até pagar fortunas para tê-las. Alguém pode dizer que algumas obras de arte são valorizadas por causa do mercado; mas e quem as comprou antes de fazerem sucesso, só porque gostou delas?

Mudança de pico: Essa é a capacidade que faz as pessoas apreciarem uma caricatura ou uma foto que ressaltem um rosto diferente da média, com alguns traços mais acentuados que o normal mas que mesmo assim se encaixam com harmonia (vide os narizes da Gisele Bündchen e do Tom Cruise, a boca da Angelina Jolie, os olhos gigantes da Anne Hathaway). Pesquisadores de Harvard descobriram que macacos reagem com muito mais animação a uma caricatura de um rosto do que a seu original, mesmo em detrimento da simetria.

Isolamento: Essa capacidade faz com que a gente consiga reduzir todos os detalhes de uma imagem a apenas suas formas essenciais. Essa é a razão pela qual às vezes achamos mais interessante o esboço de um pássaro rabiscado do que uma foto da mesma ave em alta resolução. É porque isso permite concentrar nosso sistema visual apenas no que é essencial sem se distrair com detalhes irrelevantes. Nosso sistema límbico também tem uns ataques de “menos é mais” de vez em quando.

Resolução de problemas perceptuais: Somos mais atraídos pela imagem de uma pessoa semi-encoberta por uma cortina transparente do que pela pessoa sem nada. Por quê? É que nosso cérebro adora descobrir um objeto escondido, é como um enigma visual. Cada vislumbre parcial do objeto faz a gente ficar contente e continuar a busca para ver o que há atrás. Não é à toa que publicitários trabalham tanto para evocar sensações de ambigüidade, mudanças e pico e paradoxos para fazer as coisas ficarem mais instigantes.

Pois é, esses são os princípios que tentam explicar a beleza comum, aquela que é consenso e, mesmo assim baseada apenas em princípios visuais estáticos. Mas penso que uma coisa muito importante foi deixada de lado, e que, para mim, faz toda a diferença: é a maneira como um animal ou uma pessoa se mexe. A graça com que um felino caminha, o domínio do corpo na dança, a elegância e a atitude de uma pessoa; esses detalhes têm o poder de transformar patinhos feios em cisnes com muito mais eficiência do que qualquer plástica.

Além disso, não dá para esquecer justamente aquelas coisas que não se encaixam em nada disso, o que é bonito só para a gente e para mais ninguém. Todo mundo, no fundo, tem lá seus filhotes de coruja.

(a beleza dos neurônios, da lígia fascioni, no acontecendoaqui).

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quarta-feira, outubro 08, 2008

ao mestre com carinho

o silêncio é a melhor homenagem.

porque, acima de tudo, o silêncio não puxa-saco. neste caso, quem cala não consente. tampouco aproveita-se da ocasião, seja ela qual for, para arrancar de exemplos mortos algum sopro de vida sobre a qual julgam aspirar aquele brilho de momento, o falso faro das mentes mortas de nascença.

por isso o silêncio é eterno. os elogios, murmúrios de uma lista que se auto-apaga diariamente.

in tempo: certas agências deveriam seguir a máxima de leo burnett: "tirem meu nome da porta" - quando vaticinou a possibilidade da desvirtuação dos seus princípios, que determinaram a fundação do projeto ao qual deu seu nome .

quase nunca, filhos ou não, os que ficam não conseguem tocar a obra com a qualidade da visão original do fundador, que exige ainda mais um trabalho silencioso, para verdadeiramente louvar o exemplo da verdade do mestre para com a publicidade, que lembrado por algum dos seus, ainda assim por eles mesmos cristalizado, como mais uma mentira do mercado post morten, nesta hora em que o silêncio, mais uma vez, deveria falar mais alto.

silêncio, ante a última tragada. no peito, fica o fogo ardido sem nenhum sinal de fumaça.



Now playing: Kula Shaker - Shadowlandsvia FoxyTunes