quarta-feira, março 21, 2007

o desatino da nossa anti-civilização

Lembra que o design nasceu em plena revolução industrial para possibilitar que mais pessoas tivessem acesso aos bens de consumo que antes eram restritos apenas a uma elite endinheirada? E que designers são sujeitos que colocam a cabeça para funcionar na busca de soluções que reduzam custos de produção e ao mesmo tempo encantem os usuários dos produtos? Pois é — o design é eminentemente um conceito que nasceu para traduzir o melhor da civilização: desde a escolha correta do material a ser usado (e como será descartado ou reutilizado), passando pelo aspecto emocional-simbólico-funcional, o ambiente, a embalagem, a marca, a informação e até o processo produtivo mais inteligente. O bom design é bom para todo mundo.

Dito isso, é de se perguntar como é que um conceito tão associado ao que é popular, simples, bem pensado e consciente pode ter se transformado em sinônimo do que é caro, supérfluo, exclusivo e fútil.

O designer italiano Bruno Munari, no seu inesquecível “Das coisas nascem coisas”, diz que o luxo não é uma questão de design, mas do triunfo da aparência sobre a substância e que a ostentação só serve para impressionar quem permaneceu pobre. E ele é ainda mais radical quando diz: “o luxo é, pois, o uso errado de materiais dispendiosos sem melhoria das funções. É, portanto, uma estupidez.”

Não ouso ir tão longe inclusive porque não tenho moral para tanto e não quero desprezar a importância econômica (e até social) da indústria do luxo. Um mundo reduzido ao essencial não tem graça e o conceito de supérfluo é o mais elástico dentre os existentes justamente pelas diversidades culturais e existenciais. Acredito que as coisas não são tão simples e o design tem um papel importantíssimo na tradução do valor simbólico do objeto. Isso pode levar a um paradoxo onde às vezes só o luxo pode traduzir o significado do objeto. Que fique entendido, então, que esse texto não é um libelo contra o luxo, mas uma tentativa de esclarecer conceitos que foram equivocadamente misturados.

Penso que uma boa saída é se analisar o conceito de nobreza. A palavra nobre, que vem de nobilis, significa, originalmente, o que merece ser conhecido, o que tem valor. Depois se tornou sinônimo de notável, célebre, ilustre, generoso. E o bom design é tudo isso mesmo.

Já a palavra esnobe tem origem na sigla s. nob (sem nobreza). Na antiga Inglaterra servia para designar os novos ricos, aqueles que tinham dinheiro, mas não berço. Que tinham poder, mas não educação. O comportamento mais freqüente e esperado dessa turma (naquele tempo e ainda hoje em dia) era justamente a ostentação gratuita, o exibicionismo, o comportamento inconveniente, o desperdício de dinheiro. Em algum grau, isso poderia traduzir bem o luxo, não acha?

Assim, parece-me que essa analogia vem bem a calhar: o design é nobre, o luxo, esnobe! Mas antes que alguém se ofenda, cabe lembrar que somos feitos tanto de nobreza e como de esnobismo, como convém a seres humanos normais de sangue vermelho.

o design dos esnobes, da lígia fascioni

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Celso!

Vi o comentário sobre a Hudartcha no seu blog. Fui colega de sala dela há muuuiitooo tempo... Vc poderia me fornecer o email dela para poder manter contato? Ou então vc pode passar meu email: me.trom@bol.com.br

Agradeço a atenção.

Roberto Pereira

Unknown disse...

Que tal pensar num design que não precise destruir meio mundo, heim?