domingo, agosto 24, 2008

efeito elba ramalho: a nova diagramação do diário de pernambuco

tem uma marca invejável o diário : o jornal mais antigo em circulação na américa latina. o que é sabido mas não notório enquanto entendimento deste significado para alem da contagem numérica do histórico, e do uso débil, como sublinha em suas fragmentadas ações de comunicação que a estampa sem diferencial. na base de suas estratégias de marca - se é que as tem - faz feio da história, uma vez que o mostrado - principalmente no âmbito da sua publicidade – é antítese disto. em matéria de comunicação e branding o diário nivela-se muito abaixo do nível de quem se acha respeitável. pasquins de sangue e bunda tratam melhor sua marca por mais bunda que ela seja.

longevidade por si só, não é garantia – e muitas vezes nem é sinônimo - de mais longevidade e ou respeitabilidade. e muito menos de share: of mind, market e, acima de tudo, heart. ou seja: para ser uma marca querida na memória dos leitores, para alem da liderança numérica e mnemônica, é preciso bem mais que séculos, cuja referencia, se não transformados em relacionamento emocional profundo, torna-se tão significativa quanto um jornal de ontem.

talvez por isso mesmo, pela inabilidade de lidar com seu patrimônio único de mercado, tira-se da cartola uma “reforma gráfica”, estampada por auto-elogios mas que tem cara de lift realizado em clínica de subúrbio(é nisto que dá usar serviços de um não-especialista) aparentemente determinada pela necessidade de modernização e vá lá que seja, para seguir os acórdãos do momento relativos aos ditos procedimentos de facilitação de leitura e valorização de espaços.

a idéia da modernidade e da jovialidade de fora para dentro costuma ser um desastre. ainda mais na mãos de quem não parece ter habilidade, conhecimento e sensibilidade necessária para realizar algo que quando não bem feito, torna-se a emenda pior que o soneto. daí um diário com cara da elba a nos contristar, senão pior.

jornais centenários não tem que ser modernos só na aparência. isto é, se é que tem que ser modernos no sentido pueril da palavra. quem nasce para ser clássico não se preocupa com a modernidade das aparências, vide os exemplos mundiais que classicamente tornaram-se referencia. a reforma do diário buscou o caminho inverso. tornou-o modernoso. síndrome que afeta toda uma geração que se diz antenada mais é expert em envelhecer no carbureto. esta reforma está muito longe dos padrões de modernidade aplicada a quem tem história e obra feita, e não a chuta para o balde, o que acontece quanto a modernidade visa o conteúdo e não a forma tão somente. lendo-se as justificativas de tal reforma, percebe-se que o equívoco foi levado a sério. e isto é algo que tem se repetido no panorama do mercado de propaganda e comunicação, pernambuco em destaque: esmero no discurso e fragilidade sem volta no projeto, campanha ou ação. tais bull-shits tem a ver com uma concepção distorcida de planejamento: planejamento neste mercado não vem a priori. vem a posteriori para "justificar" o injustificável. e a julgar pelo que se vê, a competência neste tipo de planejamento vai longe.

pra começar a reforma capou um caderno que não comprometia a leitura, em troca de um revistinha que de tão chinfrim vai acusar complexo dos encartes do varejo. não precisava ser uma new yorker. mas a qualidade é tão tosca em tudo: papel, projeto, editorial, conteúdo fotográfico) que não há justificativa que a salve.

já a escolha tipográfica que sinaliza a tal reforma, é outro sinal do equívoco cometido enquanto destruição de sua identidade. o lettering utilizado na identidade é aquele tipo de lettering que vai envelhecer muito antes que o ano acabe e já com endereço certo ao museu de falsas novidades(lettering inclusive marca de identidade visual de uma agência de publicidade lá para as bandas do parnamirim).
para além disso, há uma mistura de famílias cujo objetivo não é buscar o equilíbrio pela enarmonia da mistura, algo que poucos conseguem. é enarmônico mesmo por ignorância a princípios básicos onde salta a vista como um pedregulho a falta de continuidade na rubrica imóveis identificada por outra família. o diário hoje apresenta uma salada tipográfica que somada a "edição de arte" configurada pela diagramação utilizada, pede mais que vinagre balsâmico.

uma das provas maioria dos que se querem modernos é cair no erro pra lá de antigo de achar que ao utilizar fontes "novas" dá-se o efeito da juventude no todo. na maioria das vezes é justamente o inverso, como agora. acontece que só mesmo os grandes profissionais sabem que muitas vezes as tipologias clássicas costumam ser mais modernas do que as modernas sonham ser. principalmente se inseridas num espaço onde o arejamento e o desenho tipográfico da página leva em consideração o conteúdo enquanto formulação na sintaxe da impressão do todo.

no caso do diário, causa estranheza que se faça uma reforma onde o contexto seja amarrado tão frouxamente, inclusive apresentando o recurso de colchetes gráficos de uma pobreza estética lamentável e reveladora da falta de princípios que por sua vez levaram a capitulações que vão alem do recurso gráfico. e olhe que referências não faltam. na vizinha paraíba um outro associado dá o norte, por exemplo, para não falar do exemplo de a união.

assim, nem lift nem luxo. esta reforma só empobrece diariamente um veículo que cada vez mais descaracteriza-se retomando um passado na sua pior forma. e que a continuar assim nunca será um jornal graficamente moderno e atraente como por exemplo o são seus contemporâneos que não distorcem as suas plásticas, mostrando que não são raras as vezes que para ser moderno, principalmente atualmente e graficamente, é preciso saber cultivar o passado na sua projeção do futuro.

com esta reforma o diário reflete o mesmo pensamento que descaracterizou o patrimônio que o fez” pracinha” de uma cidade, para se tornar vizinho de igrejas universais.

e isto não merece, decididamente, primeira página. no máximo a notinha da coluna social que quando elogia registra justamente o contrario, tal como as belezas reformadas que andam por lá.

que o diário tenha voz para segurar a cara que se não fosse a sua não seguraria a de elba.

----------------
Now playing: Van Morrison - Keep it Simple
via FoxyTunes

Nenhum comentário: