sábado, julho 12, 2008

síndrome do espelho


Não. Isto não é uma carta de consumidor choramingando porque nasceu ontem e não teve tempo de aprender a ler mala-direta. Nem é uma resenha da reedição do livro de Oliviero Toscani. É só uma paródia do nome de um livro do Verissimo. Porque, sim, eu não tenho mais o que fazer.

Mas pra você não perder a viagem, aí vai a única verdade destas linhas:tem um publicitário mentindo na sua cara. Tá reclamando do quê? Eu disse que ia dizer uma verdade, não uma novidade. E quer saber? Aí vai mais uma piada velha: uma lista das mentiras que andam contando nas agências. Algumas velhas como a própria mentira e as promessas de políticos. Outras, novinhas como os estágios bem remunerados. E leia pra ver se eu estou mentindo.

1 – “Virei redator publicitário porque queria exercitar meu talento para escrever contos, crônicas e poesias.”

(Mentira! Você entrou nessa pra ganhar dinheiro. O que, aliás, nunca teria com seus contos, crônicas e poesias medíocres.)

2 – “Não trabalho por dinheiro.”

(A menos que isto seja dito por um estagiário de uma grande agência, é uma escandalosa mentira.)

3 – “Para chegar a este conceito, entrevistamos centenas de consumidores.”

(Mentira! Podem até ter entrevistado os consumidores. Mas chegaram ao tal conceito copiando a concorrência.)

4 – “Aqui na agência a gente nunca sai antes da meia-noite porque sempre tem muito trabalho.”

(Inclusive os freelas que o povo pega pra fazer no emprego.)

5 – “Nossa equipe é uma das mais bem pagas do mercado.”

(É por isso que o pessoal vive pulando de emprego em emprego por qualquer proposta.)

6 – “Nossos clientes são os mais satisfeitos do mercado.”

(Mentira! Mentira! Mentira! Cliente muito satisfeito tá puxando o saco pra conseguir uma boquinha na agência quando precisar.

7 – “Anunciantes bem atendidos por outras agências não nos interessam.”

(Tá bom. Agora conta outra.)

8 – “Eu sou criativo e me dou muito bem com o atendimento.”

(Pode apostar que tem sexo na parada.)

9 – “Escrevi exceção com dois “esses” de propósito, só pra testar o revisor.”

(Anrrã.)

10 – “A sociedade precisa se mobilizar para combater o trabalho escravo.”

(Ok. Então vamos começar remunerando os estagiários?)

11 – “Olha, não pense que você está sendo demitido só porque perdeu dois clientes esta semana, não. É contenção de despesas, mesmo.”

(E o medo de processo trabalhista, hein?)

12 – “Uma nova realidade está aí, batendo à porta das agências.”

(É mais uma leva de gente despejada das faculdades em busca de trabalho. E pare de conversa mole!)

13 – “Então, deixa a sua pasta aí que eu dou uma olhada depois.”

(Esse vai direto para o inferno.)

14 – “Pode cair o mundo. Hoje eu saio mais cedo.”

(Rá! Rá! Rá! Rá!)

15 – “A propaganda brasileira nunca teve tantos talentos. Metade deles está na minha agência.”

(Espera um minutinho que eu vou ali atrás vomitar e já volto.)

Pra concluir, depois de tanta mentira, uma verdade. Um diretor de criação, casado, pai de dois filhos, seduziu uma estagiária, saiu com ela e, ao levá-la de volta pra casa, sussurrou em seu ouvido:

“Amanhã eu te ligo.”

E ligou mesmo. Pra dizer à moça que ela estava na rua.

Agora, faça o teste. É só somar quantas dessas mentiras você já contou na vida pra saber o seu perfil. Menos de quatro: você é normal. De quatro a oito: vai se tratar. De nove a quinze: posso lhe mostrar minha pasta?

(as mentiras que os publicitários contam, do andré gomes,jornalista, redator e professor de criação e redação publicitária, que fugiu de São Paulo depois de dez anos de lida em agências e hoje cria campanhas e casos na pequena grande sorocaba, no interior do estado) enfim: mais um publicitário que também mente mas ao que parece sem muita convicção.

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