quarta-feira, julho 11, 2007

a síndrome de icaro



"não sabe resolver um job. mas tem uma mão para prêmio infalível".

elogio ou comentario venenoso? cada vez mais há quem fique na cola do icaro dória(sim o cara da campanha das bandeiras).

então chegamos a um ponto em que há profissionais especializados em ganhar prêmios? o que adquire importancia cada vez maior no negócio, do que para resolver problemas de comunicação mercadológica? não seria isto uma distorçao do conceito de eficiência em criação publicitária?

nizan guanaes, mesmo após os prêmios conquistados em cannes, diz que vai repensar seriamente a participação em prêmios. por ele a agência não teria escrito, e afirma que para o ano não quer mais participar. mas como se trata do nizan, sabe como é, não seria de admirar que a postura sabática modificasse.

a grande ironia(ou puta de uma sacanagem) é que as mesmas vozes consagradas que ora dizem não querem participar mais de premiações ou de outras que reconhecem que tem gente se especializando no show-off, são as mesmas que abrem a entrevista peguntando se você tem ao minimo pedigree de ccsp. tente encontrar vaga numa grande corporação de publicidade sem ter prêmios na pasta, pra ver o que acontece(irmã ou irmão e famíia que tem empresa ainda dão emprego)

vale alguma coisa o trabalho primoroso sob o ponto de vista de eficiência e eficácia de resolução de um briefing(se vale me diga oaonde) mas quem se importa? o que importa é o prêmio e pronto. depois, é muito chic adotar esta postura crítica em relação a feira de prêmos dos outros, dizendo que certos talentos só servem para ganhar prêmios, quando o job interno a partir de maio é fazer propaganda para ganhar prêmios(o resto do ano a gente já sabe como é).

e a coisa chega a um ponto que um certo ceo português, de uma agência esquálida criativamente, tira também sua lasquinha do ícaro)artigo publicado abaixo) engrossando o coro daqueles que querem derrubar o sonho de uma espécie de criador por eles mesmo elocubrada destilando um veneno para o qual eles suprimem no dia a dia o antidoto.




Mais uma vez, lá me juntei à peregrinação anual a Cannes. A minha empresa deu-se ao trabalho de montar um estaminé, o Havas Café, e logo na terça-feira deu uma recepção com o James Blunt ao microfone a cantar o «You¿re Beautiful». Foi giro. No dia seguinte, dei uma passeata pela Croisette e, tal como o nome indica, fui-me cruzando com os nomes grandes das indústria, o Marcello Serpa, o Rémi Babinet, o Séguéla, e mais aqueles argentinos e brasileiros todos, alguns deles meus colegas, de que tanto se esperava e tão pouco deram....
Mas o encontro mais extraordinário que tive em Cannes foi o Ícaro. Sabem quem é o Ícaro? O Ícaro é um rapaz extraordinário, que já por cá passou, e cuja profissão é ganhar prémios em Festivais. Para a FCB em Lisboa ganhou com aquela (fabulosa) campanha das Bandeiras que os que andam pela profissão bem conhecem. Notem bem, eu defini
a sua profissão como alguém que ganha prémios. Não confundir com uma outra parecida, a de publicitário, em que há que vender batata a saco, gasolina ao litro e champô à garrafa. Todos com marca, é claro, que a marca é o diferenciador dos tempos de hoje e sem ela lá íamos todos por água abaixo. Pois o Ícaro, só Clios, ganhou 20 e Leões, este ano, arrecadou cinco. Trabalha agora na Saatchi em Nova Iorque e deve estar feliz. A Saatchi em NY foi Agência do Ano, se calhar graças ao trabalho do Ícaro, do alto dos
seus 20 e tal anos e das dezenas de prémios que vai acumulando na sua bagagem....

O Ícaro merece tudo o que ganha. Eu, se fosse ao Festival de Cannes, dava-lhe já, apesar da tenra idade, uma Presidência Emérita. Digo isto sem qualquer desprimor para o Ícaro que se limita a ganhar honestamente a sua vida, fazendo aquilo para que lhe pagam. Se tivesse possibilidade, contratava o Ícaro (tentei, mas ele mandou-me passear) para ver se ele tocava a minha agência com a varinha de que só ele conhece o condão. Claro que não seria para trabalhar as contas dos meus clientes. Não é isso que o Ícaro faz. Apenas ganha prémios (às tantas foram as más-línguas que espalharam este boato...).

O Ícaro é o sintoma desse mal que vai minando esta bela profissão. Não ele, em si, uma excelente pessoa com um enorme talento. Mas o facto o que o «faz de conta» tomou a dianteira sobre a dura realidade, a tal do champô ao litro, essa em que a indústria verdadeiramente vive e pela qual os seus clientes pagam. Canalizemos pois as nossas energias para fazer pelos clientes e pelas suas marcas, antes de pensarmos em glórias vãs como vãos são tais festivais sempre que se afastam dessa realidade, não velando pelo trabalho autêntico, o que se produz por encomenda de quem nos paga para tal, para vender mais e, a seu turno, também ganhar a vida.

Ou então seremos como Ícaro - não o Ícaro de Cannes, falo do Ícaro mítico - voando em asas coladas a cera que um dia se derretem e caímos da altura onde teremos subido, acreditando poder chegar ao Sol quando a nossa vida é na Terra....

(Ícaro, se me estiveres a ler, gosto de ti, pá!! Ou, como diria o James Blunt, you¿re beautiful)

Ícaro... do ricardo monteiro, ceo da eurorscg portual e américa latina para o semanario briefing.

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