As plataformas digitais repetem fórmulas, e apenas reforçam aquilo que diferentes profissionais de áreas sociais apontam: uma sociedade egoica, onde as redes funcionam apenas e tão somente como veículos potencializadores, com lentes de aumento em atitudes individuais. E que vez por outra alcançam ‘movimentos de manadas’
Em outras oportunidades já abordei as questões envolvendo o Facebook e os padrões de comportamentos dos seus usuários.
Neste post concentro-me em uma análise das chamadas redes sociais, e até a ‘profissional’: LinkedIn.
Quando do seu surgimento, as redes apontavam com uma possibilidade inédita de interação, troca por compartilhamentos e possibilidades de interação em tempo real. Parecia, aos observadores, que encontrávamos um novo modelo, inovador e renovador, para relações e trocas sociais. A comunicação parecia romper fronteiras de tempo, espaço, classes sociais e culturas. Paradigmas seriam rompidos quase que na mesma proporção em que tecnologias fossem sendo criadas e disponibilizadas à usuários pelo mundo, através de gadgets variados.
Transcorridos, tempo e tecnologia, as projeções se mostraram diametralmente opostas. Hoje, o que vemos em larga escala é, apenas e tão somente, a variação de “mais do mesmo”. As plataformas digitais repetem fórmulas, e apenas reforçam aquilo que diferentes profissionais de áreas sociais apontam: uma sociedade egoica, onde as redes funcionam apenas e tão somente como veículos potencializadores, com lentes de aumento em atitudes individuais. E que vez por outra alcançam ‘movimentos de manadas’. As pessoas reproduzem e amplificam aquilo que nem entendem o que seja.
Ao invés de estreitamento e proximidade, as redes em geral, oferecem a solidão, o isolamento e ensimesmamento de indivíduos.
Do ponto de vista de compartilhamentos, nota-se uma padronização infantilizante de postagens, em geral compostas por itens de simplificação de uma imagem e uma foto. Com o desenvolvimento e facilidade de criação de vídeos, ganham notoriedade os rasos e rápidos. O processo se repete de forma entediante por plataformas ditas de mídias sociais, mas também alcançam redes consideradas profissionais. Um exemplo disso, foi quando o LinkedIn passou a permitir que fotos e vídeos pudessem ser anexados. A partir deste ponto a rede social virou um braço amigo e semelhante de redes como Facebook. A quantidade de insignificâncias aumentou e escondidos os logos de identificação da plataforma, não somos capazes de determinar em que rede estamos, tal a similaridade desinteressante compartilhada.
De outra sorte, mas igualmente repetindo modelos cansativos temos as ditas pílulas de motivação, autoestima ou autoconhecimento. Repetem-se, ad nauseam, pelas diferentes plataformas como forma de servir de “incentivo” ou expressar “pensamentos”. Óbvio que estão longe de uma reflexão, e tornam-se apenas modismos desconfortáveis, repetidos exaustivamente por toda uma rede. É comum vermos a mesma pílula compartilhada “N” vezes até à exaustão. O fato merece destaque, pois revela um ‘sedentarismo social’ implícito nas repetições constantes de postagens alheias, em especial na ausência de busca de conteúdos inéditos: afinal, é sempre mais fácil e mais rápido copiar ou compartilhar o que já está ali pronto. The lowest hanging fruit (O fruto mais fácil a ser colhido).
Mas ainda há aquilo que, de mais vil as redes tem produzido: a agressividade. Tal agressividade chega às raias de produzir discursos xenofóbicos, preconceituosos, racistas, e de muitas outras formas de ataque utilizando-se o anonimato em rede para esconder-se grosseira e covardemente daqueles a quem se dirige todo seu ódio destilado.
Quando isso não ocorre, temos apenas a superficialidade.
Ninguém mais é capaz de ir além de três parágrafos, quer para escrever, quer para ler.
Daí o uso de postagens imagéticas para “facilitar” supostos conteúdos. E é neste terreno que a pasteurização apresenta-se como a mais aterradora em rede: os conteúdos tendem a ser rasos e simplistas. Posts proliferam-se como apenas exercícios de recorta e cola e em raras possibilidades encontramos uma escrita fluente, aprofundada e consistente. Aquela que é pensada intencionalmente antes de ser postada. Aquela que de fato é uma criação.
A massiva mediocrização também é um elemento de repetição e constância em rede.
Guardo para este ponto aquilo que considero o ápice do que chamo fórmulas massantes, desinteressantes e sem criatividade: as listas.
Odeio visceralmente as listas!
E odeio a partir de duas constatações: será que quem escreve não consegue ser claro, didático e incisivo se não dispor numericamente o que quer falar? Ou será o leitor considerado tão incapaz que, se não for através de uma lista, se perderá no meio da leitura.
DEPLORÁVEL.
É a única palavra que consigo encontrar para designar esta forma de escrita que vejo aos borbotões em inúmeros posts, escritos muitas vezes às pressas e, que copiam o que um dia foi uma grande sacada. Hoje é só mais uma forma de perder importância e valor de conteúdo.
O que é seguro afirmar, é que as redes não se renovam exatamente porque seus utilizadores não desejam isso. Exprimem-se e buscam sempre a mesma forma de repetição de fórmulas, e mesmo quando uma nova rede é lançada, sua adesão dependerá em grande parte de sua capacidade de imitar e colar a anterior. Em última instância, são os usuários que tornam os ambientes estagnados, cansativos, repetitivos e extremamente distante daquilo que possa se chamar criativo, inovador ou agregador.
As redes apenas massificam e distribuem conteúdos pasteurizados. A multidão apenas repete a fórmula, sem nada questionar ou criar. E isso me preocupa, porque nunca antes tivemos um exército tão grande que apenas responde a estímulos, ou neste caso, a cliques.
Como digo, não sei para onde vamos, mas sei que vamos muito mal!
*redes sociais, a perpetuação de um modelo maçante e infantilizado opinião da iliana rezende, reproduzido na forum http://www.revistaforum.com.br/ , do Jornal GGN