Foto: Reprodução Rodrigo Sacramento
Cenas do documentário
Century of Self, que Adam Curtis produziu para a BBC. O filme retrata a
vida e o impacto do trabalho de Bernays na sociedade moderna
Baseado no conceito freudiano de que um cigarro não é só um produto, mas também um símbolo fálico, seu sobrinho Edward Barnays criou a primeira grande campanha viral da história: contratou modelos para fumar em uma passeata como se fossem militantes feministas desafiando o poder masculino
Cara leitora, sabe esse cigarro que tem, ou que logo
mais terá, entre seus dedos? Pois é... Freud explica. Melhor dizendo, o
sobrinho do Freud explica. Seu nome, Edward Bernays, pouca gente
conhece. Mas há quem diga que as consequências de seu trabalho definiram
mais a sociedade do século 20 do que seu famosíssimo tio. Pois, se
Freud é o pai da psicanálise, Bernays é o pai da sociedade de consumo.
E, como primeiro grande projeto, o austríaco radicado nos Estados Unidos
resolveu convencer as mulheres de que elas poderiam fumar cigarros.
Aliás, de que elas deveriam fumar cigarros. Trip explica.
Filho de Anna, irmã de Freud, Edward Bernays começou
sua improvável carreira como parte do esforço da propaganda americana no
final da Primeira Guerra. Seus releases para a imprensa e sua
habilidade em persuadir veículos de comunicação ajudaram a transformar o
presidente Woodrow Wilson em uma celebridade na Europa.
Ao voltar para os EUA depois da guerra, Bernays tinha
um objetivo em mente: “Eu queria tentar aquelas técnicas de formação de
pensamento de massa em tempos de paz”, ele recordaria em uma entrevista
de 1991. Em vez de exércitos e países, ele ofereceu seus serviços para
as maiores forças econômicas emergentes naqueles anos de 1920. As
corporações.
A palavra propaganda era malvista no pós-guerra.
Associada às campanhas ideológicas alemãs. Bernays trocou apenas o nome
para “relações públicas” e abriu um escritório em Nova York. Seu
primeiro cliente foi a Corporação de Tabaco Americana. Os fabricantes
queriam saber se ele poderia fazer algo para dobrar o consumo de
cigarros nos EUA, já que metade da população, as mulheres, sofria
preconceito por dar baforadas em público.
Muito por dentro das teorias de seu tio, Edward
entendeu o cigarro não como um produto, mas como um símbolo fálico. E
percebeu que, se buscasse uma forma de associá-lo ao poder masculino e
aos desejos inconscientes das mulheres de derrubá-lo, os cigarros
ganhariam um significado mais profundo, quase irresistível para muitas
delas. Sua ideia foi brilhante e maquiavélica. Em vez de comprar
anúncios, contratou um grupo de lindas debutantes e avisou à imprensa
que militantes feministas, lutando pelo direito de voto nas eleições,
iriam acender as “tochas da liberdade” no desfile de Páscoa em Nova
York.
Cultura do desejo
Em pleno 1º de abril de 1929, dezenas de repórteres
estavam a postos quando as moças, todas juntas, sacaram cigarreiras de
suas meias-calças e fumaram em público. No dia seguinte jornais no mundo
todo relataram o ocorrido. E o cigarro, de um ato feminino vulgar,
tornou-se uma bandeira da libertação feminina. As vendas de cigarro
dispararam já na semana seguinte.
Bernays ainda tratou de pagar Hollywood para inserir
mulheres fumando nos filmes. “A ideia não era anunciar, mas ocupar as
notícias”, disse certa vez. Com o dinheiro que fez com seus serviços de
relações-públicas, Bernays chegou a mandar dinheiro para que o próprio
Freud o ajudasse com estratégias de “construção de consenso”, como
chamava. Combinando psicanálise e showbiz, manipulava desejos e impulsos
primordiais para indústrias de automóveis, eletrodomésticos, roupas,
alimentos... A lista corre. Tudo com um objetivo claro: trocar uma
economia baseada em necessidades por uma baseada em desejo. “O negócio
era fazer com que a pessoa não quisesse um produto porque ela precisava
dele. Mas porque ela iria se sentir melhor ao tê-lo”, definiu, poucos
anos antes de morrer quase anônimo, em 1995, em um mundo completamente
mergulhado em uma cultura de consumo baseada em desejo. Curioso, e
tristemente adequado, que tudo tenha começado com um nada inocente
cigarrinho.
(na revista trip, secção salada, com edição do millos kaiser)misterwalk comenta: muito bonito então né? você ai falando que a sua agência digital é pioneira em estratégias não convencionais, que a sua equipe, muito jovem, entende como ninguém das técnicas virais, vendidas falaciosamente como não só a mais nova mas a única arma que funciona em tempos hodiernos para aquele blá blá blá todo das redes sociais. não passam de tretas autopromocionais falastronas. verdadeira meleca produzida por quem acha que criar burburinho é a mesma coisa que efetivamente modificar(para o bem e o mal) comportamentos de consumo, que são"contabilizados na contabilidade contábil das empresas". todo o mais é masturbação que freud ou mesmo a trip explica.
Um comentário:
Rapaz...capaz do primeiro de abril como dia da mentira ter surgido dessa história, não?
Maravilha de registro, Celso!
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