domingo, julho 26, 2009

palavras cruzadas


sorumbático, ímpios, esgar, acídia, atavios, agônico, fecaloma, enxúndia, oblata, choldra, vilegiatura, postectomia, perfunctória(rubens fonseca, espraiado pelos 27 contos de ela, companhia das letras).

dicionário, no eres tumba, sepulcro, féretro,túmulo, mausoleo,sino preservación,fuego escondido,plantacion de rubies,perpetuidad viventede la essência,granero del idioma. (oda al diccionario, pablo neruda)

gosto de descobrir palavras. de empregá-las na hora e medida certa, com maior ou menor dose de propriedade, embaladas por vezes em dulcoras de ironia e cinismo, sem desprezar a acutilância – ou pelo menos tento.

é certo que provavelmente muito já fiz disso por puro dandismo, certo prazer tolo mas compensatório, sabe-se lá do porquê, de ter por menos ou mais ou de ter e demonstrar superioridade sobre os outros. de uma maneira que, pensava eu, não fosse humilhante na essência, mas acachapante no resultado sobre os detratores de plantão: publicitários e jornalistas, a maioria do meus parcos leitores. aliás, tenho como medida do meu fracasso(ou sucesso) o pouco número de leitores. tivesse mais e ficaria muito desconfiado de mim próprio. que não me vendi à quantidade, embora, certamente, não tenha atingido a qualidade por todos os lados.

costumam considerar-me metido a falar difícil ou agressivo aos extremos, o que é deveras contumaz, no sentido de que era o que lhes restava dizer. já que no conteúdo, mantenho-me coerente. e certamente nunca pusilânime como eles, na sua ignorância não só vernacular, mais também nos propósitos da ânsia por escrita de consenso, ou genuflexória. escusado dizer também que a grande maioria são portadores de ignorância diplomada ou coisa parecida(não é para isto que servem os diplomas hoje em dia?). e digo mais, se os seus contendores replicam-no por questão de estilo, tinta ou vocabulário, são eles e não você que não tem conteúdo. a simplificação em busca de audiência é tão ou mais afetada que a afetação da pretensa erudição em busca de outro tipo de reconhecimento. aliás, em se tratando de publicidade, " às vezes simplicidade implica simplificação grosseira sim". e é sintomaz que a maioria deles gosta de atribuir, a quem lhes contraria, os seus trejeitos, típicos de quem continua emparedado na fase anal.

no jornalismo onde já fui profissional de carteirinha, recordação aleatória, um dos meus maiores arqui-amigo-inimigo - antes libertário-anarco-colunista de plantão, hoje homem de confiança de governos e jornais de donos senatoriais com centenas de processos (que, claro, não vão dar em nada) às costas - com quem gostava de terçar armas, classificou-me como um deslumbrado pela própria inteligência. uma maneira subterfugia de revelar na forma falsamente elogiosa, não a admiração mas, sim, o sentimento de que-seja-lá-o-que-for-sobre de quem teimava, doidivanas ou por excesso da razão, em colocar o dedo na ferida ou como gostava de dizer eu, no fecaloma dos poderosos, que não estava obviamente localizada no reto, desprezando o status-cu que todos perseguem escravizados nesta pescadinha de rabo na boca que é o de procurar estar bem com todo mundo. ou como dizem agora de investir no capital social( caprichar no marketing pessoal, na construção de redes sociais, e melecas outras do tipo - o que inclui doses, intragáveis para mim, de lambecuzismo. se o preço de ser lembrado é o gosto de merda na língua que se aprofunde sobre mim a ermitandade.

contudo, devo dizer, nem uma coisa nem outra. que minha admiração pela descoberta de novas palavras – e de novos usos pelas tornadas banais - sempre foi verdadeira. basta dizer que durante muito tempo, e ainda hoje, o aurélio era o meu livro de cabeceira - dividindo neste momento espaço hoje com houaiss, antônio cândido, flaubert(bouvard&pecuchet), nietszche, sartre e marx(ultrapassado? pois sim) – e que depois do sexo era a coisa mais prazeirosa a descobrir na cama. para alem do fechamento das contas, que com o salário de jornalista que sempre viveu na contramão, num tempo que nem se utilizava a expressão outsider, que no afinal dos tempos virou pura afetação, como hoje quase tudo é, era mais difícil do que orgasmo múltiplo masculino.

buscar a intimidade com as palavras ditas difíceis – e principalmente com seus significados - não é o mais apropriado para quem busca ser compreendido na essência, seja em blogues, seja em jornais, seja no que for. mas de que vale a compreensão daqueles que não compreendem nada mais do que já foi dito e feito que não seja o meneio de queixos que não tem mais a parte superior da cabeça(e do caráter) e que vivem com vocabulário entorpecido sem consultar os demais significados de palavras, fatos, pessoas e coisas? tratadas pelo dicionário dos atos com significados específicos que de tão tortuosos, ora traduzem-se por tabuísmos, ora por achados só encontrados nos conteúdos de sinonímias e antonímias encartados como especiarias do léxico. no jornalismo e na publicidade de hoje já não há o que dizer. sem palavras?

reler rubens fonseca com sua linguagem de carne crua entrecortada por piercings lêxicos é um gozo cada vez “ mais longo e purgante “ sobre a choldra, nesta exercício de redação onde cruzam-se palavras que muita gente acredita estéreis ou inúteis mais que estão vivas e pulsando para muito além do que, ou sobre o que escrevemos ou não lemos ou sequer pensamos.

p.s. demônimo não sou eu próprio tanto assim como gostaria. apenas é um pseudônimo de designação imprecisa que abrange potencialmente muitas pessoas, como por exemplo, um amigo das artes, estudioso, especialista, etc., e claro, amigo dos dicionários. na verdade estes sim, sempre muito mais amigos do que eu deles, afinal, nunca me faltaram e eu, a eles, a quase todo instante.

Now playing: Catia De França - vinte palavras ao redor do sol
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