Sobre rigor e futuro
O segundo Anuário da gestão da atual diretoria já está julgado e premiado.
Foi mais um ano muito duro. Muito poucas peças dignas, na opinião de alguns dos jurados, de entrar no Anuário e fazer parte da memória do ano de 2008.
Muitos estão insatisfeitos com esse resultado, enquanto outros acham que é exatamente esse rigor o remédio que precisávamos.
No meu caso, acho que esse rigor reflete duas coisas bem claras:
1. A real, a veiculada propaganda brasileira não vai bem.
2. O nosso júri é mais criterioso que o do D&AD, One Show e Cannes juntos.
Talvez o segundo seja conseqüência do primeiro.
O rigor como arma de defesa. Se o trabalho da minha agência não está bom, então o trabalho de todas as outras também não pode estar. E assim posso passar despercebido.
Sempre que estou num júri qualquer e vejo pessoas defendendo o rigor absoluto, eu desconfio: se o critério para julgar as peças dos outros é tão afiado, por que ele também não pode ser usado na hora de avaliar o próprio trabalho que sai da agência? Se fosse, com certeza estaria na frente de um dos maiores criadores do mundo.
Sinceramente, acredito que agências não são times de futebol.
Uma sala de júri não é um campo e jurados não são torcedores que defendem seu time mesmo quando um gol é feito com a mão e é incapaz de reconhecer no outro time um mérito qualquer.
A exigência de comprovantes concretos de veiculação, as regras rígidas que essa diretoria introduziu expuseram a ferida que todos nós sentíamos coçar há tempos. Que hoje, comparado com o passado, são muito poucas as agências que realmente procuram vender um produto criativo, diferenciado e surpreendente para todos os seus clientes e veiculá-lo.
Essa é a realidade do nosso mercado e por isso mesmo montamos essa chapa.
Queríamos incentivar toda uma geração de criativos a buscar idéias que solucionem de verdade os problemas de nossos clientes. Demonstrar aos anunciantes que a criatividade vende mais do que o clichê.
E se mais agências produzem um trabalho de ponta, veiculam esses trabalhos, mais empregos interessantes aparecem, maiores os salários, maior a valorização da nossa profissão junto a quem paga a conta.
Sinto na carne o quanto esse processo é dolorido para todos nós. Mas sinceramente acho que em breve podemos chegar lá. Num mercado mais criativo e ao mesmo tempo bem mais maduro.
E falando em futuro, gostaria de abrir aqui uma questão.
Quando o Chester me intimou a assumir o Clube, ele o fez com o argumento de que não poderia passar pela profissão, usufruir o que ela tem de melhor, sem dar uma contribuição à única entidade totalmente dedicada à criação publicitária brasileira.
O argumento pesou. Aceitei e montamos uma chapa de talentos inquestionáveis, que acreditavam nas mesmas coisas.
Juntos tomamos decisões complicadas, polêmicas, mas que todos nós achamos serem fundamentais para dar um novo sopro ao Clube.
Não vou aqui fazer uma lista de conquistas, feitos e melhorias,
pois nunca acreditei muito em auto-elogio. Mas posso e devo elogiar a forma com que toda essa diretoria comprou algumas brigas e se dispôs a mudar o Status Quo de tantos anos.
E também agradecer à Ciça, ao Giba, à Laís e a toda a equipe que eles representam pelo profissionalismo com que dirigem o Clube. Com eles por perto ser presidente, vice e diretor é moleza.
Agora, chegou a hora de discutir o futuro. Há muito mais para fazer, mais palestras, mais espaço para os estudantes, para todas as disciplinas.
Valorizar o ofício tanto do criativo como de designers, web designers, fotógrafos, diretores, ilustradores e músicos.
Quando aceitei, deixei claro para todos que seria apenas por um mandato. Agora, chegou a hora de começar a discutir quem poderia encabeçar uma nova chapa para continuar a mudança do Clube e ajudá-lo a enfrentar os tempos complicados
que estão apenas começando.
Sem muita originalidade, vou usar o mesmo argumento que o Chester usou comigo. Quem assume o Clube tem, assim como todos nós que escolhemos essa profissão, o dever de manter o Clube saudável, vivo e dinâmico.
E para isso, precisamos de nomes que sejam agregadores. Pessoas que querem fazer do Clube mais que apenas uma premiação anual, em que se mede o tamanho do talento de cada um contra o talento do outro. Fazer dele algo muito maior que uma competição de agências/times de futebol.
Espero sinceramente que a nossa chapa continue. Que dela saia um nome de consenso e que se disponha a continuar a valorização da nossa pequena, mas fascinante, indústria.
E seja quem for que aceite essa tarefa, de dentro ou fora da chapa, conte sempre com meu apoio. Dentro de alguma chapa ou mesmo de fora, ajudando a trazer nomes importantes para palestras, dando sugestões e palpites quando requisitado.
Só gostaria de pedir algumas coisas:
Que o faça para o bem da nossa profissão, e não de sua agência ou de si mesmo.
Que busque a valorização da propaganda de verdade e da discussão aberta.
E seja o mais generoso que puder com o trabalho dos outros e com todos que fazem dessa nossa profissão ainda uma das mais divertidas que existem.
Um abraço,
Marcello
x-x-x-x-x-x-x-x-x-
(desde a criação do cemgraus que nos batemos por isso. e por isso mesmo só levamos porrada, o que só nos faz acreditar que estamos certos. ainda mais num mercado onde donos de agência pagam para aparecer em colunas sociais, que como já dizia o bardo, é o passo anterior a coluna policial. alguém escutará o serpa? duvido muito. ainda mais esta geração que aí está que além de anônima, não é de nada)
Now playing: Black Merda - Over And Over via FoxyTunes
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