"Na empresa que você está ou em outra que pode pagar melhor e que está havida por pessoas que ajudem ela a encantar mais seus clientes."
o texto acima, assim publicado em sua versão original no gogojob, é de um redator sócio-diretor de criação, tido como referência no mercado pernambucano e quiçá regional.
topadas na língua todo mundo dá. não há quem escape da madrastice da língua, já afirmou certa vez um filólogo maioral, em figura que também parece pixotada.
é certo que trocar ávida, por havida, é mais que uma topada. chega a ser quase um fratura exposta. mas não há porque crucificar, tripudiar ou denegrir quem quer que seja por tal. de há muito todos os que detratam os publicitários por seu fraco domínio do idioma - no tocante as normas de sintaxe castiças - aprenderam que somos essencialmente produtores e operacionalizadores de figuras de linguagem - e não lexicográfos de plantão - o que, claro, não nos exime do esforço de dominar minimamente o básico de regras, que estranhamente não são nada básicas. e isso sem engasgar com mais esta sopa de caroços da nova reforma ortográfica, que só vai servir para nos tornar ainda mais estranhos à nossa própria língua.
pois bem, ao ler o artigo, constatei o percalço e o apontei no espaço destinado aos comentários com a observação: havida por pessoas? não seria ávida? e entre parênteses:(convém não explorar e pagar mal aos revisores) o que apenas referencia uma leve chiste ao tema de fundo do artigo, e que julgo não deprecia em nada o autor. até porque(sim o meu calcanhar de aquiles é o uso do por que, por quê, porque, porquê)por mais que discorde da postura de quem quer que seja, não usaria do recurso(baixo) de procurar na correção gramátical ou léxica o que acho devo combater no campo das ideias.
pois bem, o meu comentário simplesmente foi censurado - mas o texto, alguém duvida? foi imediatamente corrigido - o que caracteriza uma atitude cujas considerações pedem adjetivos que os tenho na ponta da língua mas que sentem a falta de homens com algum caráter que os mereçam levá-los na fuça, tivessem eles bagos para tal.
isto feito, ainda enviei um segundo email onde textualmente dizia: muito bonito gogojob: censura o meu comentário mas faz a correção, que, obviamente !?, também foi novamente censurado, enquanto comentários de genuflexão e porra-louquice eram publicados à risca.
o episódio não deixa de lançar luz sobre a sustentação do ciclo de exploração e do mal pagar que também é fortificado por este tipo de sprit de corps, que chega as raias do lambe-cuzismo. e que só poderia mesmo partir do arrivismo que gere o pensamento que está por detrás do site: antes da utilidade pública, a utilidade pessoal de tentar colocar em evidência o nome de quem por trabalho não vai além do bobismo que aparentemente inofensivo já destrói o caráter das ditas novas cabeças, justamente aquelas que deveriam estar combatendo o ciclo que
as avilta sem dó nem piedade. mas aí seria pedir demais. até porque, quem nunca leu althusser( a ideologia e os aparelhos ideológicos do estado, por exemplo) coisa que os publicitários de antigamente liam, só vai perceber que são justamente as vítimas que dão continuidade ao ciclo de dominação e consequentemente da exploração e dos mal pagos, principalmente ao fazerem-se lambe-botas dos exploradores. é esta ilusão demarcada, não se sabe até que ponto inocente e não premeditada, que em nome da falsa proximidade ou intimidade com os donos do poder corrói a identidade profissional de muitos que tentam de forma bisonha assegurar o que quer que seja que não seja o papel de puxa-saco. basta ver a profusão de textos auto-elogiáveis no endereço, e o correr rapidinho para consertar o período de quem teoricamente lhe "pode" dar emprego, mesmo que neles sejam explorados e mal pagos, isso quando pagos.
ainda assim, apesar de tal manobra canhestra, o texto continua com problemas, no mínimo de cacófato ou seja: continua faltando revisor (como falta neste aqui).
do texto, em flash-back, o que me surge é um jovem profissional, que já transitou entre espanha e portugal, e que recém chegado ao outro lado do atlântico confessava entre misto de esturpor e revolta que saiu da agência "havida por pessoas que que ajudem ela a encantar mais seus clientes.", porque recebeu a resposta de que não poderia ter aumento, uma vez que o próprio dono da agência justificou a negativa em razão da compra de um novo sofá que até onde se ouviu nem era para a agência.
como se vê, o mau uso da língua é capaz de suscitar passagens que nenhuma gramática, e não só, explica. apenas evidencia.
now playing: Ronnaldo e os Fora da Lei - Pode Piorar via FoxyTunes
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