segunda-feira, dezembro 29, 2014

el cid ou porque não se faz história com estórias mas com slogans sim









slogan inteligente é mau slogan. 
abraham moles.









ao criar este livro, claudio magalhães teve uma boa ideia. devia-se, até, levantar-lhe um brinde. com "caninha 51", é claro.

esta associação mental, imediata - e inevitável - já diz tudo sobre a importância e o poder imperativo do slogan.

o slogan é. dispensa explicações,teorias, exegeses. um bom slogan basta-se a si mesmo ,por si só. por isso ele tem tanta relevância na propaganda.

o slogan - e o cartaz - juntos ou separados, constituem o estado mais puro - a forma elementar, o nível primário - da propaganda.

todos os outros mídias básicos - jornal e revista, tv, rádio e cinema - não tem a propaganda como função primordial. eles destinam-se a informar, entreter, educar, etc. a propaganda adere colateralmente a tais funções principal e delas se serve para veicular o anúncio coaxialmente.

algo análogo se dá com a mensagem. a retórica publicitária tende a atuar como envoltório do núcleo persuasivo. na propaganda, o texto, o " copy" 
( valendo aqui o conceito teórico que compreende a imagem como "texto", ela também ) é apenas o envoltório edulcorante que vai tornar mais palatável a ideia persuasiva central, a palavra de ordem - ou seja, a essência real da propaganda, seu duro e cru objetivo final: seduzir para possuir.

o slogan e o cartãz não. eles são a essência, respectivamente verbal e imagística da persuasão pura.

o " grito de guerra " ( o slogan) e o " grito na parede" ( o cartaz ) são exatamente isso: gritos. o grito primal - instinto, emoção, vida - a área periférica da pré inteligência ou o denso nódulo central da pós-inteligência. a reflexão, por favor, mantenha-se lá fora.

slogan e cartaz tem uma única finalidade específica: propaganda. eles foram feitos por ela e para ela. e só servem para isso mesmo: fazer propaganda. qualquer outra função que porventura agreguem, é incidental, cumulativa, suplementar. descartável.

impacto perceptivo vigoroso. instantaneidade na comunicação.nenhuma obrigação com o pensamento lógico. estímulo, estímulo, muito estímulo, nenhuma decifragem - como prescreveu abraham moles" - slogan inteligente é mau slogan " .

instant-communication: dois segundo cronométricos, para cumprir sua função. um segundo a mais e o slogan(ou o cartaz) estarão inexoravelmente jogados ao lixo da despercepção e do desinteresse.

ocorre-me parodiar suskind: o slogan é a quintessência do texto propagandístico. sua " essence absolue".

por isso o slogan e o cartaz constituem o epítome da linguagem publicitária. atrás de sua aparente espontaneidade e do mimetismo de uma simplicidade que, de fato, não é simples, disfarça-se de uma manifestação requintada do talento publicitário: " a síntese que surpreende", na definição ideal de roberto duailibi.

slogan, do gâles, " sluagh-ghairm" era, na escócia ancestral, " o grito de guerra de um clã". os ingleses se apropriam da palavra lá pelo sec. XVI e, já então, ela significa " divisa de um partido político" e logo ingressa na liça eleitoral. guerra, política, eleição - é tudo a mesma coisa.

cabe aos americanos, no séc XIX, transcreverem-na para a área da propaganda mercadológica, onde o slogan se aclimata como se esse fora o seu habitat original. afinal,insisto, é tudo um campo de batalha...

constantino olhou para o alto e viu inscrito nos céus " in hoc signo vinces ". pode-se dizer que deus lhe ditou o slogan com que se vincularam,definitivamente, cristianismo e a cruz, com o poder de roma.

se deus se serviu do slogan, não se devem atribuir muitas restrições pelos mortais publicitários, eles também filhos de deus. ou deuses ex-machina como tantos pensam que são ...

não obstante, é forte o preconceito contra o slogan e controversa sua valorização, justamente porque ele tem tanta vida e tanta força. pode-se esperar unanimidade nos cemitérios. jamais na praça pública ou no mercado.

a veemência na sua crítica é a medida proporcional da sua importância. o slogan mexe com as pessoas, desperta-as, mobiliza-as. porque desacomoda, incomoda.

folheei livros tentando arrolar esses preconceitos. desisti logo no começo desta coleta de adjetivos, tão grande ameaçava ser a sua lista.

ambíguo, autoritário, banal, cansativo, comunista, condenável, demagógico, dissimulador, dominador, emocional, enganador, esotérico, fascista, hegemônico, hipnótico, irracional , irritante, manipulador, medíocre, mentiroso, mistificador, nazista, nefasto, nocivo, obsessivo, passional, perigoso, polêmico, reacionário, repetitivo, reprovável, superficial, suspeito, tribal, trivial, vago, vazio, vulgar, zurrado ...

inútil divagar. só há uma força capaz de enfrentar um bom slogan: outro slogam melhor.... (cid pacheco, prefaciando slogans: os 1000 melhores slogans da propaganda brasileira, organizado por claudio magalhães e andré mota, letter editora, em 1991).


misterwalk provoca: a questão que se impõe é a seguinte: mudou tanto o mundo( ah! a internet ) que não há mais lugar para slogans ? - os poucos que ousam não tem o brilho que já foi alcançado com a "ferramenta" - ou mudamos nós ? e desprezamos um recurso matador por desconhecimento de causa e efeitos ou, pior: pelo medo de não parecermos modernos, como convém aos publicitários antenados que assim se chamam? 





  

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