o blog que dá crise renal em quem não tem crise de consciência. comunicação, marketing, publicidade, jornalismo, política. crítica de cultura e idéias. assuntos quentes tratados sem assopro. bem vindo, mas cuidado para não se queimar. em último caso, bom humor é sempre melhor do que pomada de cacau.
segunda-feira, março 31, 2014
kombinationsfahrzeug: ou surpreendentemente bem bom(ou pon) em todos os sentidos
na contra-mão do modorrento panorama publicitário criativo brasileiro atual, com seus achaques e afetações, dentre eles os indefectíveis comerciais de varejo, telefonia, cerveja e automóveis - dúvida é se mais achaques ou afetações - eis que surge, soberana, uma cinquentona que resgata o que de melhor a propaganda brasileira - muito mais teve do que tem - sem por isso deixar de ser uma formulação hodierna, ainda que em sua base estejam princípios que remontam, na publicidade aos anos 60, e no produto,aos anos 40 (chupem esta antenados).
o filme de despedida da kombi é o corolário - corolário não é colírio apedeuta publicitário, mas não deixa de sê-lo - de uma ideia bem desenvolvida. vá lá, do planejamento à criação e com execução afinada e sem over.
oportunidades como esta são raras. e um dos maiores méritos da almap, e da equipe envolvida no projeto(cliente inclusive) foi de não derrapar em oportunismo, mal que assola de roldão a " mente publicitária focada na geração de negócios para salvar o negócio", que chusma por ai.responsável pela derrocada da imagem do publicitário como criador de soluções diferenciadas para resolver problemas de comunicação mercadológica - hoje eles não criam diferenciação nem para resolver os problemas deles, deles publicitários, basta ver remuneração e salários, só para saída ou seria entrada? - .
o filme poderia ser um longa, tamanha a capacidade histórica da kombi de marcar memórias e criar/participar de histórias por onde esteve/andou. vê-lo, é emocionante, enquanto comum mortal, imagino mais ainda para proprietários de kombi(mesmo os que as massacram, como kombeiros) e para publicitários demodé como eu que, tiro a minha lasquinha, como a kombi, tenho a similitude de ver pelo retrovisor muito arroubo que ficou pelo caminho).e esta emoção não uma emoção histérica ou falseada mas sim comovente pelas entranhas. principalmente pelo tour de force na locução de uma velha senhora, como somente as velhas senhoras são capazes de nos tocar, graças ao poder de nos mostrar o que somos ou o que fomos, e o que podemos ser, ou poderíamos ter sido - não sei se só eu percebo a fina ironia(ou se foi intenção dos criadores) no período do se estar surpreendentemente bem tanto ao fim quanto ao começo, linha que se perde facilmente na vida, tanto na pessoal, como na profissional e que na publicidade então, maior parte nem sequer linha torta que seja.
escrever mais sobre este trabalho é divagar sobre o talento alheio quando ele fala por si próprio e inscreve-se num patamar de importância com o fato que documenta - sim senhor, a propaganda de qualidade quando não inventa nem floreia, nem masturba, também documenta seu tempo tornando-se por isto mesmo documento histórico.
mas o principal a realçar, dentre tudo que realça, é o texto. é uma redação publicitária que arrepia - quando estava na ativa o que não arrepiava,não passava(grande, nem por isso menos insuportável, marco antônio) enquanto hoje confunde-se boca com a tampa do vaso e temos o que lemos. o copy da kombi é um texto onde tudo cumpre a sua função: nos emociona, nos faz rir delicadamente(nele a gracinha realmente tem graça/nos faz sorrir sutilmente e não gargalhar as cuspidas), nos faz refletir, nos convence, nos apaixona, e nos faz amar, o que tivemos e o que não tivemos, mas acima de tudo: o que não poderemos mais ter, muito embora as kombis, mais valorizadas do que nunca, ainda estarão soberanas quando eu e você caro leitor não estivermos mais aqui. este texto, despretenciosiamente simples, mas grandioso, nos faz sentir orgulho do produto, e da profissão, algo que deveria ser um guide line mandatory a qualquer peça. há que se dizer que o poder do texto é incomensuravelmente maior do que o da imagem - eu acredito nisto e ponto, a ponto de sacrificar empregos e oportunidades - e a maior prova disto é que este comercial só é o que é pelo texto, e pela narração sobre humana da vergueiro, cuja consubstanciação o faz não só antológico, como mitológico.
tempos virão em que gerações posteriores ao suscitar a já há muito tempo saudosa kombi - com todas as suas limitações técnicas e perigos embarcados(talvez por isso mesmo seja a kombi que é ou foi, e até hoje não tenha encontrado, em que pese tanto desenvolvimento industrial, substituta a altura, nem sequer falando do seu aplomb, item que será difícil igualar) lembra-se-ão, reviverão, conjuntamente o fato, e este comercial que de novo por seu paralelismo conceitual nos assoma o "monstro" que foi bernabach.
e talvez ai seja o segredo de quem ultrapassou o brief. para resultados grandes deve-se "pensar pequeno" - o que é diferente de pensar com a pequenez da pretensão, do ego de querer fazer-se a si maior do que o objeto da ação, da enorme confusão entre efeitos técnicos e qualidade da ideia, mal que assola os arrivistas de plantão.
e para completar a felicidade desta criação, o registro de que este é um dos raros casos,e bota raro nisso, em que o "pitaco" do cliente, um revendedor, no caso o ben pon, foi do caralho, mas do grande caralhinho mesmo!
mas o cara era holandês, não se animem;)
e dando a césar o que é de césar, a ficha técnica que se apertar também dá na kombi.
Anunciante: Volkswagen
Título: Campanha Kombi Last Edition
Produto: Kombi
Diretor Geral de Criação: Luiz Sanches
Diretores de Criação: André Kassu, Marcos Medeiros
Direção de Criação Digital: Luciana Haguiara, Sandro Rosa
Diretor de Arte: Benjamin Yung Junior, Marcelo Tolentino
Redatores: Marcelo Nogueira, Marcelo Pignatari
Fotógrafo: Fabio Bataglia
Art Buyer: Teresa Setti, Ana Cecília da Costa
Produtor Gráfico: José Roberto Bezerra
Arquitetura de Informação: Vanessa Marques, Luiz Felipe Fernandes
Diretor de Operações: Victor Groba
Gerente de Projetos: Denise Aya Kotsubo
Diretor de Produção Digital: Fernando Boniotti
Producer: Danubia Fujita
Produtora: Inkuba
Atendimento: Gustavo Burnier, Filipe Bartholomeu, José Fernando Lopes, Ana Beatriz Moreira Porto, Aline Macedo, Fernanda Portugal
Planejamento: Cintia Gonçalves, Sergio Katz, Marcus Freitas, Denis Carvalho, Tatiana Weiss, Rodrigo Friggi
Mídia: Brian Crotty, Kauê Lara Cury, Fabio Urbanas, Daniele Valle, Katia Piccardi, Stefano Justo
Aprovação: Marcelo Olival, Carlos Leite, Ana Cristina Mota e Camila Canais
sim, o óbvio, o link para o filme, que é sempre bom rever. quanto a mim dá uma saudade danada. da kombi e do que é ser publicitário(isto tinha que estar na tv aberta para matar as bactérias e vírus que se instalaram por lá.
https://www.youtube.com/watch?v=I_B4-UjQtD8
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2 comentários:
Celso, Gosto muito dos teus textos (ok tem alguns que acho enormes, mas mesmo assim gosto) Essa propaganda da Kombi foi (com mérito) a mais comentada dos últimos meses, mas foram comentários de palavras soltas como: emocionante, incrível, lindo... enfim adjetivos comuns para algo raro. Prefiro comentários longos. Bons textos sempre tem algo a dizer. Abraço amigo.
rahael(é um nome hebraico ou é raphael mesmo;?): é muito gentil de sua parte ou trata-se de sense of humor em fino estilo professar o gosto pelos meus textos. sem querer tirar a bunda da seringa,os textos mais longos na maioria dos casos não são meus, provindo de outras publicações, e mais afetos a esfera jornalística e ou política, o que nem sempre faz os meus mais curtos. talvez a extensividade deles deva-se mais a minha ânsia, angústia e solidão frente ao estado das coisas da atividade que julgo, à luz da deontologia, estarem em nível abaixo do mais baixo, apesar de tanto led, tablet, i-pod e i-mac. o melhor deste comercial da kombi(chamemos ação, que é o que está na moda) é o que afinal esqueci de realçar, mas vou fazê-lo, no post inclusive: o texto. uma redação publicitária que arrepia - quando estava na ativa o que não arrepiava,não passava(grande marco). hoje confunde-se boca com a tampa do vaso e é temos o que temos. o da kombi é um texto onde tudo cumpre a sua função: nos emociona, nos faz rir delicadamente(nele a gracinha realmente tem graça/nos faz sorrir sutilmente e não gargalhar as cuspidas), nos faz refletir, nos convence, nos apaixona, e nos faz amar, o que tivemos e o que não tivemos, mas acima de tudo: o que não poderemos mais ter, muito embora as kombis, mais valorizadas do que nunca, ainda estarão soberanas quando eu e você formos. este texto simples, simplesmente mas grandiosamente nos faz sentir orgulho do produto, e da profissão, que deveria ser um guide line em qualquer peça. e dito isto, acho que devo escrever textos longos porque não tenho o talento para os pequenos grandes textos(nem para os longos, sejamos francos). mas para azar dos inimigos - e dos leitores que gostam - eu continuo tentando, sem me deixar me desvirtuar pela tentação da imagem/tecnologia. o poder do texto é incomensuravelmente maior do que o da imagem - eu acredito nisto a ponto de sacrificar empregos e oportunidades - e a maior prova disto é que este comercial só é o que é pelo texto,e pela narração, sobre humana da vergueiro
um abraço do tatibate que, dizem, algumas vezes acerta.
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