Um administrador recém-formado perguntou a um empresário, de 78 anos, por que ele não contratava um gestor profissional para dar sangue novo à sua organização. O experiente senhor, de calos nas mãos, foi incisivo: “o novo pode não entender o velho que eu soube construir com alma e destemor”.
O velho jornalista teme o novo tecnológico, enquanto o novo jornalista não quer saber do velho jornalismo, notório pela qualidade do texto e teimoso no questionamento dos fatos.
O jornalismo pré-tecnológico era avesso à pressa, em razão de se preocupar com o texto harmonioso, exemplar e atrativo. A preocupação em cobrir os últimos fatos do dia igualava-se à inquietação com o ineditismo da grande reportagem, que tanto focava um acontecimento importante como transformava um pequeno episódio – como, por exemplo, uma senhora de 90 anos pedindo esmola – em uma obra literária. Esse era o jornalismo paciente, que esperava mais de 10 minutos para uma notícia de agências nacionais e internacionais, de apenas 30 linhas, se completar nas longas fitas de papel do telex. Hoje, em 10 minutos, há centenas de notícias na internet.
Sim, ponderaria o leitor, mas hoje há milhares de informações que precisam ser divulgadas.
Será mesmo?
O jornalismo tem que estar na velocidade da informação? A instantaneidade é sinônimo de jornalismo moderno?
A avalanche de informações estimula a neurose jornalística e, assim, sites e jornais vivem preocupados em concorrer com o cidadão que dispara no twitter um acidente que acabara de presenciar. O jornalismo quer comandar a mídia social, esse oceano onde todo mundo tem direito a mergulhar, pescar e tornar prazerosa qualquer outra atividade. Twittar uma informação de primeira mão, como a surpresa de ver Paul McCartney no aeroporto de Londres, não é jornalismo e sim fazer valer a ansiedade de comunicar algo com a rapidez estimulada pela tecnologia. É a vontade de conversar, como antigamente se percorria a rua principal da cidade para fofocar ou alimentar discurso com amigos.
O bom jornalista, por sua vez, não se preocuparia em apenas assinalar a presença distante de McCartney, mas, quem sabe, correr para ouvir dele a confirmação do seu show no Rio de Janeiro ainda este ano. No bamboleio da informação e da interatividade, o cidadão cultiva o seu prazer e a ansiedade. E o jornalista? Também! Parece tornar a profissão um trampolim para estar dedilhando e se encontrar no mundo da cibernética. É esse o papel do jornalismo?
O jornalista não larga a telinha do computador, nem mesmo para olhar nos olhos do entrevistado, que ele prefere ouvir pelo messenger, facebook ou com perguntinhas banais por e-mail. Não há mais questionamento. A fonte de informação é um emissor passivo, livre de admoestações do jornalista.
A esquizofrenia da velocidade está levando o jornalista a competir com a ansiedade do cidadão tecnológico. E nisso predomina o alto risco de tornar comum a pergunta: “você também se acha um jornalista?”
Ora, nessa vala comum do cenário de neurastenia virtual, o jornalista precisa se desacelerar, imunizar-se contra a febre da instantaneidade, que torna hilário o comportamento do ser humano no carro, metrô, ônibus, nas ruas, cinema, restaurantes, onde o ser humano fixa olhos na pequena maquininha e não enxerga mais ninguém, nem mesmo o amigo que corta a sua frente. E nesse tic-tac entre o flash do pensamento descartável e o dedilhar do teclado, o jornalista vê o tempo disparar sem perceber que a sua profissão se dissipa no deserto da informação, trazida e levada pelo vento aleatório.
O jornalismo precisa alimentar e enriquecer o diferencial da notícia em relação às informações que circulam aos milhares na mídia social. E esse diferencial é a fundamentação da informação, a atratividade de um bom texto e, sobretudo, a boa pauta capaz de transformar fatos cotidianos, episódios, cenas políticas em reportagens interessantes. Ou seja, o jornalista precisa despreocupar-se com o fato instantâneo e descartável e trabalhar uma boa pauta.
E as novas gerações cibernéticas querem saber de texto jornalístico elegante? O jornalista deveria ser o último a duvidar disso, sob pena de armar-se com esse falso argumento para banalizar o seu próprio texto.
O Dia do Jornalismo, hoje, 7, não deixa de ser um ótimo momento para uma profunda reflexão. A propósito, você jornalista se considera um cidadão tecnológico ou ainda um jornalista? Qual a nota que você dá para o seu texto?
(voce também é jornalista? do laudelino josé sardá,, para o acontecendo aqui.
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Um comentário:
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