terça-feira, fevereiro 22, 2011

em tudo emagrecido


Li hoje no Blue Bus que Nizan Guanaes determinou: agora, nas agências do seu grupo de comunicação, o ABC, todo mundo tem que sair antes das 8 da noite, pois as luzes automaticamente se apagarão. E quem nao conseguir se organizar até lá, que chegue mais cedo, ele aconselha. A notinha do Blue Bus também explica que a própria agência fornecerá dicas de filmes, shows, peças de teatro e até cursos, para que os funcionários evoluam, se oxigenem, cresçam profissionalmente. A ordem do Nizan tem até um nome glamuroso, After Eight. Lembrei na hora da música Apesar de Você, do Chico Buarque, naquele verso: "Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar"...After Eight? Ora, por quem sois, Nizan Guanaes? Pois se quem inventou a jornada 24 horas foi ele, na sua sanha neoliberal irracional de vencer a qualquer custo. Pois se foi ele quem chupou o sangue dos seus profissionais e mostrou ao mercado que quanto mais chupasse, mais eles tinham sangue pra dar. Porque ele pagava bem, ah, isso sim! Ao melhor estilo Mefisto, ele comprava a alma dos criadores a bom preço. After Eight, Nizan Guanaes? Ara, como se diz aqui na minha terra, não me faz te pegar nojo! Pois se foi ele que estimulou o fim do expediente normal, a falsidade de ficar remanchando na agência até tarde, o trabalho escravo na criação publicitária brasileira...Lembro que na agência em que eu trabalhava, quando eu saía às 7 da noite, o resto do povo ficava me olhando feio, como se a errada fosse eu e não eles fingindo que ainda estavam trabalhando. Tristes tempos de estagiários com profundas olheiras...Eu dizia: gente, vão pra rua, saiam pra vida, vocês precisam se alimentar da vida, é lá que está a inspiração do criador publicitário. Mas, qual! Lembro bem do testemunho de um Diretor de Criação que trabalhou na DM9 e contou que toda vez que eles queriam pedir demissão, por não aguentarem mais o Nizan, ligavam pro gerente do banco e pediam o saldo de suas contas. A tal notinha do Blue Bus justifica a medida do Nizan dizendo que o próprio mercado de criação pressionou isso, em um hotsite piratão de nome Fuck alguma coisa que metia o pau nos diretores de criação, entre outras coisas, por exigirem jornadas desumanas de trabalho de suas equipes. Aleluia, entonces! After Eight, Nizan? Só tenho uma palavrinha pra dizer: demorou!

PS: A nota hilária fica por conta de outra notícia logo abaixo, no mesmo Blue Bus: Nizan acaba de ser escolhido o novo embaixador da Boa Vontade pela Unesco.

(nizan guanaes, quem te viu, que te vê, no blog da graça craidy)

e para incrementar, um comentário de plus:
jayme disse...e

O fato é que o cara inventou um novo jeito de fazer propaganda no Brasil. 28 opções de layout, 113 de títulos, 23 horas de jornada de trabalho etc. Coincidência ou não, nunca mais a criatividade da propaganda brasileira foi a mesma. E nunca se plagiou tanto.

quanto a mim, cem graus, o comentário é o seguinte: a vida de um publicitário não é definida pelas horas de trabalho ou lazer que ele tem e sim pela dedicação que ele tem a um e ou a outra. é isto, junto com um pouquinho de talento que seja,é que vai determinar a qualidade do que faz, o que não significa que seja viável existencial ou mercadologicamente falando. o resto é a mesma merda do modismo que ora valoriza o chupa o sangue ora pede para os seguidores de vampiro chupar tang para serem argh! politicamente corretos.
o fato é que não se fazem mais publicitários me publicidade como antigamente. aliás, nem o nizam, como bem se vê, é o mesmo. é a chamada involução de valores.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

gramática pra cachorro ou nem isso


você comeria um biscoito maisena que fosse escrito com s? sim isso mesmo, maisena e não maizena, da bauducco, da mabel, da pilar(que perdeu a mão)?
sua memória, gustativa inclusive, sabe, escreve-se com z. há século.
pois bem, o biscoito bom preço tipo maizena estampa na embalagem maisena.
este é o preço do falso preço baixo prometido. fazer a gramática e a memória das marcas baixar-se até o ponto de mostrar o ponto z travestido.
(p.s. nem o google aceita procurar maisena com s, pra você ver)

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Young Creatives: put down your f*cking iPhones and learn something* ou aos jovens que envelheceram tanto que nunca serão vintage


Descobri que não sou retrógado, sou vintage. Nada mais vintage do que minhas idéias e minhas roupas. Nada mais vintage do que aquilo que ensino para meus filhos. Alguns “bom dia” ao amanhecer, uns “obrigado”, “por favor” e o incomparável “com licença”, extirpados de nossa língua, podem retornar ao vocabulário sob o manto do vintage.
Tudo que parecia retro na minha já desgastada existência está redimido pelo vintage, seja la o que for isso.
Um dia desses, na ponte aérea, peguei um voo vintage. A pintura do avião remetia ao design de 30 anos atrás assim como o uniforme das comissárias e a vinheta de segurança.
Na pesquisa para esse artigo descobri que um tradicional site de videos pornográficos possui uma categoria de sexo vintage. Resisti a tentação de visitá-lo por considerar que seria muito difícil, aos quase 50 anos, descobrir que ate nisso já fiquei ultrapassado e que por uma concessão da modernidade tornou-se cool fazer sexo da forma como aprendi.
A propaganda, macaca de auditório de toda a modernidade, mesmo que não saiba muito bem o porque, já bebe dessa fonte e nesse processo somos brindados com a linguagem invariavelmente sépia.
Aos adeptos do vintage recomendo esquecerem a forma e resgatarem o conceito. Sugiro recuperarem a criatividade, abrirem mão do discurso fácil, investirem nos talentos, apostarem na maturidade, valorizarem a ética, defenderem as diferenças e os diferentes, condenarem a juniorizacao, não terem medo da opinião, não se submeterem as hegemonias, enfim tudo o que parecer meio démodé (assim como a palavra démodé), pode voltar a ter um lugar ao sol.
A ousadia deveria ser o símbolo do vintage, só assim podemos resgatar a propaganda de duas décadas atrás e reconquistar o espaço de vanguarda (olha a vanguarda ai gente) perdido para a mediocridade.

Tornei-me vintage sem saber, quase que naturalmente e estou muito feliz com esse processo. Acredito que a propaganda pode se beneficiar do momento e promover o resgate dos valores que construíram esse negócio no Brasil. Foi por conta dos questionamentos relevantes que nos transformamos em uma indústria e não, como pensam alguns, pelo modelo que adotamos. Nosso modelo é conseqüência do debate exaustivo, postura que os modernos execram e que agora pode retornar à cena.
Nosso negócio, composto por anunciantes, agências e veículos, precisa reaprender a debater os “assuntos proibidos” ceifados da pauta pelas conveniências de alguns poucos, diga-se de passagem.
A vantagem de ser vintage é não temer a condenação por pensar diferente e isso, me desculpem os Juniores, não é um estilo datado de nominho pernóstico, isso é um processo, uma opção que a muito a propaganda cedeu à “cultura da sobrevivência”, que, no final das contas, é o que está nos matando.


(meu eu vintage, do andré porto alegre, no portal inteligemcia(com m mesmo) do madiamundomarketing)

* título em inglês do copyranter