terça-feira, março 02, 2010

para os atrasados,de sempre, na história





Li em umartigo assinado pelo biólogo Fernando Reinach, publicado no Estadão em 24.12.2009:



Nossa ilusão de que vegetais não se comunicam e não têm mecanismos sofisticados para resistir à morte se deve ao fato de eles se comunicarem não por sons ou gestos, mas por meio de moléculas químicas, cheiros e hormônios que muitas vezes sinalizam seu desconforto ou tentam repelir ataques. Recentemente foi elucidada a sofisticada comunicação entre uma couve-de-bruxelas, uma borboleta que adora devorar suas folhas e uma vespa que se alimenta das larvas da borboleta.”



“A couve-de-bruxelas (Brassica oleracea) está feliz tomando sol em seu jardim quando pousa sobre ela uma linda borboleta branca (Pieris brassicae). A borboleta deposita sobre as folhas seus ovos fecundados – uma ameaça para a couve, pois os ovos se transformarão em larvas famintas. No terceiro dia, como por milagre, os ovos são localizados por uma vespa altamente especializada.”



“Essa vespa (Trichogramma brassicae) injeta seus ovos dentro dos ovos da borboleta. As larvas da vespa se alimentam do conteúdo dos ovos da borboleta, matando-os. O resultado é que a couve de safou. A morte passou perto.”



2. Há algumas décadas o mercado publicitário foi apanhado de surpresa: a MPM (então do Mafuz, do Petrôneo e do Macedo) primeira no ranking das agências, havia sido adquirido pela inglesa Lintas, a sétima ou oitava, se bem me lembro.


“A nova agência será gigantesca”, concluiu-se.



Não foi. As contas foram saindo, a agência minguando, minguando, e em pouco tempo ficou menor do que a Lintas, antes da aquisição.



3.No começo da década de 60, aconteceu o contrário.


Um dia, uma bomba sacudiu o mercado: a Willys Overland do Brasil tinha entregue sua conta, uma das mais polpudas do país e até então dividida entre duas ou três agências, ao jornalista Mauro Salles.


A reação foi imediata: as entidades do setor, lideradas pela ABAP, botaram a boca no mundo. Inutilmente.



Mauro comprou uma pequena agência carioca, entregou a direção do escritório ao ex-dono, veiculou através dela os primeiros anúncios e montou a Mauro Salles, depois Salles Publicidade. Aí, sentindo que faltava representatividade à agência, trabalhou em duas direções: aproximou-se das entidades patronais da publicidade inclusive da ABAP, que acabou presidindo, e comprou a Interamericana, uma das mais conceituadas do país.



Instalou o antigo dono, empresário de grande prestígio no mercado, em luxuosa sala do escritório do Rio de Janeiro. Cercou-o de todas as honras. E isolou-o da operação. Ao mesmo tempo, executou um cuidadoso processo de demissão que atingiu quase todo o pessoal da Interamericana.



Completando a operação, e para demonstrar ao mercado que sua intenção de manter a agência adquirida, deu à dele o nome de Salles Interamericana.


4. Na década de oitenta, outra surpresa.


Young & Rubicam, uma gigante, e Fischer & Justus, agência média, anunciaram sua fusão. Surpresa maior: a Fischer comandaria a nova agência, que se chamaria Fischer, Justus, Young & Rubicam.



Fui contratado para dirigir a operação da agência, quando o processo já estava concluído. Minha primeira missão: fazer uma análise da atuação da agência, que naquela altura encontrava dificuldade para deslanchar.



Três meses depois apresentei meu relatório: a Fischer, Justus, Young & Rubicam não era uma agência: eram duas, com filosofias de trabalho diferentes, que se chocavam permanentemente, uma atrapalhando o trabalho da outra.



Fui vaiado.



Você não entendeu nada,”disse-me meu chefe. “Chegou ontem aqui e acha que sabe das coisas.”



Mas eu estava seguro das minhas conclusões. Tão seguro que passei a sugerir à diretoria que promovesse uma convenção de dois dias com a participação de toda agência, para uma discussão sobre o futuro dela.



Insisti tanto que a diretoria concordou. Com uma condição:



“Você participa se quiser, mas se participar será como mero assistente. Não pode dar um pio.”



Contratou um psicólogo e um sociólogo para conduzir os trabalhos e apresentar suas conclusões em relatório.



Conclusão deles: o grupo está rachado. De um lado, a turma da Young, de outro, a da Fischer.



Coincidentemente ou não, meu chefe me demitiu em seguida.



Pouco tempo depois, as agências se separaram.



Um dia, em encontro casual, o Cláudio Carillo, que trabalhava na agência no mesmo período que eu, me disse:



“A Fischer e a Young deviam lhe dar um prêmio, porque teve a coragem de mostrar que elas deviam se separar porque a Fischer, Justos, Young & Rubicam estava irremediavelmente rachada. Juntas, iam se matar.”


5. Também na década de oitenta a McCann convocou a imprensa especializada para apresentar um grupo de profissionais que havia acabado de contratar. Ele eles, um diretor de criação – um dos maiores nomes da época.



Na época eu dirigia a redação da Revista Propaganda. E ao invés de mandar um repórter, fiz questão de ir.



O presidente da agência fez apresentação de cada um e anunciou orgulhoso, quando foi falar do novo diretor de criação:



“Com ele, a McCann entra em uma era: a da criatividade.”



Terminada a apresentação, perguntei:



“Além de contratar um brilhante diretor de criação, o que a Agência está fazendo para permitir que ele dê a anunciada virada criativa¿”



Expliquei, então, que havia trabalhado lá, e sabia das dificuldades - que enumerei – para realizar um trabalho criativamente diferenciado.



Ele não gostou. Deu uma resposta seca e encerrou a coletiva.



6. Semana passada este Acontecendoaqui anunciou uma provável adquisição da W pela McCann. Não sei se, enquanto escrevo, o negócio evoluiu. Mas aqui, sentado nos meus calcanhares, laptop em nos joelhos, fico pensando: será que vai dar certo?



De um lado, temos uma agência conservadora, que já fez antes um negócio frustrado, parecido, com a Ênio. De outro, temos um criativo brilhante e inquieto, embora pareça ultimamente mais interessado em escrever livros e comentar viagens, gastronomia, música.



Acho que não vai dar, porque no interior das agências as coisas funcionam como a descrita pelo Fernando Reinach: um gesto, uma palavra, um jeito de ser, pode ajudar ou destruir outro.



Mas isso é só um palite. Que, aliás, não foi pedido.




McCann e W: quando uma coisa puxa a outra, do eloy simões, confirmando que a história quando se repete, ainda mais nestes casos, não é comédia mas apenas mais uma farsa tragédia.





3 comentários:

Anônimo disse...

Salve Celso. Saí da então gigantesca MPM em 91, após 10 anos e pouco antes da venda. Naquele fim-de-ano fiz uma visita rápida ao RJ (era na de lá que eu trabalhei, e tinha ido pro PR) e estive na ag., então recém-"lintada", quando me disseram, ex-colegas, que tudo indicava que tinham juntado 2 grandes para se fazer uma pequena. Poizé, mais sobre aquele tempo no meu blog http://puracatapora.blogspot.com, aguardo sua visita e parabéns pelo seu, AGGomes.

Anônimo disse...

Falou em atradaso, falou me Portugal! Ó pá, como é bom ser atrasado. A gente fica falando sempreno mesmo: nos jogos do benfica, no Hermann José, na Catarina Furtado. É giro porque não deixámos que surja nada de nvo. e se surgir...pá...damos uma estalada e isso não vinga. Como é bom assumir ser atrasado! E não me venham com modernices de "o novo" tens que mudar" e coisas assim! António Sequeira

Anônimo disse...

Celso, precisamos da sua ajuda. Clique aqui e comente: www.noarchivethanks.blogspot.com
Sei que vc apoia este tipo de opinião.