Era um cara bom. Um puta diretor de arte. Mexia bem com design e tinha até uns desenhos bacanas na gaveta. Grudou nos grandes mestres, aprendeu tudo o que pôde, fez os contatos certos. Não demorou pra começar a botar o trabalho na rua. Adorava mídia exterior, tinha trabalhos por toda a cidade. Cidade que, aliás, não era o melhor mercado do país, mas era cheia de gente boa. Não tinha jeito: mais cedo ou mais tarde, ia pintar uma proposta legal.
E pintou. Uns caras de outra cidade estavam com um trabalho bom e apostaram no talento dele. Dava até pra ir pra casa nos fins de semana. Então juntou suas coisas e se mudou, cheio de gás. Seguiu o caminho de todo grande profissional.
Primeira reunião de briefing. Aquele mesão enorme, a sala bem iluminada e bem decorada. “Putz, lá em casa não tem nada disso”, pensou, quando viu os executivos chegando com roupas caríssimas. Cada um mais cheio da grana que o outro. Ajeitou-se na cadeira, puxou o caderninho e começou a ouvir:
− Negócio é o seguinte: estamos com um problema de fluxo de público. Fizemos quanti, quali, discussões em grupo. Contratamos consultores, analisamos a concorrência. E o que precisamos fazer é um painel.
Painel? Logo ele que não tinha tanta experiência assim em painel… Mas sem grilo, tudo bem. Desafio sempre foi com ele. Enfim, continuou anotando: impactante, puxando mais pro emocional e, acima de tudo, fidelizar os clientes. De referência pra ele criar deram um calhamaço. Até livro tinha. A verba era boa e o prazo… Bem, alguém aí já viu algum prazo ideal?
Começou o trabalho. Montou uma equipe, distribuiu cronograma. Virou noite. Ficou sábado, domingo e até feriado. Encheu o saco, se estressou. Dispensou todos os assistentes. Recomeçou do zero. De tanto trabalho, teve até um problema no olho. Ficou besta e resolveu só ir apresentando pro diretor geral. Não queria cliente bisbilhotando o trabalho antes de ficar pronto. Só que a pressão dos acionistas foi maior que ele, e acabou tendo que mostrar. Nem precisa dizer que não deu muito certo.
− Olha, você tem que entender que somos uma empresa tradicional. Não dá pra mudar nossa percepção de marca assim de uma hora pra outra. O nível do target é muito baixo, tem gente que mal sabe ler. Além disso, tá muito ousado, muito moderno. Pode ir colocando mais roupa nesses modelos.
Esperneou, mas fez o que pediram. E, cansado, desgastado, envelhecido e dizem que até meio maluco, entregou o trabalho. Foi um estrondo. Influenciou toda uma geração, mudou o rumo do mercado. Mesmo não levando nenhum Leão em Cannes, a idéia virou uma referência unânime. Volta e meia aparece chupada em alguma camiseta ou marquinha. Até hoje tem gente que vai lá só pra ficar admirando.
E, se você quiser, pode ir, também. Tem que comprar passagem, esperar na fila e não pode tirar foto. Mas ficar uma tarde inteira olhando para aquele painel da Capela Sistina vale a pena. Não dá raiva, inveja e muito menos aquela história de como é que eu não pensei nisso antes. Só dá pra ficar com a cabeça pra cima em reverência, pensando em como o Michelangelo conseguiu fazer tudo aquilo sem um Macintosh.
( o primeiro job da história, do joão vereza, no jornalirismo)
o interessante deste texto "tolo" é demonstrar as virtudes de um copy quando ele é copy, e domina gancho, fluência e desfecho. nada que se compare as dezenas de besteiras escritas, por exemplo, no gogojob, onde pretensos redatores claudicantes arrulham conselhos com base em experiências fraturadas a reboque de empresas de soluços(que muita gente confunde com soluções, sejam famosas ou não) mas excipientes a começar da fraqueza do texto que dá cãimbra
no mais persistente leitor. mas é a tal coisa, que fariam eles sem um macintosh?
Um comentário:
"Lá vai Dr. Pacheco
O herói dos dias úteis
Misturando-se às pessoas que o fizeram..."
Pior que eu tenho um texto lá, hein?
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