Nossa geração teve pouco tempo
como já dizia uma velha canção do rádio, de um antigo compositor cearense, "eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens"(imagine para os velhinhos).
logo eles, que queimaram, furaram, avançaram, sobre todos os sinais que se tornaram monumentos de nossa parte nos erros e acertos; se tornaram os controladores do nosso ir e vir - sentimental, inclusive - sexual já nem falo, dada a mortandade que explode em níveis de guerras mundiais, mas acima de tudo econômico, para nos fazer desistir do mundo que achávamos ser melhor que assim não fosse, atuando no enfraquecimento das crianças, na dormência dos jovens, e na execução por morte civil dos nossos velhinhos.
já não formamos barricadas com nossas jaquetas azuis. nosso espírito foi desarmado, entorpecido, amordaçado, confiscado, trocado por delações vantajosas e vantagens de pequeno porte, que também significam cooptação a um modelo de vida que nos sufoca pelas nossas próprias mãos. e pela compressão das ideias que um dia levantaram nossas cabeças e nossos ombros.
o espírito de batalha dos nossos blue jeans, que um dia foram manchados de sangue, e ainda mais torturados que em suas lavagens originais, ainda resistiram, aqui e ali, mesmo que em baus de sonhos e cabides relegados a porões de brechós de quinta. nós não. somos mercado e mercadoria de shoppings. nossa preocupação agora é encontrar vaga no estacionamento. e não em pegar a estrada.
nossa música foi dispersada, maldita. nossos ídolos já não são os mesmos, apesar de ainda serem o que foram, e o que são. e os hits de cavalgaduras que se dizem cavaleiros ocupam todo o espaço que um dia foi só poesia e canção. por cima de queda, coice.
a mediocridade prima-irmã da insanidade e violência clama ainda mais pelo sinal verde. o mesmo que fardado um dia quis nos obrigar a rezar em ordem unida, altivando-se em dizer que ali estava para combater o vermelho. e tivemos um dos mais vermelhos período de nossas curtas vidas perdidas e desaparecidas naqueles anos de chumbo líquido sobre nosso sexo.
e mesmo assim, cá estamos nós. neste exato momento ainda parados diante do sinal fechado. não o da ruas; porque nesse, se parar-mos, morremos na hora. mas no stop do pensamento onde há um não que assedia um sim, que teima em nos dizer que é possível desembainhar a inteligência, como arma, a coragem, como veículo, e a ousadia, de se reinventar estratégias de luta, para por abaixo tudo que ai de novo volta para nos fechar o sinal.
ainda que a terra ande cada vez mais cinza, e os ainda combatentes cada vez mais grisalhos, num planeta de ar cada vez mais irrespirável, nós que fizemos nossa parte, também deixando de fumar, ainda cabemos no feitio de torná-la azul mais uma vez. mas desta vez não basta vestir o blue-jeans novamente . desta vez, se quisermos mesmo conseguir, vamos ter de fazer mais. bem mais até que uma luta armada.
porque depois do sinal fechado, ainda restam as barreiras. e são estas que tem que ser definitivamente eliminadas.
caso contrário. sinal fechado, porteira fechada, vida encerrada, política morta, sexo idem. escravidão oficializada novamente. e os poucos que resistirem, executados no acostamento, novamente sem direito a passagem pelo IML.
enquanto isso, na viatura policial, sirene no volume máximo, amplificador do rádio idem. enquanto soldados se divertem pra ver quem se esgoela mais que os mais novos sertanejos universitários do pedaço. sirene, viatura, rádio, amplificador, soldados, sertanejos universitários, todos unidos no cumprimento do seu papel, do seu dever, com direito a claque e louvores a jesus.
eis o resumo da ópera daltônica: enquanto adormecido o pensamento, empacados os moinhos, empacada a grande roda da história. empacados os cadáveres mortos ou vivos.
por isso baby, não compre os (tele)jornais. eles também estão fechados para nós.
* publicado originalmente no misterwalk.blogspot.com e no celsomunizpress.blogspot.com
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