segunda-feira, dezembro 23, 2024

vade retro

junto das bets, o jogo do bicho, com toda a criminalidade dos bastidores, é um folguedo de anjinhos barrocos. bet é droga pesadíssima. faz heroina parecer anestesia bucal. e quando a bet discursa o jogo responsável ou a diversão com responsabilidade (sic!) escudada por influenciadores, atletas, cantores, narradores esportivos e até gente das quais se diz ilibados, tem- se a medida de como o tigre esfacela a presa. e o governo que permite isso, com uma regulação que faz vampiros parecem mais abnegados coletores de sangue do hemocentro, é o porteiro para o inferno onde até o diabo tem pudores em se associar. mas homens de deus não.

segunda-feira, outubro 21, 2024

ou comem todos ou não come nenhum

a diferença cirúrgica, entre o capitalismo e o comunismo, é que no capitalismo, o sucesso de um, depende do fracasso de milhares e ou milhões. já no comunismo, o sucesso de um, depende do sucesso de todos. daí, enormes dificuldades da implantação do comunismo na sua essência. a especie humana, por índole, não fica satisfeita com o sucesso do outro. e tudo o que puder fazer fará para obter sucesso à custa da miséria alheia. eis o leit motiv capitalista.

segunda-feira, setembro 16, 2024

precisamos o quanto antes fazer arte

mecanismos de dominação ideológica, que levam a estagnação política, são sempre mais eficientes quanto mais sutis. "esse menino/a é muito arteiro; tá fazendo arte não é ?" são a fala de uma sociedade que desde logo  estigmatiza os desviados (quando não usam o verbo direto: arte é coisa de veado), aqueles que fogem do ideário produtivo a serviço do capital. a arte sempre vem associada a um comportamento desviante. maligno para o sistema, o artista é sempre o vagabundo, o maconheiro, a bicha, o bêbado, o louco. o perigoso a ser evitado. o exemplo a não ser seguido. nunca é visto com bons olhos o artista, principalmente se é disruptivo aos padrões esteticos ditados pela dominação. e como se não bastasse há todo um engendramento que busca incrementar um falso conceito de arte, a domesticada; os romeros britos do mercado, cujo trabalho não produz os efeitos da verdadeira arte: a revolução em todos os sentidos. a excitação do sentido crítico, dos desejos e vontades reprimidos com seus gemidos tão temidos pelo sistema produtivo. a arte liberta enquanto liberta em si. desconcerta as correntes e emperra o fluxo de raciocínio que se satisfaz com o vulgar, com o lugar comum, com o populacho. e neste sentido, a verdadeira arte popular e a erudita verdadeira são irmãs gêmeas e pasmem univitelinas apesar do sistema querer fazer com que pareçam aos olhos do público diferentes. e uma das manobras é o direcionamento ao raso sob a tônica de que a arte elitizada não é compreendida pelo povo, como se a arte explosiva e corrosiva ao sistema não viesse do próprio povo. reúna a multidão que espera o padrão sertanejo e soe os acordes de um bach; apresente-os a um bacon, que não seja o de um x-tudo; coloque-os frente a frente com um rodin; deixe-os com um tolstoi a frente ( a curiosidade não mata só o gato. mata a mediocridade também ) e o resultado será um misto de êxtase, não entendimento de vísceras mexidas; fuga a realidade apresentada ( arte é construir realidades não paralelas enquanto rasga a falseada ), confusão mental, brilho nos olhos para alguns e olhos fechados para outros, notas dissonantes e sincopes tal qual o canto de certos passarinhos que o progresso assassinou - assim como a voz de nossas gargantas - jorros de sentimentos em queda na cachoeira dos sentidos. essa multiplicidade de sensações, ora ambíguas, ora contrastantes, enfim únicas ao tempo que comungadas por gente tão diferente tão igual, é o resultado da obra de arte. aquela que sendo verdadeira, " vem para confundir não para explicar". a arte não é um menino ou menina, um moçoilo ou moçoila bem comportados, um idoso ou idosa com dificuldades de fala ou locomoção. a arte é um idoso gagá que desconcerta a reunião dominical de parentes. uma criança toda cagada derrotando a roupinha do natal. um beijo de língua pra lá de libidinoso, um peido na sala de jantar pomposa, uma experiência única entre o alado e o caído. uma sinapse entre o pulso de eros e tanatos. se não tivermos mais "crianças arteiras, adultos crianças e idosos de calças curtas, teremos uma sociedade exatamente como a que temos hoje: repleta do que parece estar vivo mas não está. aparências e nada mais.