segunda-feira, dezembro 24, 2018

washington, se não a greta, o nosso garbo da publicidade, não acabou no irajá, mas acabou a 14,90.

que mundo é este onde um livro que vale o dobro do seu preço
é vendido a 1/5 em regime de sobras ?
na apresentação do último livro do paulo francis,(carne viva) mutatis mutandis, tal como seus personagens, no fundo alter-egos, traz a sensação de que o autor percebe que aquela "belle époque" dos debates inteligentes, dos diálogos idem, do bom gosto, da cultura e dos livros, havia chegado ao fim(pelo menos para ele).

pois bem: parafraseando, pode-se dizer o mesmo da publicidade. e daqueles que foram seus bons atores. não quero ser um oliviero toscani, mas creio que agora confirma-se que - pelo menos a boa - a publicidade é mesmo um cadáver que nos sorri.

e a tal ponto que o livro do washington sequer tem preço de sebo. não que o livro traga algo de transcendental, como sempre o querem fazer parecer todos os livros idiotas( e não são poucos, poucos sim, são os que não são idiotas) lançados por publicitários, mesmo quando travestidos de falsa simplicidade.

o livro de washington é um texto com a simplicidade de quem já foi refletor e refletido à exaustão de brilho próprio e sente agora cada vez mais a proximidade do apagar das luzes. traz lições cativantes, sem floreios desnecessários, apesar do que pode ser visto como afetação(não me parece, pra quem esteve onde o washington esteve) se o olhar do leitor não foi afetado pelo ódio ao sucesso ou pela idolatria ao publicitado.

mas não estamos aqui para falar de washington. estamos aqui para falar de mim(um velho truque publicitário falar do mais famoso para depois depor com nossa medíocridade). mas não na primeira pessoa e sim no fim dos posts do cem graus celsius.

mas antes, de deletar-me no espaço, para além do exemplo do livro do washington, outro, que me fez pensar que não tem mais sentido( se é que teve alguma vez) manter um blog para discorrer críticamente sobre esta profissão, em universo onde a crítica jamais é permitida. mas sim o puxa-saquismo e palavras de outros interesses que apenas interressam a quem nunca foi ou deixou de ser interessante há tempos.

all-parts quer me alertar sobre cuidado com os amortecedores com esta imagem

via-email recebo "mala direta" (mala direta está entre aspas, porque os textos do digital de hoje são de doer a dentadura) de auto-peças para importados - sim eu sou ainda do tempo em que a turma da criação tinha salário pra isto. e não ticket-refeição - com materia sobre amortecedores.

de um lado temos a pulhice do story-telling - não sou só eu que acho, gente como o marcelo serpa também - e de outro a rídicula exploração do sentido fálico(acho que tenho que explicar para esta geração agora, que o amortecedor significa um caralho sem tamanho, recurso que não chega sequer a ser do grande caralhinho) o que em época de "empoderamento" feminino (tal como o washington também acho isto outra pulhice(não é que penso em boa companhia;) é no mínimo bater com força no colo do útero do pensamento das meninas que se prezam.

enfim, resumindo: pra quê blog crítico sobre publicidade se este é o universo, sem falar das campanhas pífias, cada vez mais imbecilizantes, que traduzem o pensamento que norteia a publicidade de hoje, por mais que se queira, por conta da tecnologia, inovadora e (sic!) criativa? onde as ideias, os ideais, a ousadia, a coragem, a irreverência, o senso de oportunidade( e não de oportunismo) enfim, onde a criatividade, da qual washington é agora um sem-teto?

hoje o grande talento na publicidade - para quem o tem - resume-se a não usá-lo para não desafinar o coro dos contentes.

como eu não tenho o grande talento para uma coisa ou outra, e menos ainda tolerância para com a medíocridade alheia, recolho-me a minha que já me é peculiar, e estacionária, o que não deixa de ser um consolo.

como diria o poeta(com a devida licença). eles "passaralho". eu não mais pio. 

sexta-feira, junho 29, 2018

quem dá mais ?



proliferação de categorias a premiar em cannes não reflete diretamente o crescimento da indústriva movido pelo digital. é o velho e bom capitalismo balaçando a sacola dos caça-niquéis. cannes: quem conhece que te compre. e te premie.

segunda-feira, junho 25, 2018

procrustes, procrusto, damastes ou polipémon. mas pode chamar de nizan e todos aqueles nomes pra lá de conhecidos pelos mesmo métodos

a síndrome de procusto(não sabe o que é? não escapa dela por conta disto) encontra habitat pra lá de favorável nas agências de publicidade. lá é um tal de estica e corta(amputa) que é uma "beleza".

sexta-feira, junho 22, 2018

mercado enganador

o sujeito acha que é bom - principalmente em publicidade - quando engana a todos, inclusive a si mesmo. mas não é, é engano.

domingo, maio 13, 2018

quando o filho ingrato finalmente se torna grato - e sua mãe deixa de ser gratinada

quando vejo o nível a que chegaram os comerciais do dia das mães, penso que por mais putas que elas tenham sido, não mereciam, neste dia das mães - filho da puta, of course - o trabalho que lhes deram filhos que se dizem publicitários por tais criações. é a tal coisa: mãe merece respeito: até de publicitário.
por conta disto mesmo, quem sabe talvez, fizemos um trato - minha mãe, e eu, que já fui, ou vá lá que seja, sou publicitário - que desde já explicito: extirpamos do calendário, o segundo domingo de maio. sem alíneas ou quaisquer parágrafos de isenção. defenestramos o tal dia das mães, já que comemorar nunca comemoramos mesmo. em compensação, doravante, durante os demais dias do ano, seremos filho e mãe de verdade, sem pose, nem afetação de comerciais. não tem plim-plim mas terá bombom.








domingo, janeiro 21, 2018

é mais que urgente deseducar as crianças*

IDEIAS

Claudio Naranjo: “A educação atual produz zumbis”

O psiquiatra chileno diz que investir numa didática afetiva é a saída para estimular o autoconhecimento dos alunos e formar seres autônomos e saudáveis

Claudio Naranjo, psiquiatra chileno, fala sobre a educação atual  (Foto: Divulgação)
ÉPOCA – O senhor é psiquiatra e desenvolveu teorias importantes em estudos de personalidade. Hoje trabalha exclusivamente com educação. Por que resolveu se dedicar a esse tema?
Claudio Naranjo – 
Meu interesse se voltou para a educação porque me interesso pelo estado do mundo. Se queremos mudar o mundo, temos de investir em educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder que quer manter tudo como está. Não mudaremos o mundo militar. Também não mudaremos o mundo por meio da diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito. Para ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana. Por isso me interesso pela educação. É mais fácil mudar a consciência dos mais jovens.
ÉPOCA – Quais os problemas do modelo educacional atual na opinião do senhor?
Naranjo – 
Temos um sistema que instrui e usa de forma fraudulenta a palavra educação para designar o que é apenas a transmissão de informações. É um programa que rouba a infância e a juventude das pessoas, ocupando-as com um conteúdo pesado, transmitido de maneira catedrática e inadequada. O aluno passa horas ouvindo, inerte, como funciona o intestino de um animal, como é a flora num local distante e os nomes dos afluentes de um grande rio. É uma aberração ocupar todo o tempo da criança com informações tão distantes dela, enquanto há tanto conteúdo dentro dela que pode ser usado para que ela se desenvolva. Como esse monte de informações pode ser mais importante que o autoconhecimento de cada um? O nome educação é usado para designar algo que se aproxima de uma lavagem cerebral. É um sistema que quer um rebanho para robotizar. A criança é preparada, por anos, para funcionar num sistema alienante, e não para desenvolver suas potencialidades intelectuais, amorosas, naturais e espontâneas.
ÉPOCA – Como é  possível mudar esse modelo?
Naranjo –
 Podemos conceber uma educação para a consciência, para o desenvolvimento da mente. Na fundação, criamos um método para a formação de educadores baseado em mais de 40 anos de pesquisas. O objetivo é preparar os professores para que eles se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa, para que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do autoconhecimento, respeitando suas características pessoais. Comprovamos por meio de pesquisas que esse é o caminho para formar pessoas mais benévolas, solidárias e compassivas. Hoje a educação é despótica e repressiva. É como se educar fosse dizer faça isso e faça aquilo. O treinamento que criamos está entre os programas reconhecidos pelo Fórum Mundial da Educação, do qual faço parte. Já estive com ministros da Educação de dezenas de países para divulgar a importância dessa abordagem.
ÉPOCA – E qual foi a recepção? 
Naranjo –
 A palavra amor não tem muita aceitação no mundo da educação. Na poesia, talvez. Na religião, talvez. Mas não na educação. O tema inteligência emocional é um pouco mais disseminado. É usado para que os jovens tomem consciência de suas emoções. É bom que exista para começar, mas não tem um impacto transformador. A inteligência emocional é aceita porque tem o nome inteligência no meio. Tudo o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos  uma didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo. Os ministros da Educação me recebem muito bem. Eles concordam com meu ponto de vista, mas na prática não fazem nada. Pode ser que isso ocorra por causa da própria inércia do sistema. O ministro é como um visitante que passa pelos ministérios e consegue apenas resolver o que é urgente. Ele mesmo não estabelece prioridades. Estou mais esperançoso com o novo ministro da Educação de vocês (Renato Janine Ribeiro). Ele me convidou para jantar, para falarmos sobre minhas ideias. É a primeira vez que a iniciativa parte do lado do governo. Ele é um filósofo, pode fazer alguma diferença.
"Quando há amor na forma de ensinar, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo"
 
ÉPOCA – Para quem decidiu ser professor, não seria natural sentir amor, compaixão e vontade de cuidar do aluno?
Naranjo –
 Uma vez dei uma aula a um grupo de estudantes de pedagogia na Universidade de Brasília. Fiquei muito decepcionado com a falta de interesse. Vendo minha expressão, o coordenador me disse: “Compreenda que eles não escolheram ser educadores. Alguns prefeririam ser motorista de táxi, mas decidiram educar porque ganham um pouco mais e têm um pouco mais de segurança. Estão aqui porque não tiveram condições de se preparar para ser advogados ou engenheiros ou outra profissão que almejassem”. Isso acontece muito em locais em que a educação não é realmente valorizada. Quem chega à escola de educação são os que têm menos talento e menos competência. Não se pode esperar que tenham a vocação pedagógica, de transmitir valores, cuidar e acolher.
>> Brasil fica em 60° lugar em ranking mundial de educação em lista com 76 países

ÉPOCA – O senhor diz que o sistema de educação atual desperdiça talentos, rotulando-os com transtornos e distúrbios. Pode explicar melhor esse ponto?
Naranjo – 
Humberto Maturana, cientista chileno, me contou que a membrana celular não deixa entrar aquilo que ela não precisa. A célula tem um modelo em seus genes e sabe o que necessita para construir-se. Um eletrólito que não lhe servirá não será absorvido. Podemos usar essa metáfora para a educação. As perturbações da educação são uma resposta sã a uma educação insana. As crianças são tachadas como doentes com distúrbios de atenção e de aprendizado, mas em muitos casos trata-se de uma negação sã da mente da criança de não querer aprender o irrelevante. Nossos estudantes não querem que lhe metam coisas na cabeça. O papel do educador é levá-lo a descobrir, refletir, debater e constatar. Para isso, é essencial estimular o autoconhecimento, respeitando as características de cada um. Tudo é mais efetivo quando a criança entende o que faz mais sentido para ela.
ÉPOCA – Por que a educação caminhou para esse modelo?
Naranjo –
 Isso surgiu no começo da era industrial, como parte da necessidade de formar uma força de trabalho obediente. Foi uma traição ao ideal do pai do capitalismo, Adam Smith, que escreveu A riqueza das nações. Ele era professor de filosofia moral e se interessava muito pelo ser humano. Previu que o sistema criaria uma classe de pessoas dedicadas todos os dias a fazer só um movimento de trabalho, a classe de trabalhadores. Previu que essa repetição produziria a deterioração de suas mentes e advertiu que seria vital dar a eles uma educação que lhes permitisse se desenvolver, como uma forma de evitar a maquinização completa dessas pessoas. Sua mensagem foi ignorada. Desde então, a educação funciona como um grande sistema de seleção empresarial. É usada para que o estudante passe em exames, consiga boas notas, títulos e bons empregos. É uma distorção do papel essencial que a educação deveria ter.
ÉPOCA – Há algo que os pais possam fazer?
Naranjo – 
Muitos pais só querem que seus filhos sigam bem na escola e ganhem dinheiro. Acho que os pais podem começar a refletir sobre o fato de que a educação não pode se ocupar só do intelecto, mas deve formar pessoas mais solidárias, sensíveis ao outro, com o lado materno da natureza menos eclipsado pelo aspecto paterno violento e exigente. A Unesco define educar como ensinar a criança a ser. As Constituições dos países, em geral, asseguram a liberdade de expressão aos adultos, mas não falam das crianças. São elas que mais necessitam dessa liberdade para se desenvolver como pessoas sãs, capazes de saber o que sentem e de se expressar. Se os pais se derem conta disso, teremos uma grande ajuda. Eles têm muito poder de mudança. 
( por flávia yuri oshima, revista época em 31/05/2015)
(*como sabemos, a educação - em todos os sentidos - piorou ainda mais)