1. “Vocês se entendam. Cheguem a um acordo, façam um brief, um só, depois venham conversar conosco”.
Dissemos isto, jogamos os layouts na mesa, fomos embora. Os dois representantes do Cliente, mais o responsável pelo atendimento ficaram ali, embasbacados.
Foi um desfecho dramático de um problema que vinha se arrastando há algum tempo e que esgotou nossa paciência. Mas valeu a pena.
A agência era a Thompson. O cliente, a Pepsi. Os criativos naquele momento malcriados, éramos Clício Barroso e eu.
Naquele ano, a Pepsi era conduzida, no Brasil, por dois grupos: um argentino; outro, venezuelano. Um cuidava da produção; outro, da distribuição. Ambos não se bicavam.
Então, vinham os argentinos, passavam um brief, a gente criava, apresentava, eles aprovavam, voltavam para Buenos Aires. Aí, vinham os venezuelanos, que desaprovavam o brief e em conseqüência a campanha, passavam outro, a gente criava, eles aprovavam, iam embora. Os argentinos voltavam para ver a nova campanha, diziam que o brief dos venezuelanos estava errado, desaprovavam a campanha, passavam novo brief, e tudo começava outra vez em um processo que não acabava mais. Então, botamos pra quebrar.
E deu resultado. Tivemos o apoio do presidente da agência, que se comunicou com Nova Iorque, que acionou a matriz da Pepsi, que botou os caras no trilho.
2. Estou perplexo. Vejo o setor de comunicação de marketing cada vez mais enfraquecido, com pressões de todo lado: vejo-me em uma profissão que não se defende, sequer para discutir a regulamentação de sua profissão; ouço um silêncio ensurdecedor das lideranças; não assisto uma única manifestação de força, de unidade, de defesa coletiva de princípios, coisa só possível em um Congresso capaz de reunir o maior número possível de profissionais brasileiros que atuam nas várias áreas – nas empresas de comunicação de marketing, nos anunciantes, nos meios de comunicação, nos fornecedores.
Vejo tudo isso e fico me perguntando: por que?
3. Vi esse mesmo tipo de angústia no artigo do Laudelino José Sarda, sob o título “O povo precisa reagir”, publicado dia seis último, no jornal A Notícia. Diz ele, entre outras coisas:
“Tudo isso decorre da passividade do povo, que desaprendeu a protestar, limitando-se a assistir à decadência dos poderes públicos, já um tanto desabituados à democracia. Os políticos se encastelam na corte, lançam-se às tramas do poder para acorrentar os votos e perderam a sensibilidade de ouvir a opinião pública”. (...) ... a maior ameaça ao futuro da Nação é o silêncio sepulcral do povo, que só verbaliza diante da televisão”.
Claro que Sardá abordou o momento que o país está vivendo. Mas particularize, pense no setor de comunicação de marketing. É ou não é por aí?
Felizmente, agora parece ter-se acendido uma luz no fim do túnel; tomara que não seja um trem vindo em sentido contrário.
4. Em S. Paulo, esta semana, foi lançado o Movimento Quero mais Brasil, uma tentativa de “mobilização popular por um Brasil Melhor”. Empresários, intelectuais, líderes sociais e personalidades dos meios artístico e esportivo fazem parte do movimento, que tem o apoio de mais de 120 entidades. Vão pregar e defender a ética em todas as atividades.
Tomara que nos sirva de exemplo.
5. Outro dia recebi, por e-mail, texto-reflexão a partir de convocação da Campanha da Fraternidade 2006. Fala de algumas das deficiências que carregamos, e as traduz assim:
. Deficiente – aquele que não consegue modificar sua vida, aceita imposições de outras pessoas ou do ambiente onde vive e convive, sem ter consciência de que é senhor/a de suas atitudes.
. Louco – quem não procura ser feliz com os bens que tem.
. Cego – quem não enxerga o seu próximo com frio, fome, sede, na necessidade e só vê seus problemas e sofrimentos, ass vezes imaginados.
. Surdo – quem não ouve o/a outro/a, os desabafos e apelos e anda sempre apressado/a para o trabalho ou para garantir seus reais.
. Mudo – quem não fala o que sente e se esconde atrás de máscaras, da hipocrisia.
. Paralítico – quem não anda ao encontro daqueles que precisam de ajuda.
. Diabético – quem não consegue ser doce/dócil, gentil, caridoso.
. Doente – quem pensa ser perfeito ou incapaz para o amor e se omite na acolhida do irmão.
. Manco – quem não se decide pela caridade e permanece entre o amor e o ter, prazer, poder.
. Anão – quem não cresce no amor.
. Miserável (a pior das deficiências) – quem não consegue falar com Deus e viver as bem-aventuranças.
Às vezes, na defesa de bons princípios, a gente precisa superar algum defeito e chutar o pau da barraca. Mesmo que isso a perda do signifique a perda do emprego ou de uma conta. Porque só assim mereceremos o respeito alheio. Quem sabe o Movimento Quero Mais Brasil nos inspirará
Tá com medo de que ?, do eloy simões, no www.acontecendoaqui.com.br
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