a coisa nem deveria ser colocada assim. carnaval maior do mundo x carnaval melhor do mundo. mas é assim que a estupidez consentida e induzida pela mídia nos leva a todos. a todos, vírgula.
claro que é indubitavelmente melhor ouvir alceu do que um bono vox encamarotado a papagaiar-se e ser papagaiado por uma bahia de peso morto, mais muito viva, em atos de carnaval enquanto essência e não cheiro(e cá pra nós, alceu é o senhor dos templários de todos os carnavais, cuja importância também não é dada. tratam alceu como um maluco-beleza, sem saber o que é uma coisa ou outra, muito menos as duas).
é claro que é indubitavelmente mais rico culturalmente falando ouvir naná vasconcelos do que carlinhos brown, ainda mais depois do seu manifesto tornado subserviente "meia hora" depois. registre-se que carlinhos é batuqeiro pra turista ver, enquanto naná não o é.
mas tambem que fique claro que nós não temos o maior carnaval do planeta como a propaganda governamental quer nos convencer, e não ao mundo, estranhamente seu alvo de persuasão. ou não ?
este propalação do maior carnaval do planeta ( o maior sempre acaba fazendo figura ao melhor) traz contíguo conceitos de multiculturalidade, pernambucaneidade, que longe de buscarem, como parecem, a construção da consciência da riqueza de conteúdos culturais vem sendo usados como elementos de dominação politica de um estado de miséria paroxística em que se tornou o leão do norte.
pernambuco, berço da nacionalidade - epíteto contestado por diversas correntes - herdou da sua grandeza geografica de capitania hereditária um ranço, que derivou a mania, derrota que de nós apossou-se.
o acadêmico villaça, agora presidente, registra em suas tiradas, que certa vez interpelado sobre a mania de grandeza dos pernambucanos, respondeu: - pernambuco não tem mania, tem grandeza.
e certo que sim, temos grandezas. mas as verdadeiras parecem estar escondidas por nós mesmos. o carnaval é uma delas, fruto de diversos equivocos, entre eles o de sua comunicação.
antes de trabalhar o carnaval baiano, a bahia trabalhou-se a si propria. não se pode dizer que foi um movimento oficial. mas o fato e que depois de tanto tempo sendo chacota tornou-se chic ser baiano. aliás qualquer chacota, como jamil, por exemplo, torna-se chic.
coloque-se num trio, que nasceu depois da visão enlouquecida do dôdo e osmar ao assirem a passagem de pernambucanos a " vassourar" a cidade, nomes como ivete sangalo, daniela mercury, sapeque-se no camarote um ministro gil, um caetano veloso que este ano veio ao recife - com quanto tempo de exposição? - convide-se uma xuxa, traga-se um bono, firme-se uma parceria com uma emissôra de televisão que do contrario nada teria a mostrar no carnaval e ja o tem amplificado para o mundo, ainda mais se o projeto tem continuidade.
de caso estrategicamente pensado ? talvez não no começo. mas agora o é. o carnaval da bahia tem muito mais volume embora tenha muito menos consistência do que o nosso, entendendo-se carnaval em todos seus conceitos antropo-sociológicos.
quanto a nós, a começar do ritmo oficial, a quem oficializamos um dia, mas que em nossas radios não toca nem isso, tampouco nas escolas, sabe-se, ensina-se ou aprende-se o que e o frevo, sua origem, suas diversas acepções e modalidades. mas queremos vê-lo como patrimônio cultural intangivel da humanidade.
o oportunismo nos rouba a sombrinha. dos cabloclinhos, dos maracatus, dos reizados, dos cavaleiros de lança, só sabemos a saturação de imagens fáceis em contextos esvaziados.
louva-se a nossa riqueza musical como a " maior do planeta ". mas não ha uma politica oficial de de desemvolvimento e soerguimento desta riqueza. não há meios de produção para a musica de qualidade - " estranhamente " há para o breguismo, mas ralo em comparação com as manifestações do calypso no pará, ou axé-musica na bahia, estados onde não só produzem-se como sustentam-se enquanto mercado -
nossos compositores morrem à mingua. vivemos de glórias por nós cultuadas em momentos parcos e solenes. na hora do pão com goiabada nem copos d´água temos.
mas claro, a propaganda oficial, alavanca a multicuralidade de polos, de pernambucaneidades dirigidas a uma grandeza na mídia que mina e comprime as nossas pequenezas. justamente, ironicamente, bolsão de onde tudo de origina e se esvai na busca dos 15 minutos dessa grandeza.
entre o fato e a versão, em temos de comunicação, temos uma batalha perdida pela falta de um projeto e de uma estratégia(que não consegue sequer reunir nossos nomes mais midiáticos para engordar o cordão do nosso bloco enquanto primeiro chamariz) que vise realmente o desenvolvimento - e não o crescimento de números por números - das potencialidades do carnaval pernambucano. recolhido do mundo justamente por uma ótica que quer fazer de cultura espetáculo em proveito de um corrente politica dominante. e não de um abre alas para que saiamos de trás para a frente, para ocupar a identidade da alegria que se perde em tramissões ralas de tudo.
e mais, se não me faço entender, na transmissão do galo, considerado nosso maior espetáculo, quantitativo, pois não? - ouvia-se uma conhecida música baiana em trios inseridos no rabo e no bico do galo a cantar a magia do carnaval da bahia.
e se mais não está dito, entusiasmadamente cantada e não só no refrão.
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