Duas notícias amplamente divulgadas pela grande imprensa, na semana passada, chamaram a minha atençao. A 1a veio dos EUA, mais precisamente da redaçao da revista Forbes, que registrou 16 brasileiros em sua tradicional lista dos bilionários - Blue Bus deu, leia aqui. Vocês sabiam que existem apenas 793 privilegiados que possuem uma fortuna superior a 1 bilhao de dólares no mundo? E que cerca de 2% deles sao nossos compatriotas? Pois é. Em 2005 eram apenas 8 os brasileiros nessa lista, a metade da marca deste ano. Os novos representantes do país nesta seleta lista sao empresários de marcas de sucesso, como Gol, Natura, AmBev, Cyrela e Grupo Vicunha.
Mas se os ultra ricos estao mais numerosos, os remediados também cresceram neste nosso país do futebol. Um estudo realizado pelos economistas Márcio Pochmann, Alexandre Guerra, Ricardo Amorim e Ronnie Silva provou, com fartura de dados, aquilo que muita gente já sabia - a classe média brasileira encolheu e empobreceu. Só para vocês terem uma idéia, entre 1980 e 2000, mais ou menos 10 milhoes de trabalhadores de classe média perderam o emprego no Brasil. Cerca de 70% dessas pessoas nao conseguiram mais recuperar o mesmo padrao de renda. Por isso, a classe média, que chegou a totalizar quase 1/3 da nossa populaçao economicamente ativa, ficou reduzida a 27% da PEA em 2000.
Houve downgrade mesmo dentro da classe média, de acordo com esta pesquisa, que por sinal virou livro (Classe média - desenvolvimento e crise), lançado na Bienal de SP. A classe média baixa cresceu de 44,5% para 54,1% do total. Já a classe média média caiu de 32,1% para 23,1%. Só a classe média alta ficou mais ou menos igual - passou de 23,2% para 22,8%.
O resultado todo mundo pode sentir. A classe média, para conseguir pagar despesas prioritárias, como habitaçao, saúde, educaçao e impostos, teve que cortar supérfluos e também gastos com entretenimento e cultura, por exemplo, ou apelar para o crédito. Apesar de algumas boas notícias, como acordos salariais acima da inflaçao, reajuste do limite de isençao para pagamento do IR e novos investimentos do Governo em ano eleitoral, o crédito deve continuar sendo o anjo da guarda do consumo em 2006.
Foi no mínimo curioso que essas duas notícias, de grande valor simbólico, tenham sido divulgadas na mesma semana. Apesar do Governo ter comemorado os tímidos resultados na reduçao da desigualdade e na queda do contingente de pobres no país, testemunhamos, por outro lado, a extensao do abismo que separa um punhado de endinheirados do exército de remediados. Uns e outros têm em comum o gosto pelo que é bom. A diferença, no entanto, é que a classe média hoje quer muito e pode pouco.
Classe media, ela quer muito e pode pouco, do marinho, no bluebus
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