Este artigo foi inspirado na notícia de que a Fischer América decidiu extinguir a área de Atendimento
Há 50 anos, no dia 1º. de fevereiro de 1956, um menino de 15 anos começava no seu primeiro emprego, como office-boy na filial brasileira de uma agência de publicidade que, historicamente, tinha inventado a Publicidade como categoria profissional: JWT. Endereço: Rua Boa Vista, 51, centro da cidade de São Paulo. Extasiado com aquele mundo novo, ele percorre os vários andares em que a agência estava instalada. Caminhando pelos corredores, chamou a sua atenção a palavra Media, escrita numa placa - mais tarde lhe explicarem o seu significado, plural latino de Médium, meio, e mais tarde, “naturalizada” como Mídia.
O menino não poderia imaginar que, depois de breve passagem pelo departamento de Expedição, onde ficavam os office-boys, ele mesmo iria se iniciar, profissionalmente, na Mídia. Mas no andar que percorreu a seguir, outra palavra mais acessível chamou a sua atenção: Representantes. O que significaria? Logo nas primeiras semanas ele percebeu que a palavra usada pra designar os representantes era Contacto, com esse c esquisito. Anos depois, o Contacto virou Homem de Atendimento (mulheres, em geral, ocupavam o cargo de secretárias, telefonistas,etc).
Para encurtar a história, aquele menino, o signatário, depois de breve passagem pela Mídia da JWT e depois Almap, migraria, definitivamente, para o Atendimento. Na época, um verdadeiro upgrade profissional, pois desde os primórdios da atividade publicitária em nosso país, até meados da década de cinqüenta, o Atendimento era a área de maior importância e prestígio dentro das agências de publicidade, exercendo hegemonia sobre as demais. Durante todo esse longo período, o Atendimento detinha o monopólio da ligação “Cliente-Agência”.
No Atendimento, fui testemunha da evolução técnica da Criação nos anos setenta. Logo a seguir, da evolução técnica da Mídia. No final da década de setenta (1978) a área de Atendimento reconhece que estava ficando para trás e procura também o caminho da qualificação técnica. Sinalizando essa nova consciência, cria o Grupo de Atendimento em São Paulo para congregar os profissionais da área.
Em abril de 1978, no III Congresso Brasileiro de Propaganda, o Grupo de Atendimento apresenta uma tese sobre a necessidade imperiosa de reciclar-se a área e de atribuir-lhe novos papéis profissionais, sob pena de ter a sua importância cada vez mais questionada pelos outros companheiros. Visto por outro ângulo, também eles são Atendimento, uma vez que a essência do nosso negócio é atender o Cliente.
Que novos papéis o Atendimento reivindicava em 1978 para estar à altura da Criação e da Mídia?
Vale reproduzir aqui as seis conclusões propostas na tese apresentada pelo signatário em nome do Grupo de Atendimento de São Paulo no III Congresso e que deveriam nortear o comportamento dos profissionais da área nas quase três décadas que nos distanciam daquele evento máximo da categoria, momento histórico da Publicidade Brasileira.
1ª. Conclusão:
O Profissional de Atendimento precisa estar preparado profissionalmente para uma nova era de intensa competitividade comercial dos Clientes e conseqüente elevação do grau de exigência profissional das Agências e do setor de Atendimento em especial;
2ª. Conclusão:
O Profissional de Atendimento será convocado, já nos próximos dez anos, a assumir, gradativamente, um novo e importante papel junto aos seus Clientes na medida em que as técnicas e procedimentos de Marketing vão sendo assimilados e mais amplamente aplicados pelas empresas ainda infensas a essa mentalidade comercial;
3ª. Conclusão:
O novo Profissional de Atendimento será mais capacitado tecnicamente na medida em que ele continuará a ser o principal Assessor do Cliente na área de Comunicação;
4ª. Conclusão:
O Profissional de Atendimento deverá aprimorar-se nas técnicas de Planejamento, pois esta função é, historicamente, uma função inalienável do Atendimento;
5ª. Conclusão:
O setor de Atendimento defende o princípio de que o trabalho dentro da Agência é atividade essencialmente de equipe. Coerente com essa postura, rejeita quaisquer tentativas de hegemonia de uma ou outra área da Agência;
6ª. Conclusão:
A exemplo de outras categorias (áreas técnicas), o Atendimento acredita ser legítima e válida a união dos elementos da área em torno de uma entidade representativa. No caso dos profissionais de Atendimento [de São Paulo] essa entidade, embora incipiente, é o Grupo de Atendimento, que precisa ser fortalecido em benefício do próprio setor.
Para finalizar: não acredito na extinção da área de Atendimento das Agências de Publicidade. Em primeiro lugar porque é preciso um profissional generalista para coordenar internamente o trabalho dos especialistas – Criação, Mídia, Produção,etc. E aqui vale lembrar aquele argumento incontestável de que o Atendimento é como um Maestro de uma Orquestra: ele não precisa tocar todos os instrumentos, mas precisa conhecê-los, ter o domínio dos mesmos.
Em segundo lugar, no meu entendimento, o Atendimento não poderá ser extinto ou substituído em suas funções por uma razão muito simples: nem o Planejamento e muito menos a Criação têm vocação e condições efetivas de coordenar a miríade de fios que interligam a relação Cliente-Agência.
Quanto à necessidade, cada vez mais imperiosa, de reciclagem, de aprimoramento técnico-profissional, as seis conclusões de 1978 reproduzidas acima merecem, de parte dos inovadores e dos profissionais de Atendimento, apesar do tempo decorrido, ao menos uma leitura e reflexão.
O Atendimento não morreu. E nunca morrerá. por " Chico" Francisco Socorro, Ex Profissional de Atendimento, hoje Consultor de Comunicação e Marketing
Observação do autor:
A denominação Homem de Atendimento, do texto original da tese apresentada no III Congresso em 1978 foi substituída neste artigo pela expressão Profissional de Atendimento, cargo hoje ocupado, majoritariamente, por competentes mulheres.
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