Quero já anunciar um prêmio “hors concours”, atribuído por mim mesmo, nada democraticamente, a um case de derrapada que dou como exemplo neste site e cuja performance não conseguiu e dificilmente conseguirá ser suplantada por qualquer dos cases de empresas privadas que analisamos em nossa coluna.
Trata-se da propaganda do governo federal, particularmente a feita com a utilização do slogan “O melhor do Brasil é o brasileiro” e aquela,transformada em “posicionamento” e metralhada sobre nós a qualquer pretexto: “Brasil, um país de todos”.
Claro, trata-se de um tema político, mas trata-se também de um problema de marketing, já que conceituados marketeiros aceitaram botar para funcionar suas criatividades para criar conceitos, imagens e mensagens que, inicialmente, viabilizassem a eleição de Lula e posteriormente dessem credibilidade a tudo o que este e seu partido viessem a fazer na seqüência, visando, obviamente, a sua continuidade (eternização?) no poder.
Quando um de nós, marketeiros, assume a conta de uma empresa comercial e cria argumentos para destacar seus " pontos de venda” e seus diferenciais positivos em relação à concorrência, nada mais está fazendo do que o seu trabalho normal. Não há preocupação ética na cabeça de um publicitário quando ele afirma que uma cerveja, um banco ou uma companhia aérea é o melhor de todos. Não cabe a ele tomar a cerveja, abrir conta neste banco ou viajar por esta empresa aérea para checar se realmente o que ele diz é a verdade absoluta, pois o publicitário apenas “doura a pílula” ou embala um produto ou serviço com palavras e imagens capazes de convencer sua audiência. Se, posteriormente, os fatos demonstrarem que os concorrentes eram melhores, paciência: os melhores venceram. C’est la vie.
Quando, contudo, um marketeiro assume a responsabilidade de vender um “produto” político, sob a forma de um candidato, um partido ou, mais do que isso, um projeto, a coisa é bem diferente. Primeiro porque o que pode acontecer em função disso afeta a todos no país e não apenas aos bebedores de cerveja. E segundo porque, ao criar este “teatro” que pode levar um homem, um partido, ao mais alto cargo da nação, assume-se também uma responsabilidade política. Ao adotar como slogan nacional o “Brasil, um país de todos”, os marketeiros responsáveis ofereceram ao atual governo federal uma poderosa arma de enganação política, pois ela passa a idéia de que, sob este governo, as diferenças já não existem mais e " todos" estão no poder. Como se o socialismo, a pretensa ideologia do PT, já estivesse implantado no país. Quando, ao contrário, o que “todos” nós sabemos é que o projeto deste partido era (e ainda é) o de aparelhar o Brasil como um todo e fazer dele o país “deles”, à moda stalinista.
A campanha “O melhor do Brasil é o brasileiro” pretendeu exemplificar esta pressuposição populista de que o “povão”, de certa forma, é o herói e está por cima. E fez apelo a um slogan que poderia perfeitamente ter sido usado há trinta anos, pela ditadura, da mesma forma que o “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Sim, porque o conceito do " mehor do Brasil" embute um viés de patriotada que não poderia ser mais “derrapante” num país que foi e é formado essencialmente de imigrantes. Será que alguém parou, no mínimo, para pensar no sentiriam os japoneses, italianos, paraguaios e tantos outros imigrantes ao ouvir esta frase de conteúdo xenófobo subjacente? Digo “no mínimo” porque certamente osarquitetos desta campanha não pensaram na pergunta automática que todos fariam se viesse um dia à tona uma pequena fração sequer do projeto de pilhagem a que submeteram o Brasil: se o melhor do Brasil é o brasileiro, o que pode ser o pior senão o próprio governo?
Se ajudar políticos a montar uma farsa não fosse algo que se pudesse condenar aos marketeiros, então Joseph Goebbels, o ministro da propaganda da Alemanha nazista, teria sido um “técnico” ou publicitário inocente, assim como todos aqueles que o assessoraram e ajudaram a criar os mitos que justificaram a barbárie.
Acham que estou exagerando na crítica? Ainda bem que (espero!) o desmascaramento da farsa brasileira possivelmente nos livrará de ver todas conseqüências que viriam. As tentativas (felizmente frustradas) de amordaçar a imprensa, a justiça, o ministério público e, por outro lado, os crimes, ao que tudo indica cometidos pelo que eles consideram como a “boa causa”, já deram uma boa prévia do que poderia vir pela frente, como milícias armadas de sem-terras ou sem-qualquer-coisa, movidos por uma ideologiafanática, à semelhança dos montados hoje pelo " comanheiro Chavez " e outrora por Hitler e Mussolini. Sim, corríamos o perigo de um fascismo verde amarelo. E os marketeiros que colaboraram com este governo derraparam feio, com a lama espirrando por todo lado e comprometendo a imagem da profissão. Vamos torcer para que todos tenhamos aprendido esta lição para 2006.
Até a próxima.
silvio lefèvre , no seu derrapadas de marketing.com.br
in tempo: duda mendonça nunca teve uma performance tão óbviamente medíocre como nas peças produzidas para esta presidência do PT. previsíveis, entediantes, datadas, formatadas e encharcadas de um ideologia ruminante, constitui-se também numa das faces mais pobres deste governo. se quem sabe faz a hora não espera acontecer, a comunicação social de duda lula ficou pra lá de choca. praga ou vingança dos galos ? esta opinião já havia sido expressa antes do paper do sílvio, no post briga de galo, publicado na sexta-feira 13 de maio de 2005.
in tempo 2: a questão da não-obrigação ética colocada pelo articulista, embora raríssimamente vez esteja ele errado, também não é bem assim. publicitários ha em contraponto que por questão ética ou ideológica recusaram-se a fazer campanhas, o que será abordado aqui mais cedo ou mais tarde. ainda que a quase totalidade do mercado considere-se isso equivocada brotoeja ideológica de rompante. mas por exemplo, fazer publicidade do total shape, nem fudendo. produto reconhecidamente picareta ganhou a mao grande do oscar e o sorriso de bebê do giovane. santa inocência ou foram-se abaixo seus valores pelo valor do cachê ?
finalmente, quanto ao melhor dos brasileiros, o que é mesmo ser brasileiro? drummond explicaria isso quando disse que o brasil está cheio de sí ? e dos brasileiros ? e olhem quem ele nem chegou a ver esta melhoria.
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