1. As três duplas olhavam pra mim atônitas.Tinham passado o dia tentando criar uma campanha que valesse a pena, e eu havia recusado todas as sugestões – sentia a falta de uma grande idéia. Era madrugada, já, e o relógio não nos dava sossego. A reunião para apresentação do trabalho estava marcada para as cinco da tarde daquele dia, e a gente estava empacada. Eu podia ver, nos olhos da equipe, um misto de angústia e ódio. Contra mim, claro.
Aí aconteceu.
O estagiário, que desde a manhã do dia anterior acompanhava e tentava participar daquele esforço, disse timidamente, quase em um sussurro: “e se....”
Quando completou a sugestão, as duplas explodiram de alegria. Primeiro, uma. Depois, outra. Finalmente, todas. “É isso aí!”, alguém gritou. A partir dela, o trabalho deslanchou. Em pouco tempo, eu tinha em mãos três grandes campanhas e a gratidão dos criativos por tê-los feito sofrer daquele jeito, mas em compensação, lhes proporcionado a oportunidade de sentir aquela euforia que somente os verdadeiros criativos conseguem sentir.
2. Esta semana repeti um exercício que volta e meio costumo fazer. Peguei as edições das últimas oito semanas de Veja e Isto é,e me fixei nos anúncios. Com calma, analisei todos. E sabe o que vi?
3. Vi um deserto de idéias. Títulos que nada tinham a ver com a ilustração e vice-versa – parece que redatores e diretores de arte nunca se encontraram. Um monte de palavras ônibus despejadas de qualquer maneira. Layouts confusos, como se os diretores de arte tivessem se especializado em agredir a inteligência e o bom gosto dos consumidores. (Para não ser injusto: faço uma única exceção, a da campanha criada para Isto é, com layouts de grandequalidade, que lembram outra campanha criada de anos atrás para Chivas). O resto, desculpem-me os criativos, é lixo. Lixo puro.
Os autores desses trabalhos não sentiram, tenho certeza, a emoção que a gente sentia, diuturnamente, por um trabalho bem feito.
4. Se não sentiram, deviam experimentar. Vai ser bom para eles. E ótimo para a publicidade, cujos resultados têm sido tão criticados ultimamente.
curto e grosso, do eloy simões, esta semana no www.acontecendoaqui.com.br
Um comentário:
criação é, também, sempre um momento de angústia. ao mesmo tempo, é um exercício que aguça sua sensibilidade. quanto mais se cria coisas boas, mais exigente você será com as próximas idéias.
talvez resida aí a explicação para o lixo em excesso detectado pelo autor.
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