1. As novas tecnologias produziram, no meu entender, um enorme, excessivo incremento da circulação da palavra, uma inflação da comunicação, tanto oral quanto escrita, e contra isso a literatura tem de lutar, hoje. Não creio que os novos suportes eletrônicos possam modificar a natureza da arte da palavra, como, aliás, não aconteceu substancialmente no passado, por exemplo, com a invenção da imprensa. Se há novas possibilidades na evolução da música e das artes visuais, isso ocorre porque o som e as imagens são digitalizáveis, decomponíveis em unidades mínimas, enquanto a palavra tem a soleira do significado que não se pode superar (ultrapassar). Sondar as soleiras do significado das palavras e de seus conjuntos é a tarefa da literatura, da poesia. Mas os significados não são quantitativos, portanto, não são digitalizáveis, e isso afasta a influência nociva do meio eletrônico, na esfera da palavra. Os experimentos que eu fiz se referem, ao contrário, as possibilidades combinatárias do computador que, porém, são apenas uma extensão e uma agilização das manuais. Penso, então, que, no que diz respeito a palavra, o meio não é a mensagem. (Nanni Balestrini, poeta, romancista plástico, um dos fundadores do Grupo 63, lançador dos poetas Novíssimi, início dos aos 60, em entrevista publicada domingo 22, no O Estado de S. Paulo).
2. Outro dia divulguei, neste site, artigo em que manifestava minha decepção com os anúncios publicados nas edições de novembro e dezembro das revistas Veja e Isto é. Um lixo, classifiquei. A entrevista do Nanni, que você devia ler na íntegra, deu-me vontade de voltar ao assunto. E voltar a reiterar o que há anos venho afirmando: o computador e a internet estão matando a criatividade da comunicação de marketing.
Infelizmente, redatores e diretores de arte estão se esquecendo de que antes de finalizar uma mensagem é preciso cria-la. E de que criação nasce na cabeça, não no computador. Nem na Internet.
3. O jargão publicitário tem uma frase para indicar o anúncio copiado: é chupado. E ninguém gosta ou não deveria gostar - de ganhar o apelido de chupador de idéias alheias.
Hoje a chupada se tornou mais sutil, porque as peças de comunicação de marketing saem do computador ou da internet. Ou melhor: se no conceito anterior chupava-se, em geral, boas idéias dos outros, hoje não se dá a esse trabalho. Pega-se uma imagem da internet, coloca-se nela um monte de lugares-comuns, e pronto. Fez-se a chupada. Quem faz assim tenta, embora nem isso consigam, chupar do mesmo jeito.
4. Claro: já se observam, hoje, alguns (pouquíssimos, por enquanto, infelizmente) diretores de criação estão preocupados com o que está ocorrendo. Mas ainda vai levar um tempo para reverter esse processo. Não sei se estarei vivo para assisti-lo.
De qualquer forma as agências têm uma grande responsabilidade nisso. Cabe a elas fazer com que as coisas aconteçam mais rapidamente. Até porque se não agirem assim , continuarão jogando o seu maior diferencial. Aquilo que nenhum cliente consegue fazer com maestria: a criatividade.
a tecnologia e a idéia, do eloy simões a quem, qualquer dia, vou ter de pagar royaltes. ainda mais agora ao completar-me num coro em que não estou sozinho.
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