“Duas afirmações, feitas por deputados federais durante a audiência pública “Debater e avaliar questões relativas aos limites legais para a regulamentação da propaganda comercial”, são emblemáticas para explicar algumas das circunstâncias desconfortáveis vividas pelo nosso negócio. A primeira delas é a de que, embora tivesse mais de quinze anos de legislatura, o deputado que a proferiu nunca ouvira falar do Conar, para espanto do nosso companheiro Gilberto Leifert. A outra, feita por um deputado que apareceu ao final da seção, mas que acabara de participar de uma reunião na Comissão de Saúde da Câmara, e que carregou nas tintas:com o olhar fixado em nós, membros da mesa e representantes de diversos órgãos da publicidade e da mídia, recomendou que “não nos preocupássemos com as providências que seriam tomadas para restringir a propaganda de bebidas alcoólicas na salvaguarda da saúde pública, pois, de um jeito ou de outro, continuaríamos ganhando o nosso dinheirinho”. Será fácil acusar o primeiro de alienado e o segundo de, no mínimo, indelicado. Fácil, porém inútil. Será apenas mais uma reação corriqueira às diversas acusações de que os publicitários são objeto, desde que a profissão e o negócio são percebidos, como cheios de glamour e bem remunerados, além de socialmente descomprometidos.
(...) Eis que sopram ventos novos e nos vemos num ambiente muito mais questionador e administrado por gente disposta a nos encarar. Não seria nada demais se nossos “inimigos” não fossem homens e mulheres conduzidos por uma percepção exageradamente negativa a nosso respeito, percepção essa construída paulatinamente, por anos a fio, em suas mentes, por nós mesmos. Antes dos outros serem injustos conosco, nós fomos e temos sido injustos conosco há muito tempo. Fomos injustos ao acreditar, por exemplo, que o Conar é um órgão consagrado pela opinião pública.Não é. Não porque não mereça, pois se trata do resultado de um trabalho primoroso e modelar, inclusive para outros países, mas que, no Brasil, não teve sua imagem suficientemente trabalhada para ganhar toda a admiração e todo o respeito que por justiça lhe cabem. Portanto, em vez de gastarmos energia atribuindo desinformação a um depoimento que nos aborrece, mais conveniente seria o exercício de uma autocrítica que gerasse providências imediatas na construção de um valor de marca para o Conar, técnica que nos é tão familiar mas que, neste caso, parece que vivemos em casa de ferreiro.Fomos injustos conosco, também, quando criamos as condições ideais para um deputado nos apontar o dedo e acusar-nos de estarmos ali,naquela audiência, para defender o nosso “dinheirinho”. Décadas de ostentação e exibicionismo forjaram em nós essa máscara de prosperidade alienada, essa imagem de ilha da fantasia desenhada nas colunas sociais, não obstante a contribuição incomensurável da publicidade...
3.O texto que reproduzi aqui e que você, se teve paciência, acaba de ler, foi extraído do editorial escrito por Stalimir Vieira para o Jornal Propaganda & Marketing com data de capa de 29 de outubro último.
Quis traze-lo à sua apreciação porque ele reflete o triste momento em que vive a publicidade brasileira perante a sociedade. Pena que Stalimir não tenha ido mais fundo. Se fosse, teria de apontar os culpados da situação, entre os quais eu não me incluo.
Culpada é essa geração vitoriosa de empresários da publicidade que aí estão, e que não mexe uma palha para defender o nosso negócio. Estão, sim, - e nisso o deputado citado pelo Stalimir tem razão – preocupados, apenas, em ganhar seu rico dinheirinho. Faço, aqui, uma única exceção: a da Cristina Carvalho Pinto, que vocacionou suas agências para a área da responsabilidade social.
Culpada é a imprensa publicitária que, em sua maioria, sem a menor consciência crítica, conformou-se em ser uma mera reprodutora de press release.
Culpados são os publicitários que, preocupados em garantir o uisque nosso de cada dia, só abrem a boca para fazer oba-oba. Limitam-se a dizer amém a tudo.
Mas as maiores culpadas, mesmo, são as duas maiores entidades do setor: a Abap e a Fenapro. A primeira porque, durante décadas, amordaçou a publicidade e os publicitários. A segunda porque ao longo de todos esses anos, tem-na seguido cegamente. Ao vetar, durante décadas, a realização do Quarto Congresso do setor, não lhes permitiu, soltar a voz. Ou, para usar a expressão do Stalimir, “o exercício da autocrítica”.
4.A crítica chega em boa hora. Primeiro porque é feita em um Jornal de grande penetração entre empresários da publicidade e publicitários, Segundo porque ela é de autoria de um diretor da Abap.
Tomara que ele esteja sendo sincero no que escreveu, porque se for brigará, dentro dessa entidade, pela oxigenação do setor, no tão sonhado Congresso.
(excerto do artigo do eloy simões que não desiste, ao contrário da maioria que já entra na profissão desistente)
Nenhum comentário:
Postar um comentário