O jornal virtual Montbläät, editado pelo jornalista Fritz Utzeri, reproduziu a minha recente coluna "Eterno fim de semana ou eterna magia?”, em que comentei a campanha da SulAmérica, colocando em dúvida as suas promessas atuais para o plano de previdência (com base no não cumprimento das promessas anteriores de seguro de vida). Nesta coluna, recorde-se, eu gentilmente poupei o ator Vladimir Brichta, que apresenta o produto da seguradora, assumindo sua provável “inocência” em relação às promessas que faz no comercial em nome do anunciante.
Pois bem. Em nota publicada juntamente com meu artigo, o editor Fritz Utzeri escreve:
“A respeito do artigo acima, se fosse legislador tornaria os artistas, esportistas, gente célebre, formadora de opinião – que anuncia coisas, e ganha um bom dinheiro para recomendar a compra disto ou aquilo, o empréstimo consignado, mesmo ao aposentado que já pediu dinheiro em outras partes e tantas outras fajutices – co-responsáveis pelo que anuncia. Lembro-me de Pelé garantindo um prédio “a caminho do mar” no Rio Comprido! Ídolos como Pelé têm fé pública e podem induzir decisões de compra (no caso, o empreendimento era tão fajuto que o tal prédio, pelo jeito, tomou mesmo o caminho do mar e afundou, pois jamais foi construído) e depois, quem comprou que fosse brigar na justiça.”
Fritz está certíssimo e me convenceu de meu erro, motivado por minha boa fé: Brichat não pode ser “presumido inocente”, como dizem as legendas mal traduzidas dos filmes americanos. Os eventuais futuros lesados pelo produto que ele anuncia deviam mesmo poder processá-lo por cumplicidade com a empresa anunciante, caso esta venha a descumprir o prometido. Ou, pior ainda, como agente primeiro num tipo de proposta que eventualmente possa vir a revelar-se uma versão “estilosa” de conto do vigário: ou seja, aquela que faz propaganda enganosa, vende gato por lebre, tenta (e consegue) ludibriar o consumidor, visando tirar vantagem. Fosse eu também um legislador, apoiaria de imediato o projeto de lei do colega Fritz.
Estou certo de que, desta forma, atores e outras celebridades pensariam duas vezes antes de se dispor a fazer o papel de garotos(as) ou não tão garotos propaganda de certas operadoras de telefonia que anunciam planos mentirosos, de certos bancos que se apresentam como verdadeiras mães dos clientes (quando sabemos que são piores do que aquelas madrastas dos contos de fadas), de certas companhias aéreas que apregoam seus maravilhosos planos de milhagem e depois não deixam utilizar as milhas, de certos planos de saúde que são mostrados como paraísos na terra mas na hora da verdade se revelam um inferno, e por aí vai...
A meu ver e com base na minha experiência em planejamento, se um produto (ou serviço) é bom e honesto, ele pode e deve ser anunciado e vendido por seus próprios atributos, por seus próprios benefícios. Se a agência de propaganda sugere ao cliente a utilização de um “endosso” ou testemunhal de uma celebridade, geralmente é porque os argumentos de venda fornecidos no briefing do cliente não lhe pareceram suficientes para vender o produto. Pior ainda quando a imagem pública da empresa anunciante e por vezes de todo um segmento de atividade é péssima. Aí então é que alguma celebridade é vista como essencial para fazer o “milagre” de, como dizia o meu chefe na Abril, o grande Pedro Paulo Poppovic, “transformar m... em mousse de chocolate”.
Se a agência sugere e o cliente concorda em contratar uma celebridade para recitar um script que (eles sabem!) é tendencioso ou simplesmente mentiroso, eticamente falando todos têm culpa em cartório. A propaganda enganosa é proposta e planejada pela agência, aprovada pelo cliente e “executada” pela celebridade, a quem cabe na verdade a principal tarefa: convencer o consumidor de uma mentira, utilizando para isto a sua imagem pessoal, a sua credibilidade. Sob este aspecto, talvez, o principal agente causador do prejuízo ao consumidor enganado é a celebridade que, ainda por cima, é regiamente paga para perpetrar uma enganação pública.
Como nem Fritz nem eu somos legisladores, por ora só posso sugerir aos que o são que ouçam a nossa voz da razão e apresentem este projeto. E enquanto aguardamos a sua tramitação e futura aprovação... aqui vai a minha sugestão aos consumidores: desconfiem de imediato de qualquer propaganda que tenha uma celebridade anunciando ou garantindo alguma coisa.
Se os personagens de um comercial forem profissionais desconhecidos, simplesmente representando o papel de consumidores, aí tudo bem, nada contra. Mas se for alguém muito conhecido, tentando transferir sua fama e eventual simpatia para algum produto ou serviço, que botem as barbas (ou cabeleiras femininas) de molho em relação ao que eles anunciam.
E caso, no passado, tenham adquirido alguma coisa acreditando em promessa feita por uma celebridade e depois não cumprida pelo anunciante, que já comecem a juntar as provas para uma futura ação indenizatória na justiça, contra ambos.
Faço exceção apenas para a propaganda política pois, neste caso, se uma celebridade deseja dar seu testemunhal (gratuito) para este ou aquele candidato ou partido, eu acho totalmente válido. Até porque a celebridade sabe que terá sua imagem marcada e será “responsabilizada” politicamente (e também profissionalmente) pela posição tomada. Que o diga a namoradinha do Brasil, a nossa Regina Duarte, que foi tão estigmatizada por dizer que “tinha medo” e que até hoje não teve o reconhecimento formal de que estava certíssima, mesmo depois de ficar provado que seus temores eram até muito moderados em relação ao que acabou ocorrendo.
(quem endossa responde, do sílvio lefèvre, para o propaganda e marketing).
Um comentário:
Acho que o consumidor desconfia de qualquer coisa. Seja com celebridade apresentando ou não.
Afinal de contas eles estão vendo propaganda (se é que eles estão realmente vendo)
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